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Glenn Hughes expia seus pecados e pede perdão geral em autobiografia

Combate Rock

04/06/2018 07h00

Marcelo Moreira

Um grande e extenso pedido de desculpas e admissão de erros variados. Não é todo dia que se pode ler uma autobiografia repleta de arrependimentos e relatos crus de uma quantidade gigante de bobagens cometidas ao longo de mais de 30 anos no rock.

O baixista e vocalista inglês Glenn Hughes, ex-integrante do Deep Purple e do Black Sabbath, falou bastante de música, mas muito menos do que se imaginava em "Glenn Hughes – A Autobiografia – do Deep Purple ao Black Coountry Communion", lançada em 2012 mas que só agora ganha edição brasileira por conta da vinda do cantor em março passado, cortesia de editora e empresa de produção artística EV7.

Fica claro no texto, elaborado com a ajuda do renomado jornalista e escritor inglês Joel McIver (autor de biografias de, entre outros, Black Sabbath, Motorhead e Metallica, além de ter auxiliado na autobiografia de Max Cavalera), que Hughes precisava expiar seus pecados e se livrar dos muitos demônios que ainda carregava.

O músico descreve com muitos detalhes a sua jornada pelo vício pesado nas drogas, as bobagens que fez, o tanto de pontes de queimou ao longo da carreira e a quantidade imensa de gente que magoou. A maior parte do livro é dedicada a isso, como se quisesse fazer um manual de como evitar cair na armadilha do vício nas drogas.

Ele pede muitas desculpas ao longo da obra e passa longe da autocomiseração. Não busca explicações esfarrapadas para os erros e para o mergulho no vício e evita os exageros no caso de ter atingido a sobriedade – não se vangloria disso, apenas agradece muito a Deus pelo fato de ter conseguido se curar e superar os vícios em cocaína e crack, além de ter abandonado o álcool defintivamente.

Por conta disso tudo, não é uma leitura fácil – até porque o texto brasileiro tem problemas sérios de tradução e de fluência. Hughes prefere descrever com detalhes como usava as drogas e, rpincipalmente, as suas consequências, magoando esposas e namoradas e perdendo trabalhos legais, como as dispensas do Black Sabbath, e 1986, e da gravação do álbum "Run For Cover", de Gary Moore, no ano anterior.

Mesmo com o mergulho no vício e a sua luta para escapar dele dominando a obra, teve espaço paara falar de música. Não há novidades, mas é bacana saber a sua versão de como surgiu a banda Trapeze, que o projetou na música, e como foram os tempos de glória e de perdição com o Deep Purple, que integrou entre 1973 e 1976.

Não omite as baixarias que fez ou participou ao lado de lendas como os bateristas Keith Moon (The Who) e John Bonham (Led Zeppelin) e do rolling stone Ron Wood.

Aliás, é triste saber que Hughes e Bonham ficaram sem, se falar por conta de um boato maldoso – diziam que Hughes tinha um caso com Pat, mulher de Bonham. Por conta disso, o baterista, bêbado, esmurrou o amigo Hughes numa festa do Led Zeppelin em 1976, em Birmingham, terra de ambos. Imediatamente, Hughes foi convidado a sair do evento. Nunca mais se falaram e Bonham, como se sabe, morreu em setembro de 1980.

Também é importante o seu relato de como trabalhou com o guitarrista Pat Thrall e com Tony Iommi na década de 80. Integrando o Black Sabbath durante a gravação do álbum "Seventh Star" e a turnê, acabou demitido após quatro shows por conta dos excessos de drogas e por conta de uma briga com um dos chefes do estafe da banda.

Bem ao estilo McIver, a narrativa é entremeada com depoimento de pessoas que fizeram parte da vida de Hughes, como os pais, namoradas, amigos de infância que se tornaram confidentes e integrantes da equipe de apoio do músico e jornalistas.

Por exigência de Hughes, o livro tem uma narrativa reta e cronológica, sem arroubos literários mais altos – embora tenha aprovado o uso do recurso da introdução impactante, onde narra o episódio do ataque cardíaco que sofreu em 1991, sendo salvo após um telefonema para a então namorada e a mãe dela.

Glenn Hughes (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A autobiografia mexe também em um vespeiro que foi a tumultuada relação de Hughes com os ex-companheiros do Deep Purple. Apenas David Coverdale, que ele considera um irmão, mereceu citação nos agradecimentos.

Hughes repetiu várias vezes que jamais teve problemas com Coverdale, o vocalista principal do Deep Purple, e credita a ele o fato de estar vivo e de ser um dos responsáveis por ter abandonado os vícios em drogas.

O guitarrista Ritchie Blackmore é muito pouco citado. Recebeu o então novo baixista muito bem e se deram bem no início, compondo juntos, mas depois o famoso mau humor do guitarrista predominou "por anos", fazendo com que ele não socializasse com o restante da banda.

Sobre o baterista Ian Paice, poucos elogios e a ocnstatação de ser uma pessoa muito reservada. O pior vem para Jon Lord, o tecladista que era considerado um cavalheiro, um gentleman, por todos.

Glenn Hughes diz que gostava bastante de Lord, um cara bacana que se tornava bastante divertido quando tomava umas a mais. O problema é que o tecladista sempre esteve de olho em Vicky Gibbs, namorada do baixista e irmã gêmea da mulher de Paice.

Após o fim do Deep Purple, no começo de 1976, a vida de Hughes começou a degringolar, assim como o relacionamento com Vicky. Vendo cada vez menos a namorada, no fim daquele ano descobriu da pior forma possível, em uma viagem à Itália, que Vicky o tinha trocado por Lord. A mágoa por conta disso escorre pelas páginas.

Vicky e Lord casaram-se no ano seguinte e ficaram juntos por 35 anos, até a morte do tecladista, em 2012. A autobiografia do baixista foi lançada antes da morte de Lord, e Hughes se tornou um dos personagens principais dos dois concertos daquele ano em homenagem ao tecladista.

É uma leitura interessante e bastante informativa, embora o texto brasileiro esteja coalhado de problemas de texto e de tradução – é incompreensível que os tradutores utilizem o termo "carregado" em vez de drogado ou chapado.

Entretanto, mesmo assim, para quem gosta de rock, é uma obra recomendada por conta de seu conteúdo informativo.

P.S.: O Combate Rock vai republicar em breve a resenha deste mesmo livro publicada em 2012, feita pelo colaborador Eduardo Kaneco, a partir do texto em inglês, lanado oficialmente naquela época.

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Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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