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Experimentalismo radical, perfeição e a genialidade de Robert Fripp

Combate Rock

14/01/2018 06h50

Marcelo Moreira

Robert Fripp (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O jeitão é de acadêmico, de um cientista ou de intelectual . Sempre elegante, com um óculos de estilo conservador e uma presença de palco inexistente, o guitarrista inglês Robert Fripp faz questão de manter essa imagem austera e econômica. "Não fazemos música para os pés, mas para a cabeça", costuma dizer ao rebater as críticas ao suposto intelectualismo de sua banda, o fantástico King Crimson.

A declaração é a cara de Fripp, que completou 70 anos de idade nesta segunda-feira (16). Para o guitarrista com fama de "intelectualóide", a perfeição era o mínimo que admitia, o que, várias e várias vezes, era motivo de grandes conflitos com os músicos que o acompanhavam – tanto é que, nos anos 70, o King Crimson só repetiu a formação em dois álbuns consecutivos nos dois primeiros LPs – "In the Court of the Crimson King" (1969) e "In the Wake of Poseidon" (1970).

Um de seus mas frequentes colaboradores, o exímio baterista Bill Bruford (ex-Yes) nunca escondeu de ninguém que, pessoalmente, não suportava Fripp – e a recíproca era verdadeira. No entanto, sempre emendava que. musicalmente, o respeitava demais. No palco, o guitarrista apreciava tanto o trabalho do baterista que o chamou para formações do King Crimson outras duas vezes após o primeiro fim da banda, em 1974.

O gênio difícil e o tamanho do ego eram proporcionais ao seu enorme talento. Com formação jazzística e erudita, Fripp lapidou desde cedo uma maneira límpida e cristalina de tocar, além de ser um músico obcecado por timbres e execuções perfeitas.

As constantes pesquisas sonoras o levaram rapidamente ao experimetalismo, levando ao radicalismo exptremo na aplicação de conceitos musicais estranhos ao rock, como se pdoe observar nos primeiros álbuns do King Crimson já citados e também em clássicos da banda, como "Lark's Tongues In Aspic", "Islands", "Lizard" e "Red".

Assim como no estúdio, ao vivo a banda abusava do experimentalismo, expandindo os limites do rock progressivo setentista. Introduzindo muitas estruturas sonoras típicas do jazz e incentivando longas jams sessions com sons intrincados e complexos, Fripp e suas formações do Crimson criaram um padrão excepcional de execução e performances.

King Crimson, em 1996, como sexteto

Professor

A qualidade de sua execução e de suas composições logo levaram a apelidos como "mestre" e "professor". O primeiro fim do Crimson levou ao trabalho em dupla com outro mestre, Brian Eno, ex-Roxy Music, que mergulhou de cabeça na música eletrônica. Foram dois álbuns elogiadíssimos, mas que venderam pouco.

Em paralelo, colaborou bastante também com outro admitrador, David Bowie, que o convidou para tocar em seus discos da fase "alemã" – "Low", "Lodger" e "Heroes", entre 1976 e 1978.

Entretanto, mesmo com o trabalho ainda mais experimental com o grupo League of Gentlemen, que criou, Fripp sentia muita falta da liberdade artística e desafiadora do King Crimson.

Reativou a banda em 1980 após conhecer dois excepcionais músicos – o guitarrista e vocalista Adrian Belew, que trabalhou com Frank Zappa, e o baixista Tony Levin, que também era perito em um instrumento novo na época, o chamado bass stick, uma espécie de baixo percussivo com timbres eletrônicos. Convidou os dois para a nova encarnação e não pensou duas vezes em chamar Bill Bruford para a bateria.

Foram três álbuns estupendos entre 1981 e 1985, que foram muito elogiados, assim como os shows intensos e hipnóticos. A intensidade, no entanto, não foi o suficiente para manter o interesse do chefe, que na mesma época andava encantado com andy Summers, o guitarrista do Police – os dois lançaram dois excelentes álbuns de música instrumental em 1982 e 1984.

Fripp fez muita coisa nos anos seguintes, inclusive dando muitas e concorridas aulas e colaborando com o músico David Sylvian (Japan) e com a cantora Toyah Wilcox (com quem se casou logo depois de trabalharem juntos, em 1986), mas o King Crimson não saía de sua vida.

No King Crimson, sempre inovando

A pressão de amigos e fãs o levou a mais uma encarnação da banda, ue virou um sexteto – além do quarteto de 1981, entraram para a banda o baterista e percussiosta Pat Mastelotto e o baixista e stick man Trey Gunn.

"Thrak", de 1995, é extraordinário, com o sexteto trazendo o que de melhor o King Crimson incorporou em sua história – rock pesado, jazz, suítes eruditas e solos brilhantes, além de experimentalismos extremos.

Até 2003 a banda se manteve ativa e inovando, gravando e se apresentando em vários formatos – trios e quartetos, com os músicos se revezando.

Após novo hiato, aos poucos Fripp foi saindo de uma "semiaposentadoria" autoimposta a partir de 2010, para finalmente, em 2012, criar as condições necessárias para nova encarnação do King Crimson, desta vez como um septeto.

Dos antigos companheiros, só Tony Levin Levin e Pat Mastelotto. Completam o time o guitarrista Jakko Jakszyk (guitarrista e compositor, participou da banda 21st Century Schizoid Man com ex-integrantes do próprio King Crimson), o saxofonista Mel Collins (que fez parte da bandas entre em 1972 e 1974) e mais dois bateristas: Bill Rieflin (que foi músico contratado do R.E.M.) e Gavin Harrison, assíduo colaborador do Porcupine Tree e da banda solo de Steven Wilson (líder do Porcupine Tree).

O novo Crimson encarou uma extensa turnê norte-americana a partir de meados de 2015, que invadiu 2016 e que gerou um lançamento interessante: "Live at the Orpheum", lançado em agosto de 2015. É um registro ao vivo gravado em um teatro em Los Angeles em outubro de 2014 – são os primeiros shows de retorno.

São apenas sete músicas, que trazem um King Crimson mais moderno, antenado com a música atual de vanguarda, com duas músicas inéditas, uma delas assinada somente por Harrison – "Banshes Legs Ball Hassle", que é apenas uma vinheta, uma diz muito sobre o conceito do grupo em 2015.

Em apenas sete temas, Fripp conseguiu mostrar a história da evolução sonora do grupo, tendo sua guitarra limpa, hipnótica e inovadora como fio condutor, reforçando que se trata de um músico e instrumentista incomparável – um gigante do rock.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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