Topo

Kamboja anuncia o fim de suas atividades

Combate Rock

24/04/2018 16h55

Nelson Souza Lima*

Há algumas semanas uma notícia pegou de surpresa a cena rock underground paulistana. Após seis anos de estrada o Kamboja anunciou fim das atividades.

O comunicado chocou os fãs que, incrédulos, custaram a acreditar na veracidade da informação. Contando apenas com dois integrantes originais, o vocalista Fábio Maka Makarrão e o batera Paulão Thomaz o grupo foi no limite até que o freio estourou de vez (referência ao último trabalho dos caras lançado em 2016).

Para matar a curiosidade dos fãs e saber o que pegou fui trocar uma ideia com o Paulão, que muito gente boa, falou comigo.

Para quem ainda não sabe o Paulão é uma lenda viva da cena rock metal paulistana e brasileira. O cara começou sua trajetória lá em 1980 empunhando as baquetas do Centúrias. Com a banda participou da clássica coletânea "SP Metal", lançada em 1983, que trazia Salário Mínimo, Avenger e Vírus.

Paulão tocou depois em vários grupos legais como Firebox, Cheap Tequila e Baranga. Neste último ficou quase 15 anos e, entre tantos momentos marcantes, abriu dois shows do Motorhead. O cara não é fraco não.

Com o Kamboja lançou os CDs "Viúva Negra" e "Até o freio estourar". A trupe tinha passado por uma reformulação em 2017 e estava na batalha pra divulgar o trampo.

Influenciado por grandes bateras como o Rolando Castello Jr do Patrulha do Espaço, o cara tem ainda entre suas referências Made In Brazil,Tutti Frutti, Iron Maiden, Saxon e Black Sabbath.

Para ele o melhor momento do Heavy Metal brasuca rolou nos anos 80, que mesmo fadado ao underground, teve grandes representantes. "Quando o Sepultura surgiu arrebentando legal, todo mundo pensou que ia virar, mas não rolou", diz.

Para ele o aspecto cultural também pesa. "O rock nos nossos vizinhos chilenos e argentinos é mais forte. Toquei lá com o Firebox e Baranga. Lá o jovem é bem mais roqueiro que o jovem brasileiro. Aqui divide muito. Olha o caso do Patrulha do Espaço que é muito mais respeitado na Argentina que no Brasil", atesta o batera.

Ainda de acordo com o batera a virada dos 80 para os 90 foi também determinante para confinar ainda mais o rock pesado no underground com a popularização de gêneros como pagode, axé e sertanejo.
"Teve o Grunge também que relegou ao underground e, costumo dizer que aqui no Brasil, o underground não existe. A gente não ganha grana, nem é respeitado", afirma.

Para Paulão alguns fatores contribuíram para o fim do Kamboja.
"Foi uma puta banda. Uma das melhores que toquei. Gravou um EP e dois CDs, um deles pela Baratos e Afins. Fazer isso nos dias atuais poucos grupos conseguem. Só que chegou ao final, devido a vários problemas internos, mas também a falta da cena, falta de respeito, falta de lugares pra tocar. Ter que pagar pra tocar não é legal. É um trabalho, uma empresa. Como vai crescer se você tiver que dar seu produto? Não vai pra frente", lamenta

Falta de respeito por parte de contratantes e mudanças de integrantes ficaram desgastantes, além da falta de grana e ausência de público estão entre os fatores que levaram ao encerramento das atividades.

"Tocar pra dez pessoas e um show no qual o cara desligou a luz do bar foram a gota d'água. E olha que estávamos com uma formação muito boa com Marcelo Araújo na guitarra e Mauro Catani no baixo, mas não deu pra aguentar a pressão. Eu resolvi sair e o Marcelo também saiu. O nome da banda é do Makarrão, mas pelo que ele escreveu por ai, não creio que continue. Pena, mas é melhor parar uma coisa que não tá indo pra lugar algum. Ligava pros bares pra marcar show e a resposta era sempre a mesma que não dava pra pagar cachê e lugares fechando as portas", diz.
Paulão conclui dizendo que resolveu dar um tempo. "Amo tocar bateria, quero continuar tocando. Só não sei ainda com quem, quando, como, onde e por que", finaliza o cara com um lead mais que interrogativo.

Esperemos que em breve todas as perguntas sejam respondidas e possamos ver esse fera das baquetas de volta aos palcos. Valeu, Paulão.

* Nelson Souza Lima é jornalista e trabalha no Centro Cultural São Paulo

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Kamboja anuncia o fim de suas atividades - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Mais Posts