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Bob Dylan prêmio Nobel: o paradoxo de levar o rock ao topo do 'sistema'

Combate Rock

13/10/2016 12h28

Marcelo Moreira

Bob Dylan (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Nem nos melhores sonhos de quem gosta de rock a cena era factível: um roqueiro ganhando o Prêmio Nobel de Literatura, o honraria máxima da humanidade para os feitos nas principais áreas do conhecimento.

Se havia alguém que insistia em não reconhecer o rock como manifestação artística relevante, o prêmio dado a Bob Dylan destrói qualquer argumento nesse sentido.

No entanto, não há como não observar o grande paradoxo que a Academia Sueca levantou ao premiar o bardo de Minnesota: contestador, rebelde e libertário, o rock acaba, de certa forma, "cooptado" pelo sistema por meio de uma premiação de caráter conservador (ao menos em sua essência).

Bob Dylan foi o músico que melhor soube expressar uma visão de mundo de uma geração marcada pelo pós-guerra, ao mesmo tempo em que, de longe, se tornava o melhor cronista do cotidiano. É diferenciado até mesmo quando fala de amor e de trivialidades. Mesmo seus trabalhos pouco inspirados se destacam pelas letras bem feitas, bem construídas e até mesmo surpreendentes.

Embora a qualidade lírica seja uma de suas características, teve de ser lapidada no Greenwich Village, em Nova York, no início dos anos 60, quando era um músico folk que começava a se destacar.

Sua poesia argumentativa remetia aos melhores momentos de Woody Guthrie, um dos maiores nomes do folk norte-americano, mas Dylan chamava a atenção pela contundência dos versos e pela força de rimas que surgiam como tapas na cara de uma audiência estupefata.

Se as comparações com o alemão Bertolt Brecht eram pertinentes por um lado, de outro soam fora de contexto, já que a habilidade de Dylan para construir e juntar e poesia e música extrapolaram e extrapolam qualquer expectativa.

Dentro do rock, provavelmente apenas Pete Townshend (The Who) e Neil Young conseguem ombrear Dylan – e somente até certo ponto – em qualidade de letras.

Soberbo e supremo, Bob Dylan uniu as melhores qualidades dos dois mundos – rock e literatura – para criar uma arte estupenda. Conseguiu aliar a rebeldia, a fúria e a ânsia libertária com a mais alta qualidade poética para fazer o rock arrombar os portões dos salões eruditos do Prêmio Nobel. Empurrou o rock para um de seus degraus mais altos e fez do paradoxo o grande combustível para impulsionar o gênero para o patamar máximo das artes. Não é pouca coisa.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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