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Made in Brazil: 50 anos de paixão e insistência no rock

Combate Rock

29/01/2018 06h56

Marcelo Moreira

Made in Brazil versão 2017 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Um erro muito comum quando se analisa a história do rock paulista é simbolizar os Mutantes como a cara do gênero na cidade – e pior, a cara do ritmo no Estado, especialmente citando como os nomes principais do berço roqueiro paulistano, o bairro da Pompéia, na zona oeste da cidade.

Quando escuta tal heresia, Oswaldo Vecchione prefere soltar uma gostosa gargalhada e passar para o tópico seguinte. Enquanto os Mutantes ainda engatinhavam e tentavam convencer Rita Lee a abraçar o rock, o Made in Brazil, dos vizinhos irmãos Oswaldo e Celso Vecchione, já quebrava tudo no bairro.

Os irmãos eram bambinos, filhos de italianos, e renegaram os ascendentes e a tradição do bairro ao preferirem o Corinthians ao Palmeiras, e isso contribuiu para a rebeldia e a fúria dos moleques para contestarem sempre que podiam e chutar todas as canelas que viam pela frente.

E parece que a banda não cansa de chutar canelas, portas, baldes e cabeças, pois está na ativa há 50 anos, um feito inimaginável em um Brasil que despreza a cultura e o entretenimento de qualidade.

Cinquenta anos de carreira… quem consegue se ombrear a tamanha longevidade, em temos de grupo? Demônios da Garoa, Azymuth, Status Quo, Kinks, Rolling Stones, Scorpions…

Made in Brazil não é a principal banda de rock do país – embora muitos a considerem dessa forma, não sem razão. Também não é a mais importante, e tampouco a melhor. Entretanto, é praticamente a única banda brasileira que pode ser considerada uma instituição cultural. Isso é muita coisa.

O grupo passou por tantas formações diferentes que conquistou dois recordes no Guinness World Records – banda de rock mundial com o maior número de formações oficiais (atualmente na 203ª formação) e banda de rock mundial com o maior número de participantes (126 músicos ao longo de sua trajetória).

Hoje é formada por Oswaldo "Rock" Vecchione (voz, baixo e gaita), Celso "Kim" Vecchione (guitarra e baixo), Rick "Monstrinho" Vecchione (bateria), Guilherme "Ziggy" Mendonça (guitarra e violão), Octavio "Bangla" Lopes (sax), Wanderley Issa (teclado), Ivani "Janes" Venâncio (voz) e Rubens "Rubão" Nardo (voz).

"Já passamos por tanta coisa e tivemos tantas experiências que fica complicado descrever o que nos faz seguir em frente. Na verdade, explicar até que é fácil, é amor à música e ao rock. Por que duramos 50 anos? Um livro é pouco para compreender a nossa trajetória e nossa motivação", diz Oswaldo Vecchione, o líder e mentor da banda.

Aos 70 anos de idade, o baixista e vocalista se diverte com a enxurrada de adjetivos e elogios que a banda recebe e com a longevidade que a banda atingiu. "Instituição? O Made in Brazil é importante, mas é uma banda de rock, e é assim que queremos ser reconhecidos. A nossa importância? Vocês é que a estabeleçam e a determinem."

Em recente entrevista à revista Roadie Crew (edição 227, de dezembro de 2017), Vecchione afirmou que não imaginava que a banda durasse 50 anos. "Até conseguir o primeiro contrato com uma gravadora e estrear em disco, em 1974, só havia dúvidas. Tive meus dois primeiros filhos, rolava uma pressão da família para cortar o cabelo, comprar terno e gravata, arrumar emprego e para com essa frescura de tocar rock. Quando passei por cima disso, o resto até que foi até fácil."

O líder tem uma receita que não é complicada para descrever o que faz o Made in Brazil estar na ativa até hoje. "Não podemos perder o foco, a ideologia. Mesmo com tantas mudanças de formação, eu e meu irmão Celso mantivemos o pulso firme para deixar os caras focados no que a gente queria, que era tocar rock'n'roll e blues. Isso foi fundamental para não nos perdermos pelo caminho."

Oswaldo Vecchione erra feio quando despreza as declarações de que o Made é uma instituição musical, algo que ninguém ousa questionar em relação aos septuagenário Demônios da Garoa e ao cinquentenário Zimbo Trio.

Em um gênero musical alienígena neste país e que desde os anos 90 vem perdendo cada vez mais espaço, é uma alegria imensa e um orgulho saber que uma banda de rock brasileira chega aos 50 anos na ativa e fazendo boa música. Que ten ham os próximos 50 anos.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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