Topo

Sérgio Duarte mergulha fundo na tradição e no purismo do blues de Chicago

Combate Rock

12/07/2017 06h43

Marcelo Moreira

Há uma característica que une os músicos de blues brasileiros, em especial aqueles que se aventuram a trabalhar em São Paulo: a persistência.

Se os guitarristas Igor Prado e Celso Salim batalharam por muito tempo nos botecos paulistas antes de engatarem trajetórias bem-sucedidas nos Estados Unidos, gente como Ivan Marcio (gaita), Roger Gutierrez (guitarra), Marcio Scialis (violão e gaita), Ari Borger (teclados) Adriano Grineberg (teclados), Edu Gomes (guitarra), Vasco Faé (violão e gaita), Rodrigo Mantovani (baixo), Humberto Ziegler (bateria), Little Will (gaita), Marcio Abdo e muitos outros fazem questão de mostrar que o gênero está vivo.

Também é o caso de Sérgio Duarte, gaitista, violonista e cantor com milhares de quilômetros rodados e que acaba de lançar seu novo CD, "Highway Man".

Com experiência de ter vivido e tocado nos Estados Unidos, aprendendo com grandes mestres de Chicago – assim como fez Ivan Marcio, Duarte é um primor de técnica e feeling, investindo pesado no blues de raiz com releituras de clássicos do cancioneiro norte-americano – e também de nem tão clássicos assim.

Se Big Chico é um especialista em adicionar um molho de rhythm & blues e funk ao seu blues festeiro, enquanto Marcio é craque em modernizar a gaita blues mesmo em hits de sempre, Duarte é quase um purista, fazendo questão de garimpar timbres clássicos e de criar uma ambientação de botequim esfumaçado dos confins de Illinois, estadop que abriga Chicago.

Os amigos gostam de brincar que Sergio Duarte é uma pessoa caótica e que trabalha de uma forma insana. "Highway Man", no entanto, parece demonstrar o oposto: tudo é simples, mas muito bem encaixado e de uma forma metódica.

Essa meticulosidade se materializa em fraseados bem elaborados e uma sonoridade "vintage", temperados por um vocal ora rouco, ora delicado, pontuando as intervenções cirúrgicas dos violões com timbres cristalinos da guitarra de Leo Leon Duarte, o filho do gaitista, e das teclas elegantes de André Youssef.

A faixa-título, "Mr. Highway Man", do lendário Howlin' Wolf, dá o tom, abusando do clima nostálgico e clássico, embora Duarte faça questão de manter certa "rusticidade" que a canção pede.

"Letter From Home" ganha uma interpretação mais solta, quase suave, enquanto que "You Gotta Move", de Elmore James recebe o peso que necessita.

"I'm Ready", de Willie Dixon, é mais básica e respeita as versões clássicas mmais antigas, mas é em "Bring It On Home", do mestre Sonny Boy Williamson, que Duarte se mostra um gaitista versátil e criativo, com uma versão mais expansiva, digamos assim.

Quase como se fossem um bônus, as duas últimas das 12 canções deixam o astral mais desanuviado com versões elegantes e mais leves.

"Little Girl", do gigante da gaita Little Walter, ganha uma mistura de timbres clássicos e potentes, enquanto que "Watch Out", do inglês Peter Green, é soberba na escolha dos arranjos e no ataque da melodia principal.

Assim como os mais recentes trabalhos de gaitistas como Big Chico, Little Will e Ivan Marcio, "Highway Man" teve um um trabalho muito criterioso e curadoria e produção de Chico Blues, e o resultado é muito bom.

Duarte prova que o blues é um gênero que merece atenção minuciosa do ouvinte mais exigente, o que contribui para que a qualidade dos lançamentos mais recentes continue alta.

Resta agora saber quem vai se aventurar a fazer um trabalho totalmente autoral em um álbum de blues no Brasil para que não deixe gente como Big Gilson e Cris Crochemore como exceções na atualidade.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Sérgio Duarte mergulha fundo na tradição e no purismo do blues de Chicago - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Mais Posts