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Blues Brasil: os timbres elegantes de Alamo Leal e Giba Byblos

Combate Rock

03/05/2016 06h22

Marcelo Moreira

A guitarra é ágil, orgânica e moderna, mas sem perder o feeling blueseiro. Alamo Leal empurrou um pouco mais para a frente os limites do bom gosto na guitarra em seu novo álbum, "Still Here", recém-lançado pela Chico Blues Records – elegância em seu melhor estágio.

Curiosamente, o músico carioca tem quase um correspondente em São Paulo no quesito elegância: Giba Byblos, mais um herói da guitarra, que também divulga novo trabalho, "Tomorrow", mais uma pérola da Chico Blues Records. Separados por 400 quilômetros, conseguiram por telepatia produzir o que de melhor pode ser feito no blues nacional atualmente.

Leal não é afeito a virtuosismos. Sua guitarra está a serviço da melodia, e sua maestria na escolha dos timbres define de forma definitiva a sua forma de tocar, tanto nas músicas mais "modernas", aceleradas e próximas ao rock, quanto nos elementos vintage, onde passeia de forma brilhante pelas formas mais tradicionais do gênero.

Sem inventar, escolheu alguns clássicos do cancioneiro norte-americano não tão óbvios e fez releituras caprichadas, como na abertura, "On Your Way Down", do gênio Allen Toussaint. onde os fraseados belos impulsionam a música como uma velha e imponente locomotiva.

"I Got the New For You", de Ray Charles, vai na mesma pegada, mas com um pouco mais de sutileza: fraseados soltos, leves e instigantes, com bons arranjos e um vocal preciso, sem exageros.

O bluesão "I Held My Baby Last Night" leva o carioca para as profundezas do Delta do Mississippi. O efeito slide que Leal impregnou nesta cação de Elmore James é sublime, transformando completamente a canção.

Também merece destaque o slide na canção sintomática, "Slide Masters", onde o guitarrista dá uma aula de técnica e feeling, ao lado do amigo e fera Otávio Rocha, guitarrista do Blues Etílicos.

Rocha é só uma das estrelas que colaboraram no álbum. O gaitista do Blues Etílicos, Flávio Guimarães, outro amigo de longa data, assopra e quebra tudo em "Living in a Prison" e "No Fighting. O excelente e premiado tecladista Ari Borger brtilha no órgão Hammond B3 na faixa "Get Out My Life Woman", além de tocar piano em outras duas músicas.

Os teclados também ganharam o reforço de Luciano Leães, outra fera do Hammond B3, assim como outras duas feras da guitarra participam – Netto Rockfeller e José Luís Pardo. O trio titular de Alamo Leal é completado por Marcos Kliss no baixo  e Daniel Marques na bateria.

Giba Byblos, por sua vez, gosta de ser mais versátil e não economiza na hora de mostrar suas credenciais – o que é um mérito em "Tomorrow".

Seguindo um pouco na linha de Robert Cray, o guitarrista aborda seu instrumento com muito groove e suingue, ressaltando o balanço e as notas perfeitas, que denotam outra referência, o mestre B.B. King.

A faixa-título é puro suingue, com uma linha melódica contagiante e dançante, é um dos destaques do trabalho. O rhythm & blues permeia todo o trabalho, mas cai com perfeição em "Lord Have Mercy on Me" e na agitada e ótima versão de "She Put the Whammy on Me".

A instrumental "Catch You on the Flipside" abusa de fraseados complexos e solos intrincados, mas acaba se tornando uma espécie de principal cartão de visitas de Byblos em razão de sua técnica apurada.

O agradável e cativante álbum ainda tem dois outros destaques: "Heap See", com a particdipação do bluesman americano Jimmy Johnson, uma lenda de Chicago – blues puríssimo e com feeling absurdo -, e "Wrong Place, Wrong Time", compsição do guitarrista em parceria com Homesick Hanes. Byblos, atualmente, é um dos raros bluesman brasileiros que investe em som autoral, o que deve ser valorizado e apreciado, e muito.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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