John Wetton, uma referência no virtuosismo e precisão no baixo
Combate Rock
31/01/2017 15h37
Marcelo Moreira
Ele era grandalhão, forte como um jogador de futebol americano, mas manso como um monge. Tinha gente que achava que ele era ator de cinema. No entanto, tocava baixo como ninguém, era roqueiro até o osso, mas queria muito fazer sucesso. Destacou-se no rock progressivo e no hard, mas só estourou mesmo com mais de dez anos de carreira, e fazendo música pop.
John Wetton, músico inglês referência em seu instrumento, burilava cada nota em seu baixo, e ainda tinha a imensa capacidade de cantar bem, seja no King Crimson, no Uriah Heep ou no Asia, para não falar na longa e prolífica carreira solo.
Morto neste dia 31 de janeiro, aos 67 anos, em consequência de um câncer, é o terceiro músico de rock importante a morrer no espaço de quatro dias – desde sábado morreram Butch Trucks, baterista e percussionista dos Allman Brothers (tinha 69 anos) e Geoff Nicholls, músico de apoio do Black Sabbath (68 anos).
Embora fosse um ótimo vocalista, quem o procurava queria a precisão de suas notas, os fraseados curtos e rápidos e a capacidade de rápido entrosamento com qualquer baterista.
Se ele foi discreto no King Crimson, ofuscado pelo líder Robert Fripp, o mágico guitarrista, e no Roxy Music, onde ficou pouco tempo, no Uriah Heep conseguiu mostrar seu ótimo trabalho, e tudo isso em três anos, entre 1973 e 1977.
Nessa época ainda não era uma referência no baixo, mas estava chamando a atenção rapidamente. Tanto que o baterista Bill Bruford (ex-Yes e King Crimson) não pensou duas vezes em convidá-lo para o baixo e o vocal da superbanda UK, que ainda tinha Eddie Jobson (ex-King Crimson) nos teclados e no violino.
Foi aí que veio o reconhecimento pleno de seu talento, em uma jornada de rock progressivo que encantou parte do mercado inglês, especialmente no primeiro álbum da banda, lançado em 1978. Entretanto, o tão ambicionado sucesso não veio.
Teve esperar mais quatro anos para que finalmente visse seu trabalho tocar insanamente no rádio e ver clipes toscos passando direto na MTV. Já em outro supergrupo, o Asia finalmente estourou mundialmente com duas músicas, "Heat of the Moment" e "Only Time You Tell".
Era 1982 e o fato de o supergrupo de rock progressivo optar pelo direcionamento mais pop não foi nenhum problema – na verdade, até gostou de seguir a sugestão do tecladista Geoff Downes, ex-Yes.
Quem não gostou muito foi guitarrista Steve Howe, outro ex-Yes, mas o sucesso estrondoso o convenceu do acerto da medida. O baterista, o monstro Carl Palmer (ex-emerson, Lake and Palmer), foi na onda e não precisou de muita conversa para ser convencido por Downes.
O Asia fez muito sucesso com seus primeiros três álbuns, onde o AOR (álbum orientado para o rádio, na sigla em inglês), o que deu muita segurança para que Wetton abraçasse os mais diversos projetos, desde CDs solo de grande qualidade, voltados para o rock, ou parcerias com amigos, caindo de cabeça no rock progressivo.
Outro hit que marcou a sua carreira foi "Did It All for Love", do projeto Phenomena, liderado pelo multi-instrumentista Tom Galley. A música foi uma daquelas onipresentes em rádios e comerciais de cigarro na televisão, expandindo o público do músico imensamente.
Nos últimos, em ritmo desacelerado, Wetton se dedicava mais uma vez ao Asia, que voltou pela quarta vez em meados dos anos 2000 – no início dessa volta a formação era a original, mas Steve Howe optou em 2011 em ficar apenas no Yes.
Com a descoberta da doença, desde o final de 2015, o tratamento o obrigou reduzir as apresentações ao vivo e trabalho no estúdio – no Asia, até agora, estava sendo substituído temporariamente nos vocais e no baixo pelo multi-instrumentista e produtor Billy Sherwood, que atualmente é o baixista e vocalista de apoio do Yes (entroou no lugar de Chris Squire, morto em 2015).
Wetton é mais um grande nome do classic rock que vai embora antes da hora. Asia, UK, Roxy Music, Family, King Crimson e até mesmo o cultuado Wishbone Ash… Todas essas bandas devem bastante a esse carismático e talentoso músico.
https://www.youtube.com/watch?v=rxfX1g9N6rA
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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