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Warrel Dane, o cantor de metal que 'trocou' Seattle pelo Brasil

Combate Rock

13/12/2017 13h04

Marcelo Moreira

Warrel Dane (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Era improvável que um chefe de cozinha renomado no oeste dos Estados Unidos e empresário, dono de um restaurante concorrido, largasse o trabalho por alguns dias para percorrer um país imenso tocando com músicos locais e cantando sucessos de suas ex-bandas.

Não estamos falando de Henrique Fogaça, o carrasco do programa Master Chef, da TV Bandeirantes, e que canta no Oitão, uma paulada hardcore.

Mais improvável ainda era ver Warrel Dane, ex-Nevermore e Sacntuary, sentado em um canto de um bar de Santo André, no ABC Paulista, conversando animadamente com fãs e músicos sobre qualquer coisa e qualquer assunto. O cara adorava conversar.

É essa lembrança no bar A Gruta, no ABC, que muitos dos metaleiros paulistas terão do cantor de voz potente e rouca, que adorava vir ao Brasil para tocar em todos os lugares possíveis com uma banda formada por brasileiros ávidos por aprender um pouco com o mestre norte-americano.

"Na verdade, eu é que aprendo com todos vocês. É bom me sentir parte de orgânico de novo, de vez em quando nem lembro que tenho minha vida na gastronomia e me sinto parte deste 'recomeço', com todo mundo ralando e se divertindo", afirmou o músico tomando sua água com gás.

Dane morreu aos 48 anos nesta quarta-feira (13) em em São Paulo, onde estava gravando o seu segundo álbum solo. A o que tudo indica, foi vítima de um ataque cardíaco fulminante, um quadro que pode ter sido agravado por conta de diabetes.

"Minha música é muito apreciada, eu sei disso, mas parece que no Brasil as coisas saem fora do controle, aqui a galera realmente reverencia o Nevermore e o Sanctuary. Eu me sinto revigorado quando venho ao Brasil", disse o músico enquanto gastava a caneta assinando capas de CDs e camisetas.

Foram pelo menos três vindas ao Brasil para tocar em várias partes do país, sempre com o suporte do amigo e produtor Tiago Claro, da TC7 Produções e guitarrista do Seventh Seal, que fazia questão de levar o cantor aos bares que frequentava.

"Dá para dizer que o cara é gente como a gente, Tiago?", perguntei certa vez a ele no bar A Gruta, em outra oportunidade. "É gente boa demais. Tem, orgulho da carreira, mas não é deslumbrado e trata a gente como pessoas normais. Ele é como nós."

O cantor esteve no Brasil novamente em maio deste ano, onde fez uma miniturnê com as bandas Nervosa, Abiosi e Seventh Seal. Um dos shows mais concorridos ocorreu em Ribeirão Preto, no Casarão.

Cartaz do show em Ribeirão Preto, em maio deste ano

Com o Nevermore, Warrel Dane sentiu  gostinho do sucesso quando a banda se tornou uma das principais do metal norte-americano fora do new metal, ao juntar o peso do heavy tradicional com timbres mais modernos e cadenciados do guitarrista Jeff Loomis, hoje no Arch Enemy.

O grupo foi formado em 1991 em Seattle e passou longe da febre artificial do grunge, com suas bandas limitadas e estética pobre. Enquanto a cena mudava por causa do sucesso de Nirvana e Pearl Jam, o Nevermore apostava tudo no metal, e a paciência deu certo.

"Dreaming Neon Black" de 1999, e "Dead Heart in a Dead World", de 2001, foram os álbuns que catapultaram o Nevermore para o topo do metal americano, fazendo com que o quinteto saboreasse a convivência com superbandas em festivais e fosse paparicada, até certo ponto, pela MTV.

No entanto, parece que a guinada do mercado musicalç em tempos de downloads legais e ilegais pegou a banda em cheio, e a fonte começou a secar. Os lançamentos rarearam, assim como a criatividade, e os músicos começaram a ter outros interesses musicais e fora da música.

Tiago Claro (esq.) e Dane durante um show no Brasil neste ano (FOTO: ARQUIVO PESSOAL/FACEBOOK)

Não foi surpresa ver o Nevermore morrer de inanição a partir de suas últimas apresentações no Brasil em 2006. O último álbum, de 2010, foi "The Obsidian Conspiracy", e logo em seguida Loomis e o baterista Van Williams anunciaram que estavam fora.

Dane investiu então cada vez mais tempo na gastronomia e dedicava algum tempo à música, especialmente ao Brasil, onde tinha suporte e admiração.

"Gosto de encarar minhas vindas ao Brasil como se fossem uma 'férias', mas até certo ponto. Levo muito a sério a música que faço por aqui, mas não é como se fosse uma obrigação de ter de subir e cantar como se fosse uma turnê gigante. É gostoso, estou entre amigos e me pergunto às vezes se mereço toda a essa reverência. Quase não consigo descrever o quanto é bom estar no Brasil", disse o cantor antes de pedir licença e continuar a autografar CDs e camisetas e fazer selfies com os muitos fãs que lotaram o bar A Gruta em uma noite chuvosa de 2014.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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