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O rock alivia? Pergunte a Casagrande, um dos personagens do ano

Combate Rock

17/07/2018 07h00

Marcelo Moreira

"A melhor coisa da Copa do Mundo da Rússia." "Precisamos pensar muito sobre o mundo que deixaremos para o Casagrande."

Essas são algumas das frases usadas em memes sobre a declaração surpreendente e comovente de Walter Casagrande Júnior, ex-jogador e atual comentarista da TV Globo, sobre o fato de manter a sobriedade em um evento gigantesco e estressante.

Não é de hoje que o corajoso ex-jogador fala aberta e publicamente sobre o seu vício em álcool e drogas e suas incessantes tentativas de superar o problema.

Para alguns, mero oportunismo e forma de usar o sensacionalismo para aparecer. Para muitos, é um importante exemplo de combate a graves doenças e, principalmente, de que é possível vencer e superar.

Sem medo de mostrar que é um sobrevivente, Casagrande comentou ao final da transmissão do jogo França e Croácia, a final da Copa da Rússia, que aquele evento era o mais importante de sua vida, pois tinha como objetivo chegar sóbrio, ficar sóbrio, trabalhar sóbrio e voltar para casa sóbrio. Chorando, era comemorou a conquista do objetivo.

E o rock ainda é parte importante da trajetória triunfante do Casão ex-dependente químico. Sempre que pode, em entrevistas ou comentários esparsos, faz questão de mostrar sua paixão pelo gênero musical, que o ajudou a suportar as crises de depressão e os momentos solitários, "quando eu me sentia um bosta", nas palavras escritas em ótima entrevista publicada pela revista Placar há sete anos, de autoria do jornalista Paulo Guilherme.

Casagrande (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Janis Joplin, Beatles, Rolling Stones e Raul Seixas são alguns dos grandes amigos e companheiros que ajudaram Casagrande na difícil missão de superar os dramas causados pela dependência química. Já dizia a letra e nome de importante álbum do Made in Brazil, "Deus Salva, e o Rock Alivia"!

Ficou famosa a declaração do ex-jogador, ainda um jovem centroavante do Corinthians, nos anos 80, dizendo que era frequentemente parado por policiais militares – as indefectíveis "batidas" ou "gerais" – por conta do cabelo comprido e da camiseta com a estampa da rainha Janis. "E olha que na época o negócio era mesmo só a cervejinha e olhe lá", disse o jogador rindo em entrevista ao extinto Jornal da Tarde.

Casagrande era uma exceção dentro futebol: além de gostar muito de rock, era politizado e adorava uma boa discussão. Ao lado do amigo Sócrates, médico e amante de MPB, fazia questão de ler tudo o que lhe caía em mãos. São poucos os que enveredaram por esse caminho dentro do futebol brasileiro – os goleiros Zetti e Rogério Ceni, os zagueiros Ronaldão (ex-São Paulo) e Zé Eduardo (ex-Corinthians, entre outros)…

Já consagrado nos campos, campeão europeu pelo Porto, de Portugal, em 1987, e com a Copa de 1986 nas costas, manteve a humildade procurar aprender tudo o que podia onde estivesse.

Na Itália, estivesse no mediano Torino ou no pequeno Ascoli, absorveu tudo o que podia de cultura e informação, fatos que o ajudaram, e muito, a sair do buraco algumas vezes e reunir forças para voltar do inferno.

É humilde o suficiente para reconhecer as suas fraquezas e trabalhar duro para se reabilitar. Sua autobiografia, coescrita com o jornalista Gilvan Ribeiro, dura e direta, uma tapa no rosto, ideal para quem nunca teve paciência para amenizar questões sérias. Autoajuda? Longe disso. É uma sucessão de casos ilustrativos de quão perigosa pode ser essa doença.

Mergulhado no classic rock, o ex-craque participa de programas de rádio que misturam música e futebol e declarou recentemente que voltou a pesquisar sobre rock para ser "atualizar e conhecer coisas novas".

Há dois anos, no programa "Altas Horas", da TV Globo, foi surpreendido pelo apresentador Serginho Groisman a fazer a sua escalação de bandas de rock de todos os tempos. Ele pensou um pouco e mandou muito bem:  "Vamos lá: Black Sabbath, Led Zeppelin, The Who, Beatles, Rolling Stones, Queen, Steppenwolf, Jimi Hendrix, Titãs, Tutti Frutti e Mutantes".

O choro de Casagrande e sua surpreendente declaração ao final da Copa do Mundo atropelaram os detratores e serviu como um grande exemplo de força de vontade e perseverança. Autoajuda? Encare assim, se desejar.

Entretanto, entre as várias certezas que ficam: Casão é um grande cara – ranzinza e cortante como um punhal, mas uma grande figura, que sempre teve no rock'n'roll um fortíssimo aliado. O rock cura? Não sei, mas alivia e resgata, com toda a certeza do mundo.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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