Topo

A estreia do Motorhead: há 40 anos, trio misturou fúria, peso e violência

Combate Rock

22/08/2017 07h03

Marcelo Moreira

O Motorhead foi a maior e melhor banda punk da história. A afirmação é considerada uma heresia por muita gente, mas, por outro lado, é cada vez maior a parcela de roqueiros que acreditam piamente na frase.

A estética e o vestuário dos integrantes nada tinham de punk, mas sim a atitude e o som sujo e pesado, que estremecia prédios e incomodava muito aqueles que gostavam de música certinha e domesticada.

Há 40 anos o trio inglês lançava o seu primeiro álbum, autointitulado. Na verdade, era o segundo, já que o primeiro, "On Parole", foi gravado em 1976, só que foi engavetado pela gravadora. Seria lançado somente três anos depois, quando o Motorhead já voava alto.

Agressivo, pesado, intenso e estridente, o som do trio era muito diferente do que se fazia em 1977 – a bem da verdade, eram bem diferente até mesmo do punk verdadeiro da Inglaterra.

No entanto, a porrada sonora levou alguns desavisados a jogar o Motorhead no mesmo balaio das bandas que cuspiam em tudo e em todos, com um barulho violento e caótico.

Curiosamente, mesmo com a sonoridade ríspida muitas vezes associada ao punk, o trio estava muito mais próximo dos punks norte-americanos, como Lemmy Kilminster, o baixista e vocalista, sempre alardeou. A afinidade com os Ramones era tamanha que os britânicos compuseram a música "R.A.M.O.N.E.S.".

Enquanto os Sex Pistols vomitavam contra o governo e muitas mazelas sociais e o Clash se mantinha engajado, com um discurso politizado, os Ramones celebravam a adolescência e uma certa alegria na existência, por mais que o quarteto estivesse caído e tivesse que encarar um sem número de dificuldades.

O mesmo pode se dizer do Motorhead, cujos temas na época fugiam da efervescência punk. Com um pouco mais de "sofisticação", os ingleses detonavam tudo e todos, em uma série de pancadas rápidas e precisas.

O espírito ainda é de banda de garagem, por mais que Lemmy já estivesse com 32 anos e ainda ralasse muito para conseguir pagar as contas e sobrar algum para as drogas e as bebidas.

O álbum não tinha o som elaborado e bem construído dos clássicos que viriam poucos anos depois. O som é cru e despojado, mas transmitia uma urgência e uma raiva que poucas vezes o rock tinha visto – possivelmente, só com MC5 e The Stooges.

O disco não chamou muito a atenção, mas serviu como cartão de visitas para estabelecer o trio, finalmente, como uma banda respeitada e para construir, ainda que de forma lenta, um público de pubs que adorava a energia punk e o som pesado.

Até então, poucos imaginavam que o álbum legaria duas músicas que só muitos anos depois virariam clássicos da banda, como "White Line Fever" e "Iron Horse/Born to Lose", para não falar na envenenada versão de "Train Kept a Rollin"' e da sombria e assustadora "Motorhead", música de Lemmy gravada anteriormente pelo Hawkwind.

Com estética punk ou não, o fato é que o Motorhead trilhou seu caminho de forma buscar peso em composições mais elaboradas, distanciando-se rapidamente das bandas contemporâneas.

No fundo, tudo era blues, um blues nervoso e instigante, tocado a uma velocidade inimaginável e em volumes ensurdecedores. Não é à toa que, assim como Dio, Lemmy e seu Motorhead são unanimemente reverenciados.

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

A estreia do Motorhead: há 40 anos, trio misturou fúria, peso e violência - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Mais Posts