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Brasil perde Índio Cachoeira e a sua viola mágica

Combate Rock

07/04/2018 07h07

Marcelo Moreira*

Ricardo Vignini e Índio Cachoeira (FOTO: DIVULGAÇÃO)RDO

Em tempos onde o pior da country music virou o que se convencionou chamar de sertanejo no Brasil – ou a esdrúxula expressão "sertanejo universitário" -, ainda se discute e conveniência de se falar em música folk no Brasil.

Sendo assim, como classificar a música instrumental, a poesia e a viola de um artista como Índio Cachoeira? Categorizar o músico, que morreu nesta semana após dias internado por conta de um acidente automobilístico, desafia os estudiosos e pesquisadores, que tiveram a mesma dificuldade para "enquadrar" Zé Côco do Riachão.

A carreira de Índio Cachoeira, ou José Pereira de Souza, é um daqueles casos que se assemelham, e muito, com o da violeira sul-mato-grossense Helena Meirelles: talento nato, ouvido absoluto, bom compositor e músico descoberto tardiamente.

Ele gostava da expressão matuto do interior. Acreditava que ela conferia uma aura de sabedoria – o que ele tinha de sobra.

O violão e a viola caipira eram suas companheiras inseparáveis, o que espanta a demora em ser descoberto e fazer as suas primeiras gravações ao lado de outro matuto, só que mais "moderno", o instrumentista Ricardo Vignini, um dos cabeças do grupo de rock rual/MPB Matuto Moderno.

O talento transbordante foi identificado quase que de primeira pelo paulistano Vignini, um dos monstros da viola caipira atual, ao lado do parceiro Zé Hélder, que é mineiro.

Sem perder tempo, o descobridor levou Cachoeira para o estúdio e produziu algumas das obras-primas da música caipira de raiz/folk brasileiro. foram cinco álbuns e um DVD em 15 anos de produção.

Paulista de Junqueirópolis, divisa com Mato Grosso do Sul, o violeiro nato largou o emprego de motorista de ônibus pela música.

Além de exímio violeiro e compositor, Índio Cachoeira se destacava como luthier das violas que toca e de outros instrumentistas também.

Legítimo virtuose na viola caipira, Índio Cachoeira começou sua vida profissional aos 17 anos, tocando nas rádios da região já com o nome de Cachoeira. Formou sua primeira dupla com Tião do Gado (hoje Carreiro, da dupla Carreiro e Carreirinho).

Em 1995 tornou-se o Pajé, da dupla Cacique e Pajé, onde atuou por cinco anos e gravou CDs. Pelo selo Folguedo teve três CDs solo instrumentais e um DVD e  lançou também em 2014 o CD "Viola Caipira Duas Gerações" (Prêmio da Música Brasileira da Funarte) com o violeiro Ricardo Vignini.

Juntos também  realizaram dezenas de apresentações pelo país e na França – e ganhou destaque mais ainda no exterior pelo fato de, seguindo a tradição como luthier, fabricava a sua própria viola. 

Índio Cachoeira retornou em 2017 ao formato tradicional de dupla caipira com Santarém. No mesmo ano, lançaram o CD "Ponteando Tradições", vencedor do prêmio ProAC de Culturas Tradicionais 2016 da Secretaria do Estado da Cultura com a produção do violeiro Ricardo Vignini (Matuto Moderno e Moda de Rock) pelo selo Folguedo com a distribuição da Tratore.

Cachoeira morreu em Alfenas (MG) na manhã de quarta-feira, 4 de abril, aos 64 anos, devido a complicações de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) provocada por um acidente de trânsito.

* Colaborou Graciela Binaghi

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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