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Rita Lee, 70 anos: ousadia, inteligência e irreverência no rock nacional

Combate Rock

31/12/2017 15h01

Marcelo Moreira

FOTO: ROBERTO DE CARVALHO/DIVULGAÇÃO

Rita Lee não sabe cantar e sua voz é pequenina. E ainda assim é a maior cantora de rock que já nasceu no Brasil. Ela mesma brinca com essas "máximas" em sua autobiografia que virou best seller no ano retrasado. Até pode ser verdade, mas que liga par isso?

Ao completar 70 anos no finalzinho de 2017, a musa roqueira se deu ao luxo de se aposentar e de se recolher ao seu paraíso na Serra da Cantareira. Curte agora a vida doce de escritora de sucesso e querida de um público que aprendeu a apreciar sua obra de quase 50 anos.

Inteligente, matreira, malandra, cáustica, ingênua, detalhista, meticulosa, oportunista. Já a chamaram de todos os adjetivos possíveis, e o que sobra de tudo isso? Uma obra de respeito e uma personalidade poderosa.

Assim como os guitarristas ambicionam serem reconhecíveis no ato por seu timbre e estilo de tocar, muita gente sonha em ser ouvida imediatamente quando fala ou se manifesta de alguma forma.

É o caso de Rita: quando ela fala, temos de ouvir. Esqueça o folclore em torno da cantora e as anedotas que ela mesma contou de forma saborosa em seu primeiro livro. Rita tem autoridade que o rock lhe conferiu e a história referendou.

Chutada dos Mutantes em 1972, foi estratégica e cirúrgica ao elaborar sua carreira musical a seguir e acetou em cheio. O tempo mostrou que ela estava sobrando na banda e que sua trajetória extrapolou o máximo que o quarteto tinha alcançado.

Há quem pense que ela ficou maior do que os Mutantes. Pode até ser que os números digam isso, mas o fato é que a banda optou por ser cult, e ela, por ser pop. Alguém venceu?

Não é e nem nunca foi uma competição, mas a moça se deu bem, muito bem, talvez muito melhor do que todos imaginavam – e, dependendo do parâmetro e do ponto de vista, muito melhor do que os ex-companheiros.

Os 70 anos de irreverência de Rita s]ao um legado imenso de inteligência e bom gosto dentro do rock e do pop – deu uma cara para esses gêneros no Brasil, abrindo uma avenida de influência para todos os artistas que vieram a seguir.

A divertida Santa Rita de Sampa soube como poucos como navegar em águas turbulentas e perigosas ao mesmo tempo em que entregava tudo bem feito e redondinho.

Apostou na ousadia quando isso era pecado, zombou da repressão com elegância em tempos de medo e trevas e mostrou o caminho quando tudo parecia encalacrado.

Rita também criou um feminismo debochado sem os dogmas e as amarras da ideologia. Mostrou como curtir a vida em meio a terremotos e como sobreviver aos descaminhos.

Sobrevivente, ajudou a ensinar a nossa geração a gostar de rock, a aumentar o som e a confrontar a caretice com descontração e esperteza maliciosa. Existem poucas coisas tão rock'n'roll. Existem poucas pessoas como Rita. Feliz aniversário, Rita.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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