Topo

Classic rock Brasil: Lobão ressurge, Titãs inovam e Ira! se reinventa

Combate Rock

11/06/2018 06h49

Marcelo Moreira

Titãs e parte do elenco de '12 Flores Amarelas' (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O mercado está obrigando todos a se readequarem a novos patamares. Bom ou ruim? Depende da banda e depende das expectativas. Bandas como Jota Quest e O Rappa ainda permanecem em bons termos, aparecendo com certa frequência nas emissoras de rádio e com boa cartela de shows. São exceções.

Se dentro do pop rock ainda conseguem alguma exposição, eis que outros nomes gigantes do gênero precisam correr para mostrar serviço e relevância. E, naquilo que chamamos de classic rock brasil, ou seja, as bandas brasileiras que fizeram muito sucesso há 15, 20 ou mais anos, tem gente ralando e se dando bem em seus novos projetos.

Já comentamos aqui sobre o Ira!, banda paulista que está fazendo 37 anos de carreira e conseguiu surpreender ao se reinventar com o projeto Ira! Folk – não se trata apenas de fazer o Ira! acústico, coisa que já foi feita no começo dos anos 2000.

Trata-se de um empreendimento onde os clássicos da banda foram completamente repaginados, com um resultado muito bom, tanto que virou CD e DVD, além de render uma extensa turnê nacional. É bacana escutar "Dias de Luta", "Tolices", "Tardes Vazias" e outros clássicos com um tratamento mais sóbrio, menos pesado, mas com arranjos bem inventivos.

Na ânsia de mudar e se reinventar, Lobão consegue se destacar nos últimos dois anos com sua música, o que surpreende, já que ele estava mais afeito a se meter em discussões políticas inúteis das redes sociais – e passando vergonha, como sempre.

Após um longo tempo perdendo tempo falando bobagens nas redes sociais e recolhido dos palcos, o cantor carioca parece ter recuperado o prazer de fazer música com o álbum "O Rigor e a Misericórdia", onde ele abraça uma sonoridade mais pesada, quase hard rock.

Se não conseguiu reeditar seus melhores momentos dos anos 80, ao menos mostrou vigor e inspiração em letras interessantes e melodias mais bem trabalhadas, como em "A Marcha dos Infames", uma das coisas mais legais feitas no rock nacional nos últimos anos, a emblemática "Ação Fantasmagórica a Distância" e a forte "Os Últimos Farrapos da Liberdade".

Nem se passaram dois anos e Lobão finalmente lança o seu projeto de revisitar o rock nacional dos anos 80 com suas versões teoricamente mais inflamáveis e com supostamente uma produção mais "decente", como chegou a declarar.

Com o apoio da banda Os Eremitas da Montanha, o cantor ousou e decidiu registrar de uma forma mais "correta" alguns dos principais hits daquela época.

"Antologia Politicamente Incorreta dos Anos 80 Pelo Rock" é a versão musical de um livro que Lobão lançou no ano anterior, em uma tentativa de espinafrar desafetos e inimigos e injetar humor em suas análises sobre a estética que considerava cafona 30 anos atrás, sobretudo nos arranjos e na produção dos discos.

Esqueça o livro, que fica bem aquém da inspiração de suas obras literárias anteriores. O álbum, que em CD é duplo, reúne uma ótima seleção de canções de artistas importantes de 30 anos atrás, boa parte deles desafetos do cantor – sem falar que houve uma saia justa, com a recusa da banda Replicantes em permitir a regravação de "surfista calhorda"

Seja como for, Lobão fez um bom trabalho. A produção é simples e homogênea, com boas sacadas em músicas como "Dias de Luta" e "Núcleo Base, do Ira!, "Até Quando Esperar", da Plebe Rude, e "Nós Vamos Invadir a Sua Praia", do Ultraje a Rigor. Ele manteve a essência das canções, foi bastante reverente, mas conseguiu fazer algo um pouco diferente.

"Pânico em SP", dos Inocentes, ficou bem pesada e urgente, enquanto que "Ôrra Meu", de Rita Lee, e "Nosso Louco Amor", da Gang 90, revelam a dose certa de humor e ironia na interpretação sem afetação de Lobão.

Já "Planeta Água", de Guilherme Arantes, destoou do conjunto na medida em que o cantor tentou rearranjar a música para incluir algo mais próximo do cancioneiro nacional. Ficou esquisito.

Corajoso e ousado, o CD duplo é esquisito para quem ainda está com a cabeça presa nos 80. No entanto, com versões mais pesadas, Lobão mostra que é possível fazer algo diferente no rock nacional.

Apesar da críticas recentes, o mesmo pode ser dito sobre os Titãs e seu musical, que estreou neste ano em São Paulo. A ópera-rock é subgênero perigoso, escorregadio e costuma ser incompreendido, ainda mais um país onde os musicais não estão mais na moda, e a ópera-rock nunca foi muito apreciada.

"Doze Flores Amarelas" não só é uma ópera-rock como também virou instantaneamente um musical ao estilo Broadway.

Abordando questões atuais e emergenciais como assédio, abuso, violência contra a mulher, aborto e tecnologia tóxica do mundo digital, a produção, que fez sua pré-estreia durante o Festival de Teatro de Curitiba.

O trabalho é uma parceria entre os Titãs,  o ator, dramaturgo e diretor do grupo de teatro Parlapatões Hugo Possolo, e o escritor, dramaturgo e jornalista Marcelo Rubens Paiva.

Rita Lee faz a narração da maioria das cenas, enquanto as 25 canções inéditas, escritas especialmente para o espetáculo, contam a história de três jovens estudantes, Marias, A, B, e C, vividas por Corina Sabbas, Cyntia Mendes e Yas Werneck, que assim como a maioria dos colegas de sua idade, são adeptas da tecnologia, em especial de um aplicativo chamado "Facilitador".

Esse mecanismo acaba por colocá-las em risco durante uma festa, ao serem violentadas por cinco colegas. Elas então recorrem ao mesmo aplicativo em busca de vingança e conhecem o feitiço das 12 flores amarelas, que dá nome ao espetáculo e desencadeia uma série de acontecimentos entre todos os envolvidos.

Não é um tema original e nem o formato é algo que inédito nos palcos brasileiros. Ainda assim, é um sopro de criatividade em um mercado bastante engessado e sem movimento.

Críticos musicais e teatrais destacaram negativamente a pobreza do texto, muito pueril e que , de certa forma, foge de uma certa complexidade. Há exageros, mas não estão totalmente equivocados.

No entanto, o espetáculo foi criado na medida para ser um show atual para um público mais atual, ou seja, espectadores mais jovens e sem tanta conexão com os cinquentões que ainda anseiam por um novo CD como "Cabeça Dinossauro" ou pérolas pop como "Televisão".

Os Titãs não cometeram uma obra-prima, mas acertaram no novo projeto. O musical é bem feito e certamente atingiu o alvo. O conteúdo lírico é pobre e abaixo da média da própria banda? Não é, mas, ainda que fosse, não invalida a audácia de uma banda que ainda respira rock e que busca inovar. Isso não é pouco.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Classic rock Brasil: Lobão ressurge, Titãs inovam e Ira! se reinventa - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Mais Posts