Marcelo Moreira

Jon Anderson foi demitido do Yes em 2008, mas o Yes não sai de jeito algum do extraordinário vocalista. Por mais que tenha mandado uma mensagem terna aos parentes de Chris Squire (o chefão da banda) quando da morte deste, em 2015, ainda existe ressentimento pela forma como foi descartado.

Sua carreira solo é de bom nível, assim como várias parcerias, mas não passa um tempo muito grande longe da ex-banda: primeiro foi a retomada de uma parceria com o tecladista Rick Wakeman em 2010, que rendeu um álbum – "The Living Tree" – totalmente baseado na sonoridade do Yes, e um álbum duplo ao vivo, onde predominam as canções da ex-banda dos dois.

Em maio passado, Anderson novamente se ligou a Wakeman, desta vez no projeto ARW, que inclui ainda o guitarrista Trevor Rabin, outro ex-Yes e ex-companheiro do cantor na própria banda. "Semrpe quis tocar com Rabin as músicas do Yes como devem ser tocadas", disse o tecladista.

De forma surpreendente, no entanto, surgiu no começo de junho um álbum de Jon anderson em parceria com um admirador, o guitarrista suecio Roine Stolt, líder da banda The Flower Kings e integrante do megaprojeto progressivo Transalantic, criado pelo baterista Mike Portnoy (ex-Dream Theater).

"Invention of Knowledge" é o álbum que acabam de lançar, creditado a Anderson/Stolt. O guitarrista sueco é conhecido pelo seu perfeccionismo e pela habilidade em recriar timbres precisos de grandes nomes do rock progressivo.

Provavelmente ninguém chega tão perto da sonoridade do guitarrista do Yes Steve Howe, sua influência declarada, além de David Gilmour, do Pink Floyd.

Sendo assim, faz todo o sentido que Anderson, de 73 anos, aceitasse trabalhar com um admirador do Yes e de Howe. Tudo no CD emula a banda britânica, desde os timbres de guitarra às passagens climáticas criadas no teclado, passando pelos arranjos meticulosos de cordas e metais e pelos temas das letras. Enfim, é um disco do Yes com outro guitarrista, que se esforça ao máximo para recriar os bons tempos do quinteto progressivo inglês.

É um trabalho de muito bom gosto, bem feito, mas com zero de originalidade. O destaque é a trologia "We Are the Truth"/"Knowledge"/"Knowing", onde Jon Anderson dá um show de feeling e interpretação em canções que poderiam estar em álbuns razoáveis do Yes, como "Tormato" e "Going For the One".

Não é necessariamente ruim a insistência do cantor em manter o seu legado em evidência, mas quando a fixação beira a obsessão a situação fica bem complicada, ainda mais em se tratando de um artista top do rock mundial.