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Lemmy, um gigante gentil e que vivia do passado, diz nova biografia

Combate Rock

24/07/2017 07h05

Marcelo Moreira

Nem biografia, nem definitiva. O marketing desta vez jogou contra, mas o livro é bom e interessante, com informações nova e nem tão boas para o biografado.

Mick Wall é certamente um do melhores escritores de rock. Com livros bons a respeito de Metallica, Black Sabbath e mais uma série de artistas, disputa o título com caras do calibre de Joel McIver, Marc Spitz e Philip Norman.

Seu mais recente livro lançado no Brasil é "Lemmy – a Biografia Definitiva", fresquinho e com detalhes a respeito dos últimos meses de vida do líder do Motorhead. De saída a obra tem um problema complicado: o autor foi assessor de imprensa banda crida por Lemmy Kilmister em 1975.

Já de largada comprometida por essa informação, o inglês Wall, que além de assessor se tornou amigo pessoal do líder do Motorhead, foi inteligente e optou por uma saída original: em vez de biografar o amigo morto em 2015, decidiu escrever no formato de "crônica biográfica".

E qual a diferença? O rigor da biografia, com suas amarras cronológicas, é deixado de lado e o autor mistura fatos históricos documentados com impressões pessoais, trechos de entrevistas formais e de conversas pessoais sobre trechos diversos.

O livro foi recém-lançado no Brasil pela GloboLivros com ótima tradução. E a leitura é recomendada por seu leve, rápida e informativa, e também pela pouca cerimônia com que Wall não se furta a detonar o Motorhead e o amigo Lemmy.

O autor conta detalhes interessantes sobre os últimos três anos de vida de Lemmy – morto em dezembro de 2015, em consequência principal de um câncer no cérebro.

Ao contrário do que foi divulgado, os problemas de saúde de Lemmy Kilmister eram muito graves já a partir de 2000 e pioraram em 2010 – diabetes distúrbios cardíacos eram os mais graves.

A partir de 2012, tudo ficou pior com os constantes cancelamentos e adiamentos de shows – e as seguidas internações, até que finalmente a saúde cobrou o preço dias depois que ele completou 70 anos de idade.

E os problemas de saúde são fartamente documentados com depoimentos do guitarrista Phil Campbell, que acompanhou Lemmy no Motorhead até o fim -, o amigo de 30 anos Morät e os ex-empresários Doug Smith e Todd Singerman.

É comovente ler as declarações de como Lemmy, um exemplo de excessos de todos os tipos, lutou contra a decadência física e contra os problemas de saúde – de tal forma que implorava a amigos e colaboradores que não deixassem ninguém saber que ele precisava usar bengala para andar e cadeiras de rodas – e lambretas scooter nos bastidores de shows.

Wall também não perdoa o fato de que o Motorhead, em sua opinião, deixou de ser uma banda relevante artisticamente quando o trio original se desfez na primeira metade dos anos 80 – primeiro o guitarrista "Fast" Eddie Clarke, em 1982, e depois o baterista "Philty Animal" Taylor", em 1984.

Desde então, o trio que virou quarteto e que depois voltou a ser trio pairou desde então como um fantasma, gravando e lançando discos ruins até o fim, vivendo mais da fama da banda dos anos 70 e do personagem caricato em que Lemmy se transformou.

Mick Wall, entretanto, reverencia o amigo ao constatar que se transformou em uma lenda digna do termo em 55 anos de carreira e que se tratou de um artista de extrema qualidade, um personagem digno do tamanho que adquiriu.

Mais ainda: por trás da imagem de selvagem bruto e de ares de fora da lei, Lemmy era um cavalheiro, extremamente formal e educado com quem não o conheceu, muito culto e apaixonado por história e política, por mais que tenha abandonado cedo a escola e tenha desprezado por inteiro a faculdade.

Para agravar a sua solidão, ainda gostava de exaltar os feitos do passado, tentando realçar a importância de um Motorhead em franca decadência e sem lançar álbuns impactantes.

"Lemmy tentou  como pôde manter sua abanda em alta e acreditava que seus álbuns mais recentes eram ótimos, mas não conseguia explicar o porquê de as principais músicas desde sempre eram aquelas que foram gravadas nos três primeiros álbuns", diz o autor.

A obra é de boa qualidade e, provavelmente, a melhor sobre o Mortohead já publicada. É superior a "Motorhead – A História Não Contada", de Joel McIver, também, já editada em português, por conter informações inéditas e mais relevantes – muito em parte por conta da amizade íntima com de Wall e Lemmy.

Também é superior a "White Line Fever", a autobiografia oficial de Lemmy, lançada no começo dos anos 2000 e só recentemente lançada no Brasil, embora ninguém ache o livro para comprar.

Enquanto "Lemmy" se mostra bem informativo e se utilize de uma modalidade em desuso – o jornalismo interpretativo -, misturando fatos, opinião pessoal e dando a espaço a muita gente, incluindo desafetos, como Dave Brock (vocalista do Hawkwind, uma das bandas de Lemmy antes do Motorhead). o ex-empresário Doug Smith e Brian "Robbo"Robertson (guitarrista, ex-Thin Lizzy e que foi demitido por Lemmy do Motorhead em 1983), a autobiografia não passa de monólogo maçante recheado de histórias engraçadas e outras muitos cheias de ressentimentos.

"Lemmy" tem boas histórias, muitos exageros e um relatos sucintos e necessários sobre os vários e muitos fracassos do baixista e vocalista e de sua banda. No entanto, é um relato preciso e delicioso de um dos personagens mais fascinantes do rock.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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