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Um tributo estrelado a David Bowie chega ao Brasil. Vale a pena?

Combate Rock

30/07/2018 06h30

Marcelo Moreira

Persistem mundo afora as pragas das chamadas "bandas tributo", que nada mais são do que grupos que fazem covers (versões) de determinados artistas. A coisa se profissionalizou a tal ponto que Beatles, Queen e Pink Floyd têm as suas bandas covers oficiais, aprovadas pelos membros originais vivos.

É o caso, por exemplo, do Queen Extravaganza, projeto endossado e apoiado por Brian May e Roger Taylor – e que tem como vocalista atual o brasileiro Alírio Netto.

Já o Australian Pink Floyd é reconhecido pelos ex-integrantes vivos do grupo como o melhor cover da banda no mundo. E quem não se lembra do Dio Disciples, formado por ex-músicos que acompanharam Ronnie James Dio?

Um projeto parecido com este último chega ao Brasil neste segundo semestre para homenagear David Bowie. Recheado de ex-colaboradores do cantor inglês morto em 2016, "Celebrate David Bowie" tem como grande atração o guitarrista e vocalista Adrian Belew – o que, por si só, já valeria assistir ao show.

Mas a pergunta que fica é a seguinte: apesar da presença do ótimo Belew, continua sendo um evento estrelado por banda de covers. Vale a pena gastar seus tostões com uma banda cover estrelada, mas ainda assim uma banda cover?

O Brasil foi descoberto há alguns anos por esse tipo de banda, que difere de grupos de bailes de formatura por conta da grife e, como já mencionado, do reconhecimento, em alguns casos, dos integrantes originais ou oficiais das bandas "tributadas".

Como o nome do evento diz, é uma celebração à obra de Bowie, portanto, não espere nada de diferente, a não ser por um ou outro arranjo mais ousado, mas marginal. Por conta disso, cover por cover, mas com algo mais, que tal uma olhada no YouTube, e depois ao vivo, no projeto brasileiro Blues Beatles, que realmente é diferente?

"Celebrating David Bowie" terá, além de Adrian Belew, que integrou por muitos anos o maravilhoso King Crimson,   Angelo Moore, vocalista e saxofonista da banda americana de ska e funk metal Fishbone.

Criado e produzido pelo produtor americano Angelo "Scrote" Bundini, "Celebrating David Bowie" está em turnê desde a morte do artista, em 2016.

A lista de músicos desta passagem pela América do Sul inclui, além de Angelo Bundini, Adrian Belew e Angelo Moore, o músico australiano Paul Dempsey (guitarrista e vocalista da banda Something for Kate), o saxofonista Ron Dziubla, o baixista Anthony 'House' Chaba (da banda Ben Wa) e o baterista Michael Urbano (da banda Smash Mouth).

Disputa em tempos de crise

O fenômeno não é apenas brasileiro. A gritaria é geral de músicos que têm trabalho autoral, mas sem público. Não deixam de ter a sua razão ao constatar a preferência do público, que opta por shows internacionais caríssimos ou por bandas cover com status de atração internacional.

É uma distorção do mercado? Pergunte isso a quem se esbalda em apresentações de um Australian Pink Floyd ou do Celebrating David Bowie, mas é incapaz de sair de casa de pagar R$ 20 para ver uma banda nacional de rock autoral, muitas vezes de amigos próximos.

"Ninguém tá a fim de escutar música desconhecida ou de banda ruim autoral. As pessoas querem sair, se divertir e não querem pensar. Hoje em dia é assim. Claro que isso me incomoda, mas o fato é que banda de rock autoral, por melhor que seja, não traz público – na verdade, afasta cliente. As bandas cover, mesmo as ruinzinhas, ao menos não afastam ninguém, já que tocam as velhas babas de sempre e acabam agradando", afirma um experiente empresário de Santo André.

Ex-músico da noite e apaixonado por classic rock, pede para não ser identificado. "É muito chato ter de dizer não para muitos amigos de tantos anos, e bons amigos. Eles ainda são puristas, acreditam que arte tem de vir acima de tudo. Respeito essa visão e às vezes os invejo, mas o fato é que hoje sou dono de um bar que toca música leve, soft rock, e pop, e administro outro que toca sertanejo, pagode, funk e por aí vai. Bani as bandas autorais dos dois, pois espantavam a clientela.

"Houve um tempo em que eu tocava bastante na noite, e sempre de quarta e quinta com minha banda de rock e de blues autoral", conta o fotógrafo Nico Seixas. "Teve um tempo, mais recentemente, em que eu tocava cada vez mais, só que ganhava cada vez menos. De uns três anos para cá a coisa foi 'miando' e hoje tive de parar de tocar baixo. Ninguém dá a mínima para a música autoral e tem banda cover ruim que aceita tocar de graça, em troca de cinco cervejas. Me recuso a pagar para tocar."

Há quem diga que o público se "mediocrizou" e prefere ficar na zona de conforto, sem ter de aceitar algo diferente ou ousado. "Essa galera está ficando como nossos pais, que ouvem o básico do básico e torcem o nariz para algo que fuja de Roberto Carlos, Jair Rodrigues ou de um sertanejo mais animadinho", brincou recentemente um renomado guitarrista de rock paulistano (não revelo o nome porque a declaração foi dada em um papo informal à mesa de um restaurante, após um show).

Ainda estamos para entender esse fenômeno das bandas internacionais de covers que fazem sucesso e atraem grande público no Brasil, que não paga barato para vê-las.

Há aquelas explicações superficiais de sempre – entre elas a que dá conta de que não passa de mero saudosismo de um público pouco disposto a arriscar.

Faz sentido até certo ponto, mas certamente há explicações mais densas para tal fenômeno – curiosamente, o público que assiste a tais espetáculos e despreza artistas autorais de qualquer gênero musical tem dificuldade de explicar suas opções.

De qualquer forma, ver Adrian Belew, um mestre da guitarra, ainda que engessado a um repertório de um artista com o qual ele pouco tocou, é melhor do que nada. Trata-se de um músico extraordinário e um nome muito importante do rock e do rock progressivo.

É pouco para sair de casa para ver uma banda tributo? Se a resposta é sim, então é um bom começo para que você retome o hábito de prestigiar bandas de rock autorais, sejam nacionais ou internacionais, de portes pequeno e médio.

Serviço:

DATA: 19 de outubro 
LOCAL: Auditório Simón Bolívar – Memorial da América Latina 
ENDEREÇO: Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 – Portão 13 – Barra Funda – São Paulo/SP
HORÁRIO: Abertura da casa: 19h00 / Início do show: 21h00 
INFORMAÇÕES: www.poploadgig.com 
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 18 anos 
CAPACIDADE: 1.800 pessoas 
INGRESSO: R$80,00 a R$500,00 
PONTOS DE VENDA: Cine Joia @ Praça Carlos Gomes, 82 (próximo ao Metrô Sé e Liberdade). Funcionamento de segunda-feira a sexta-feira, das 10h às 14h e das 15h às 18h.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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