Em tempos tristes em que Lobão e Roger Moreira assumem a posição de porta-vozes do pensamento retrógrado e virulento no país, é um alívio perceber que há artistas que, em cima do palco, se afirmam como resistência a esta onda conservadora. É o caso do duo sergipano The Baggios.

Calcado no seu último lançamento, "Brutown", Julico Andrade e Gabriel Perninha se apresentaram na quinta-feira (20) no Centro Cultural São Paulo, dentro da programação do "Mês do Rock". Encorpados com a presença de Felipe Faraco (teclado) e Rafael Findas (baixo), The Baggios conseguiram dar o peso musical necessário para as letras de do álbum – cada vez mais atuais neste triste ano de 2017 – é o crime ambiental de Mariana (ainda sem condenação), atentados terroristas mundo afora, é a situação política do país (em Saruê, Julico diz: "Essa música poderia se chamar 'Fora, Temer"')

Com peso, humor ácido e talento, The Baggios mostram que, sim, é possível aliar boa arte com posicionamento político. A presença de teclado e baixo (Rafael atuou como convidado especial), Julico ganha liberdade para explorar riffs e solos, fazendo com que eu reafirme o que já foi dito no passado: o dia que tivermos a União das Repúblicas Socialistas do Agreste (U.R.S.A), sonho do grande chapa Arthur Chrispin, Julico será seu primeiro guitar hero.

O show teve participações de Siba e de Tagore. Este último proporcionou uma versão arrasa-quarteirão de "Vou Danado Pra Catende", de Alceu Valença. No bis, mais uma versão, dessa vez de Raul Seixas ("o verdadeiro pai do rock", segundo Julico) – "Quando se quer entrar num buraco de rato, de rato você tem que transar", cantou. Parece o Brasil de 2017, não?