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Phil Collins fica em paz com seus demônios e conta sua redenção em livro

Combate Rock

23/08/2017 06h55

Marcelo Moreira

Phil Collins acreditou um dia que era indestrutível. Só que descobriu que era somente mais um astro do rock à beira da decadência, doente e em busca de redenção – ou da autodestruição.

O cantor e ex-baterista do Genesis entrou com louvor na galeria das personalidades despidas de pudor ou vergonha em suas autobiografias.

Possivelmente encorajado pelo amigo Eric Clapton, abriu o jogo no livro "Not Dead Yet" (Ainda Não Morri, sem edição brasileira por enquanto) e mostrou a face sombria do alcoolismo, da depressão e do desespero – algo que nenhum disco de ouro ou recheada conta bancária poderia sanar.

Com uma franqueza comovente e uma sinceridade assustadora – tal qual Clapton em sua própria biografia -, Collins mostrou confiança e coragem ao dissecar as suas viagens ao inferno dos excessos tóxicos e etílicos, com as previsíveis e esperadas consequências em relação à família e aos amigos nem tão amigos assim. Sua batalha contra o alcoolismo é o ápice da impressionante autobiografia.

A dramaticidade da luta pode ser descrita em um trecho da obra, em que foi solicitada até o testamento do músico, dada a gravidade da situação.

A bebedeira que começou na Suíça e terminou após um voo até Nova York. Em seguida, ficou na UTI, quando ouviu um médico sussurrar para sua família: "O testamento do senhor Collins está em ordem?".

Em entrevista ao jornalista Mark Savage, da BBC Music, Collins admitiu que hhouve muitos momentos de tristeza e gravidade como essa passagem.

"Todos por culpa minha. Às vezes, eu apenas desabava. Um dia, lembro que estava tentando levantar para dar um abraço nas crianças e me desequilibrei. Deixei marcas de dente no piso da sala", declarou o músico. "Outra vez lembro de estar subindo as escadas e desmaiar. Acordei com uma poça de sangue em volta da minha cabeça. São muitos momentos dos quais eu não me orgulho."

Sem família, sem mulher, sem shows, a vida de Collins virou um caos. Internou-se em sua mansão na Inglaterra e pensou que conseguiria lidar com o vazio.

Com os amigos cada vez mais afastados, e sem uma perspectiva real de sair do buraco, a bebida foi a saída mais fácil – e mais perigosa.

"Eu não tinha nem trabalho nem família. Sentia que eu merecia uma folga, eu queria ficar um tempo sem nada para fazer. Então, eu ligava a TV, assistia algum jogo e, você sabe, comecei a beber demais. Então, acho que eu estava tentando preenhcer um buraco. Mas agora eu reatei com a minha família, então, há um pouco mais de normalidade", afirmou à BBC Music.

Quem lê o livro e, em seguida, observa a vitalidade e o vigor com que Collins retornou às turnês depois de muito tempo, não acredita que os dois são a mesma pessoa.

Phil Collins se apresenta em Colônia, na Alemanha (FOTO: MAURICIO NORIEGA)

Em texto bem bacana reproduzido pelo Combate Rock, o jornalista Mauricio Noriega relata a ótima apresentação realizada em Colônia, na Alemanha, há dois meses – o cantor estava bem, afiadíssimo e com muita vontade de tocar.

Um dos três únicos artistas a vender 100 milhões de álbuns tanto em carreira solo como integrando uma banda, ele aliou seus trabalhos solos com shows e álbuns do Genesis, papéis em filmes, trilhas sonoras para a Disney e produção para artistas como Eric Clapton.

No livro, ele fala ainda de se reinventar com baladas pop e de como não sabia que um de seus discos havia vendido 25 milhões de cópias.

Em tom resignado, trata de seus divórcios e esclarece o que chama de boatos que o perseguiam, como o de que havia pedido divórcio por fax e de supostos desentendimentos com Robert Plant (Ex-Led Zeppelin). "Descobri que trabalhei demais – algo que eu não necessariamente me dei conta na época. E isso fez muitas coisas ruírem na minha vida."

E o mais triste de tudo, e que também foi comentado com o jornalista da BBC, é que um astro milionário não tinha o direito de recusar trabalho – pelo menos em sua visão. E essa paranoia é mencionada, ainda que sem muitos detalhes, no livro. "Se você disser 'não', o seu telefone pode nunca mais tocar" é a síntese de sua paranoia agravada pela depressão.

"Not Dead Yet" é um livro didático e interessante sobre os bastidores do rock e da vida fora dos palcos de um músico considerado da elite pop. Ganha relevância à medida que aborda vários temas de forma direta e sincera, sem subterfúgios, com uma linguagem simples.

Diante da enxurrada de livros e biografias de astros da música que inundam as livrarias nacionais desde 2010, é curioso que a obra ainda não tenha chamado a atenção de alguma editora especializada no tema.

 

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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