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Perseverante, Mario Linhares brilhou no rock conceitual nacional

Combate Rock

23/12/2017 12h17

Marcelo Moreira

Dark Avenger, com Linhares ao centro (FOTO: Desirée Galeotti/ Facebook)

Mario Linhares tinha um sorriso fácil e uma conversa boa demais, mas nunca escondeu um agudo senso de urgência. Sabia que tinha deixado o seu Dark Avenger por muito tempo na geladeira nos anos 2000, e também sabia que era um afortunado por ter se curado de um câncer.

Na última quinta-feira, 21 de dezembro, quando o link do programa de web rádio Combate Rock subiu no site www.combaterock.com.br com os melhores lançamentos nacionais do ano, o cantor do Dark Avenger ficou exultante com a inclusão de "The Beloved Bones: Hell".

Em rápida troca de mensagens conosco, Linhares agradeceu mais uma vez o apoio (agradecer pelo quê? O álbum é ótimo!!!) e disse já tinha ganho a semana.

Menos de 48 horas depois, surge a notícia da morte do cantor cearense radicado em Brasília. Como lidar com a velocidade de tão avassaladora notícia?

Persistência e paixão eram, provavelmente, as duas características que definiam aquele que era o melhor compositor de obras conceituais do rock brasileiro.

Os temas e as letras das músicas do Dark Avenger nunca foram fáceis, e Linhares, o compositor, nunca fazia concessões. Perfeccionista e culto, não abria mão da profundidade dos assuntos abordados, a ponto de ser admirado por músicos e produtores internacionais.

Isso ficou claro na recente viagem que fez à Europa para divulgar "The Beloved Bones: Hell", quando foi recebido com muita pompa por representantes de gravadoras na Itália.

Linhares era persistente porque sempre acreditou no Dark Avenger e no seu trabalho conceitual, na força dos temas e das letras. Nas redes sociais se mostrou meio ranzinza nas últimas duas semanas com o que considerou "rumo errático para as trevas" em relação à cultura musical atual – a era das bundas rebolantes e dos realities shows estéreis e sem conteúdo.

Entretanto, em nenhum momento deixou de acreditar no próprio trabalho e no talento de sobra que existe no rock e no metal do Brasil, a começar pelo seu próprio trabalho, defendido com uma paixão comovente.

Mario Linhares (foto: Divulgação)

O cantor era tão apaixonado pelo que fazia e tinha tanta consciência da boa qualidade de seu trabalho que não hesitava  em comprar brigas e tretas para explicitar seus pontos de vista – quando não para tentar impô-los nas discussões.

Essa passionalidade lhe rendeu alguns reveses e broncas homéricas de muita gente boa e importante do meio roqueiro brasileiro, mas que não o fizeram recuar ou ceder – no máximo, refletir e contornar algumas situações.

A falta de paciência com as questões diversas no mercado nacional da música atingiu o auge em setembro, quando o show de lançamento de "The Beloved Bones: Hell" em São Paulo foi cancelado.

Em meio a boatos de fechamento da casa noturna onde seria realizado o espetáculo e de outros de que as vendas antecipadas foram fraquíssimas, Linhares engatou uma discussão pelas redes sociais onde questionava a idoneidade de promotores de shows e de donos das casas, sempre aludindo ao que chamou de "quebra frequente de contratos e descumprimento de acordos."

A manifestação irada e passional não pegou bem, justamente porque vinha de um artista em ascensão que voltava ao holofotes com um ótimo trabalho e que tinha fama de negociador afável.

Seja como for, esse contratempo que o tirou do sério foi compensado pela produtiva viagem pela Europa, onde teve reconhecida a qualidade do seu trabalho.

A morte de Mario Linhares interrompe uma trajetória de luta tenaz pela cultura e pelo trabalho diferenciado dentro do rock nacional. Perseverante ou teimoso? A resposta está em "The Beloved Bones: Hell", trabalho de extremo bom gosto e uma das obras mais importantes do metal brasileiro neste século.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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