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Black Sabbath se despede com dignidade - e isso deve ser celebrado

Combate Rock

07/02/2017 06h49

Marcelo Moreira

Os vexames foram inúmeros, assim como as tretas e as decisões erradas, a ponto de quase destruir tudo várias vezes. E, no entanto, foi no adeus que fizeram o maior acerto de todos: a opção pela dignidade e pelo respeito ao imenso legado.

O Black Sabbath acabou, e parece que o adeus é definitivo, tanto dos palcos como dos estúdios – torçamos para que seja. O show em Birmingham, na Inglaterra, no último final de semana, teve drama, comédia e um astral lá eem cima. Como deveria ser.

Foram 49 anos de uma trajetória turbulenta e repleta de obstáculos de todos os tipos – não poderíamos esperar nada diferente daqueles que praticamente inventaram o heavy metal.

De forma esperada para alguns, e surpreendente para outros, o fim do Black Sabbath foi celebrado. Como tinha de ser.

Tocando bem, com ânimo e vontade, a banda mostrou um enorme respeito ao público e aos fãs em geral – sair de cena antes que ficasse desfigurada (como o AC/DC, agora restrito a Angus Young como único membro fundador e integrante da formação clássica) e se transformasse em piada.

É desnecessário repisar aqui a questão do legado que uma banda gigante como essa deixa – legado que fica ainda maior pela forma como o grupo deixa a cena.

Na verdade, todos eles deveriam morrer antes de ficarem velhos. Eles, os grandes ídolos do rock, eternos e gigantes deveriam ter morrido antes de ficarem velhos, como vaticina os icônicos e proféticos versos de "My Generation", do Who.

Entretanto, quase todos eles se recusaram. Buscaram a eternidade, mesmo que na forma de lendas, mas isso não foi o suficiente.

Querem ser imortais, mesmo já sendo. Só que insistem, em uma comovente e inglória batalha contra o tempo e a própria saúde. Muitos foram e voltaram, ignorando o impacto negativo, mas demonstrando coragem. No entanto, nem todo mundo é B.B. King, que ficou em cima do palco até os 88 anos de idade.

O fim de uma banda clássica e cinquentenária tem de ser celebrado como uma grande homenagem a artistas que estiveram em ação juntos por 49 anos. É uma demonstração de respeito a uma das maiores bandas de todos os tempos e que reconhece que é hora de parar, principalmente por questões físicas, de saúde.

Black Sabbath em 2016 FOTO: DIVULGAÇÃO

E é bom lembrar que o Sabbath é uma das pouquíssimas bandas que nunca encerraram a carreira (ao lado de Rolling Stones, Iron Maiden, Metallica, U2 e alguns outros).

Houve longos hiatos, mas nunca um anúncio oficial de fim – para, constrangedoramente, anunciar um "retorno" poucos anos depois, como The Who, Allman Brothers, Lynyrd Skynyrd e tantos grupos por aí…

Celebremos a saída de cena do Black Sabbath antes que virasse uma comédia sem graça. A volta de Ozzy Osbourne foi um "sopro de vida", mas a sabedoria prevaleceu e o "sopro" mostrou que ainda havia inspiração e vontade para fazer ao menos um último bom álbum.

O álbum veio, assim como uma última turnê. Cumpriram bem a missão, mesmo que sem Bill Ward, um monstro das baquetas, que ficou de fora dos acordos da volta, em 2012.

Em um mercado musical completamente modificado, onde a música ficou gratuita e menos valorizada, saber sair de cena é cada vez mais uma arte difícil de abordar. O Black Sabbath o faz com dignidade e respeito, e isso deve sim ser brindado e celebrado.

 

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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