O fracasso da Virada Cultural 'confinada' e o desprezo pela cultura em São Paulo
Combate Rock
23/05/2017 06h38
Marcelo Moreira
Público lotou a avenida São João para ver os veteranos roqueiros Mark Farmer e Uriah Heep em 2014, na avenida São João (FOTO: LEANDRO CHAPELLE/DIVULGAÇÃO/VIRADA CULTURAL)
Os adjetivos são vários: fiasco, fracasso, desastre, evento esvaziado. Todas as previsões a respeito da "nova" Virada Cultural Paulistana confinada se confirmaram, embora o prefeito João Doria e sua equipe pouco tenham se importado com isso – ele sequer deu as caras.
No intuito de deixar a sua "marca" ao desestruturar todo um trabalho correto que vinha melhorando ano a ano desde a criação do evento, em 2005, na gestão José Serra (PSDB), o atual prefeito mostra o seu pouco apreço à cultura e ao entretenimento de qualidade.
Foram muitos os palcos vazios no Sambódromo do Anhembi e no autódromo de Interlagos, assim como no Parque do Carmo. Músicos como o cantor Fágner e o ator Thiago Abravanel reclamaram bastante da falta de estrutura e dos palcos espalhados, descaracterizando um dos grandes acertos culturais na cidade de São Paulo.
No centro da cidade o público foi escasso também. A chuva e o frio não servem de consolo, pois em edições anteriores a chuva foi mais forte e o frio, mais intenso, mas houve grande público nas edições em que as principais atrações eram na região central.
Foi o caso, por exemplo, do frio glacial e da garoa intermitente durante os shows de Uriah Heep e Mark Farner (ex-Grand Funk Railroad) em 2014, no palco São João, montado na praça Júlio Mesquita – o público lotou a avenida da praça em questão até a esquina das avenidas Ipiranga e São João.
Outro fator que espantou os espectadores dos poucos palcos e tablados itinerantes foi a absurda e violenta ação policial na Cracolândia, também na região central, na manhã de domingo.
A truculência dominou a ação comandada pessoalmente pelo prefeito João Doria e coronéis da Polícia Militar – mais uma atitude que reforça todo o "apreço" que o administrador da cidade pela área cultural.
Desfigurada e esvaziada, a Virada Cultural foi destruída em seu principal conceito – a ocupação dos espaços públicos por uma população que pouco acesso tem a eventos culturais de qualidade – e gratuitos.
A ideia da "noite em claro", transformando uma região geralmente debilitada e detonada em um manancial de cultura e entretenimento, foi soterrada por argumentos rasos e desconectados como "falta de segurança", "prejuízo à mobilidade" e "incômodo aos moradores", como se a região central da capital paulista tivesse um número transbordante de moradores.
Virada Cultural confinada a locais fechados e com hora para acabar, sem falar nas falhas absurdas e gritantes. Show em Interlagos com a realização simultânea de uma corrida de automóveis no domingo? Como assim? Falhas técnicas vergonhosas? Shows cancelados por falta de público, como ocorreu com Fafá de Belém? Clique aqui e leia o relato detalhado do fiasco da Virada Cultural no portal UOL.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
Sobre o Blog
O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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