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Público entorpecido: manifestações políticas passam batido no Rock in Rio

Combate Rock

19/09/2017 06h46

Marcelo Moreira

FOTO: DIVULGAÇÃO

Um governo acuado e cercado, com rejeição recorde, prontinho para ser extirpado. Se dependermos da classe política e vários setores da esquerda, Michel Temer não aguenta mais cinco minutos na Presidência.

No entanto, as ruas continuam caladas, assim como o Rock in Rio 2017. Uma índia discursando no show de Alicia Keys, Samuel Rosa do Skank desabafando, e mais nada. Nem mesmo um "Fora, Temer" aqui ou ali.

Em 2013, após o auge das passeatas de junho e julho, Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, ousou ensaiar um discurso contra as então "mazelas políticas".

Com viés esquerdista, sua fala foi confusa, mas mostrou que o palco carioca tinha espaço para manifestações, ainda que pontuais, contra uma série de retrocessos e golpes que começavam a nascer.

Outro artista influente, Tico Santa Cruz, também usou o palco do Rock in Rio para criticar as políticas desestruturantes do governo estadual do Rio de Janeiro e a falta de políticas públicas em vários aspectos.

Embora seu discurso fosse articulado e consistente, mostrando-se coerente com sua atuação de esquerda, escorregou ao defender mascarados que se infiltravam em manifestações e bateu forte na determinação que proibia cobrir o rosto em qualquer manifestação.

A "leseira" e o comodismo que dominam a atual sociedade são reflexo direto da falta de foco, de informação, de engajamento e de inteligência. Ou seria um silêncio da vergonha pelo fato de que o "golpe" deu errado?

Não se tem notícia de que Samuel Rosa e o seu Skank sejam engajados de esquerda e militantes políticos assíduos. Entretanto, seu desabafo contra os corruptos foi contundente: "Vocês matam pessoas!". Pena que não reverberou.

Os jornais impressos e seus portais destacaram a atitude do músico mineiro, mas poucos se dignaram debater o assunto.

Na plateia, na Cidade do Rock, os brados de Rosa foram recebidos com indiferença, assim como a índia Sonia Guajajara, que se emocionou ao falar dos direitos dos indígenas e de causas ambientais.

Quando o destaque "político" do Rock in Rio foi o discurso da modelo Gisele Bündchen, que discorreu sobre a ameaça ao meio ambiente no mundo todo, é sinal de que há bastante coisa errada em um mundo onde a liberdade de expressão é atacada todos os dias e a Justiça estapafúrdia acolhe um pleito estapafúrdio autorizando psicólogos estapafúrdios a aplicar a "cura gay".

O festival apenas começou, mas o torpor que domina o público que escuta bovinamente e não reage a manifestações pertinentes sobre as trevas que caem sobre o país ameaça se disseminar nos próximos dias de espetáculo.

O desabafo de Rosa foi genérico e forte, mas menos contundente do que o momento exige. Quem se habilita a incendiar o palco com porradas diretas e certeiras contra os corruptos e os golpistas?

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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