O holograma de Dio e os embustes nossos de cada dia
Combate Rock
27/07/2017 06h43
Marcelo Moreira
Para roqueiros que também são fãs de "Jornada nas Estrelas" – que acreditam no teletransporte, como pregado no seriado -, a notícia é alvissareira: uma turnê completa com um "holograma" de Ronnie James Dio, com o suporte de uma banda formada por músicos que tocaram o vocalista ao longo de quase 30 anos.
É isso o que promete uma empresa de cria os tais hologramas, em parceria com Wendy Dio, ex-mulher do cantor e que cuida de seu espólio e fundações que levam o nome dele.
Dio morreu em 2010, aos 67 anos anos de idade, vítima de câncer no estômago. Desde então, alguns dos músicos que o acompanharam em sua carreira solo fizeram turnês tocando seus hits, sendo que a Dio Disciples foi a mais célebre.
Uma nova turnê, intitulada "Dio Returns", começa com uma série de datas pela Europa em 30 de novembro, antes de passar pela América do Sul, Austrália e Ásia. A lista completa de datas ainda não foi confirmada, mas o Brasil está entre os 21 países citados no pôster que anuncia a turnê.
A pergunta é óbvia: por mais que tenha sido um dos maiores ídolos do rock, o que levaria alguém a pagar caro para ver duas horas de um show cuja atração é um holograma cantando "covers" de um artista morto há sete anos?
O próprio impacto da notícia mostra algo que a maioria de nós se recusa a admitir: gostamos de ser enganados, e várias vezes.
A turnê do holograma está sendo tratada como um embuste, uma piada de mau gosto, e todos aqueles que se empolgaram com a notícia admitem, sem pudor, que sabem muito bem que se trata de uma embromação, mas ainda assim acham divertido.
É muito, mas muito pior do que aqueles que ainda se descabelam e choram com os "fantásticos" shows de bandas cover internacionais que passam por aqui, como o tal Australian Pink Floyd e um dos Bee Gees, que em breve vem ao Brasil.
Ok, não se trata de uma picaretagem, até porque ninguém está omitindo o fato de que se trata justamente de um holograma, ou seja, uma banda de karaokê fazendo a cama para uma imagem virtual. Ninguém será enganado, tudo será feito às claras.
Sendo assim, a pergunta persiste: o que leva alguém a pagar para ver imagens pré-gravadas de um artista que morrer há sete anos?
Carências de ídolos? Oportunismo? Ou o surgimento de uma nova tendência de entretenimento dentro do show business? Ainda é cedo para definir o que a novidade de "Dio Returns" significará.
Seja como for, é muito improvável que, no curto prazo, o tal holograma supere o prazer de ver o "verdadeiro" Dio em sua carreira solo ou com o Black Sabbath em uma sala boa, com imagem perfeita, em DVD ou blu-ray.
Ok, é um embuste, como uma luta daquelas do tipo Gigantes do Ringue, onde todo mundo se diverte, mesmo sabendo que é tudo fake. O que incomoda é que um mestre como Dio não merecia ser vilipendiado dessa forma.
O espetáculo foi produzido pela empresa de hologramas Eyellusion, e o "Dio" fantasma irá cantar diversos hits do músico, incluindo "Holy Diver", "Rainbow in the Dark", "We Rock", "King of Rock and Roll", "Neon Knights" e "Heaven and Hell", do Black Sabbath, e "Man on the Silver Mountain", do Rainbow.
Na apresentação, são usados áudios de shows de Dio, somados a uma banda e a um cenário que relembra as turnês "Sacred Heart" e "Dream Evil".
O repertório apresentado pelo holograma irá ser diferente de noite para noite, e existe a possibilidade de a banda tocar apresente também com os vocalistas Tim "Ripper" Owens e Oni Logan em datas selecionadas – os dois foram os vocalistas do projeto-tributo Dio Disciples.
O grupo que acompanha o projeto é formado pelo guitarrista Craig Goldy, pelo baixista Simon Wright, pelo tecladista Scott Warren e pelo baixista Bjorn Englen.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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