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Prêmio Nobel de Literatura, Bob Dylan continua 'salvando' a música

Combate Rock

14/10/2016 07h00

Marcelo Moreira

Bob Dylan (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 

O garoto caipira era tímido, mas ao mesmo tempo muito confiante. Foi desencorajado quando chegou ao Greenwich Village, em Nova York, bem no comecinho dos anos 60: "A concorrência é enorme, e há mais intelectuais e artistas bons por metro quadrado do que ratos".

Robert sonhava demais, e viajava demais, e produzia demais, mas a pequena Duluth, em Minnesota, não tinha condições de entender – e nem muito interesse de entender – a inquietação do jovem aspirante a artista.

E foi com coragem que Robert assumiu o apelido Bob, trocou o sobrenome jodeu Zimmerman por Dylan e ganhou o mundo com seu violão e sua poesia refinada, ainda que um tanto ingênua e inocente, em 1961, em uma da capitais do mundo.

A coisa cresceu tanto que o bardo de Minnesota ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2016, coroando uma das maiores carreiras artísticas de todos os gêneros na história da humanidade.

Bob Dylan não tinha o sofrimento e a pegada visceral de grandes nomes do folk, como Peter Seeger, Arlo Guthrie e Woody Guthrie, por exemplo, mas logo o público percebeu algo muito diferente no trabalho do menino que cantava "pelo nariz" e que tinha alguma dificuldade com o violão: as letras eram mais sofisticadas, muito bem elaboradas para um jovem de 20 anos. Sua mensagem era clara, mas poética e com gemas de metáforas escondidas em muitos versos.

Esse talvez tenha sido apenas o impulso para que o tímido Bob deixasse de ser apenas o bardo interiorano de letras binspiradas para se tornar um nome crucial e fundamental para a cultura ocidental.

Aos 75 anos de idade, completados em maio, Dylan ainda carrega um legado gigantesco a cada show e a cada CD que lança. O mais recente trabalho é "Fallen Angels", recém-lançado, onde o músico se mostra mais melancólico e deixa um pouco de lado a sua contundência.

É o segundo trabalho onde revisita alguns clássicos da música norye-americana das três primeiras décadas do século XX, e Dylan se sai muito bem como intérprete, em um caminho parecido com o de outro gênio septuagenário, o guitarrista Eric Clapton.

É um aprofudamento no jazz, no lues, no gospel e no folk, com a característica sombria e melancólica que suas interpretações recentes atingiram nos últimos tempos.

O bom gosto é inevitável, especialmente em interpretações tocantes como nas duas canções que fecham o trabalho, "That Old Black Magic" e "Come Rain Or Come Shine". Em outras, Dylan ressalta o lirismo e a delicadeza, como na suave "Melancholy Mood" e na bela "It Had To Be You".

Agitação, rebeldia e volatilidade

São pelo menos 56 anos de carreira musical, com um impacto cultural talvez só comparado com o dos Beatles. Não apenas Dylan é reconhecido facilmente pela própria música nos primeiros acordes: ele se tornou, contra a vontade, um símbolo de uma geração e de gêneros culturais.

O trabalho coalhado de temas políticos nos anos 60, obviamente, o levou para a defesa dos direitos civis, atraindo a admiração geral, mas também o ódio de uma direita norte-americana fossilizada e assustada com a velocidade das mudanças. Dylan era a voz das ruas, das mudanças e dos protestos. Passou a ser temido.

Só que isso ocorreu também com os fãs. Eles temiam que tipo de Bob Dylan encontrariam da próxima vez que o vissem, ou o ouvissem.

Inquieto e sempre buscando desafios literários e musicais, revoluxionou a própria música quando adotou a guitarra elétrica em 1966, motivo de ódio e satanização por parte dos piratas. Tocou a vida em frente e se tornou ainda maior.

Esqueça as suas idas e vindas em relação às religiões que abraçou e às dificuldades de relacionamento que teve com namoradas e esposas. Esse aparente teve enorme contrubuição para que sua carreira atingisse o status de lenda.

Uma boa definição para a importância de Bob Dylan para a música foi dada anos atrás pelo jornalista Alexandre Matias, um dos blogueiros do UOL Entretenimento e UOL Música.

"Dylan talvez mereça ser lembrado como o sujeito que salvou um dos maiores legados do século passado: a canção norte-americana.

Uma tradição que se iniciou quando definiram que os novíssimos discos de vinil não podiam carregar mais do que quatro minutos de música – e, portanto, não serviam para gravar música erudita.

Foi inventado um gênero que misturava a tradição popular ao modelo fordista de produção – e logo os cânticos do povo eram enquadrados ao formato introdução-estrofe-refrão-estrofe-solo-refrão, que funcionou como terreno fértil para novos mestres como os Gershwin, Cole Porter, Irving Berlin, Johnny Mercer e Louis Armstrong."

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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