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Vanguardista e indomável, Allan Holdsworth morre aos 70 anos

Combate Rock

17/04/2017 14h59

Marcelo Moreira

Allan Holdsworth (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Um crítico de rock disse nos anos 70 que que tinha visto o futuro do rock em Nova Jersey, e que o nome daquele futuro era Bruce Springsteen.

Um pouco antes, entretanto, naquela época, outros visionários tinham sido mais definitivos e precisos ao decretar que o futuro da música e da guitarra estava nas mãos de um instrumentista inglês excêntrico chamado Allan Holdsworth.

Eclético, veloz e inventivo, Holdsworth, que morreu nesta segunda-feira na Inglaterra, aos 70 anos (causa ainda não revelada), tinha admiradores em todos os espectros da música, indo de jazzistas a violonistas clássicos. Sua técnica colossal e impressionante o colocou no topo, de onde nunca saiu.

Alguns críticos se incomodavam com a frequente qualificação de "gênio" para o guitarrista, e isso vinha de seus pares.

Seja em uma das encarnações do magnífico Soft Machine ou na primeira formação do mítico UK ( ao lado de John Wetton no baixo e vocais, ex-King Crimson, Bill Bruford na bateria, ex-Yes e King Crimson, e Eddie Jobson nos teclados, ex-King Crimson), Allan Holdsworth mostrou-se um estilista nos timbres complexos e únicos e no uso inteligente das som eletrônicos e sintetizados.

A melhor frase a respeito da genialidade do mestre da guitarra veio de outro mestre ainda mais genial – John McLaughlin, da Mahavishnu Orchestra: "Eu roubaria tudo o que Allan estava fazendo, se eu pudesse descobrir o que diabos era que ele estava fazendo".

Ao mesmo tempo em que era discreto, também era genioso e pouco tolerante com ideias que fugiam de seus padrões de qualidade. Odiava ser associado ao rock progressivo, onde ele efetivamente atuou a maior parte de sua carreira de mais de 50 anos.

Os companheiros de Soft Machine o admiravam na mesma proporção em que se irritavam com seu perfeccionismo e com a imposição de timbres estranhos – e geniais – ao som instrumental do grupo. As tensões logo ficaram insustentáveis e o genioso gênio saiu em 1975.

No UK, dois anos depois, aquele que deveria ser um dos melhores supergrupos da história, o choque de personalidades ocorreu no primeiro ensaio.

Bill Bruford, um ás da bateria do rock e também considerado um dos seres mais difíceis do rock, não perdeu tempo ao falar das criações estranhas e malucas de Holdsworth.

O processo foi todo tenso e rendeu um excelente álbum de estreia do UK, mas o estresse foi tanto que Holdsworth saiu quase imediatamente ao lançamento.

Foram inúmeros os projetos que engatou a partir dos anos 80, sempre preocupado com o conteúdo e desprezando os holofotes. Seguiu underground, mas como referência para Eddie Van Halen e Joe Satriani, por exemplo, com quem dividiu capas e mais capas de revistas especializadas.

Allan Holdsworth se tornou um dinossauro em termos mercadológicos: indomável, vanguardista e criativo, era um radical livre que foi injustamente "guetificado" como artista de rock progressivo e "guitarreiro" – não que isso fizesse qualquer diferença para ele.

A guitarra era a sua única prioridade. Sua missão era a busca do timbre impossível, e a cumpriu muito bem.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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