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O 'novo velho' rock pesado do começo de 2018

Combate Rock

20/04/2018 06h31

Marcelo Moreira

O novo rock pesado de 2018 é velho, e isso é muito bom. Seria o classic heavy metal ganhando novo fôlego para encarar o ainda incerto mundo novo pouco admirável da indústria musical – ou o que restou dela.

Três bandas novas, mas com personagens veteranos, sugiram com destaque no primeiro trimestre de um ano que promete revoluções por semana, seja na política nacional e internacional e também nas artes.

Phil Campbell & The Bastard Sons é a mais intrigante delas, recolocando no mercado o ex-guitarrista do Motorhead, que tateava por um novo caminho desde o fim da banda com a morte do líder, Lemmy Kilminster, no fim de 2015.

Sua primeira tentativa foi bem-sucedida, um EP ao lado dos três filhos, em 2016, autointitulado, como uma maneira de retomar aos poucos a carreira após 31 anos de Motorhead.

Agora, com "The Age of Absurdity", um álbum completo, a banda mostra grande potencual ao variar do blues pesado ao quase thrash metal, sempre com a firme guitarra de Campbell permeando o trabalho.

E o guitarrista sempre esteve em uma situação confortável, pois tinha uma banda prontinha dentro de casa – seus filhos Todd (guitarra), Dane (bateria) e Tyla (baixo) têm entre 26 e 31 anos idade e estão em ponto de bala.

Como não poderia deixar de ser, quem manda é a guitarra do patriarca, que mostra ser um instrumentista antenado e com vontade de aprender e surpreender.

É rock pesado do começo ao fim, com a guitarra bluesy explodindo em overdoses de timbres que, obviamente, remete ao Motorhead em muitos momentos.

E o blues é o carro-chefe, com a maravilhosa "Dark Days", um grande tributo ao Motorhead baladeiro. O vocalista Neil Starr, irregular ao longo do CD, aqui capricha e tem uma performance elogiável.

O cantor manda bem também em "Into the Dark", que fecha o álbum, um blues épico onde Phil Campbell resgata a veia bluesy de sua ex-banda tão bem aplicada em faixas como "You Better Run" e "One More Fucking Time".

Mesmo longe de ser uma obra-prima, a nova incursão do ex-guitarrista do Motorhead impressiona pela variedade de influências e pela ousadia em experimentar, ainda que os resultados, em alguns momentos, soem confusos e derivativos.

Outro astro veterano resolveu radicalizar e também impressionou. Phil Anselmo, a voz do Pantera, decidiu dar um tempo em suas empreitadas mais recentes, como o Down e o Superjoint Ritual, e criou um "alter ego" para um novo projeto, só que usando seu nome verdadeiro.

A banda é Philip H. Anselmo & The Illegals não é nova, existe desde 2013, mas sempre foi uma iniciativa discreta do cantor, pelos menos até agoora.

O projeto lançou o álbum "Choosing Mental Illness As A Virtue" e investe em um som mais extremo, ainda que com alguns excessos.

A música vai do hardcore ao death metal, com Anselmo abusando da voz em cima de um instrumental competente, mas sem grandes novidades.

É porrada do começo ao fim, com o vocalista atirando para todos os lados – políticos, artistas, empresários, ricos, vigaristas e toda a uma sorte de "inimigos".

A ideia é que o álbum fosse usando como um potente canhão, e a principal arma é a voz de Anselmo.

Não há descanso, não há paz e não há redenção, como o cantor faz questão de deizer nas melhores faixas, "Little Fucking Heroes", "Individual", and "Finger Me". Não é um trabalho fácil de digerir, mas tem o grande mérito da coragem por radicalizar e ousar.

A terceira banda que chama a atenção neste começo de 2018 é um supergrupo formado por membros do Tool e do Mastodon.

Legend of the Seagullmen lançou o álbum, autointitulado, de forma calculadamente "despretensiosa" e, aparentemente, causou certo estardalhaço.

Havia muita expectativa em torno do trabalho inaugural do grupo de Brent Hinds (Mastodon), Danny Carey (Tool), Dimitry Coats (OFF!) e Jimmy Hayward. Foram três anos de gestação do projeto para que o álbum surgisse.

À primeira audição, parece um grupo derivativo do Mastodon, com suas passagens progressivas e bem estruturadas. No entanto, aqui se aprofunda o clima opressivo e claustrofóbico, que é uma característica da produção desse álbum de estreia.

Denso e pesado, Legend of the Seagullmen tem uma proposta de fundir o metal arrastado e intrincado do Mastodon, a profusão sonora de cunho progressivo e industrial do Tool e elementos discursivos do rap. Funciona na maioria do álbum, mas não em todas as músicas.

"Legend of the Seagullmen", "Rise of the Giant" e "Ballad of the Deep Sea Diver" são os destaques, com temas que envolvem melancolia, violência e um pouco de ironia. Afinal, como os integrantes disseram em uma entrevista para a revista Kerrang, resolver assumir "novas personalidades".

"Esta é uma obra auto-intitulada do Legend Of The Seagullmen. Nós somos os mesmos homens que foram ungidos pelo Rei Seagullgod para trazer a pura fúria do rock e salvar você das profundezas."

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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