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'Mandu': raízes indígenas e personagem forte no trabalho do Voodoopriest

Combate Rock

28/04/2016 07h00

Marcelo Moreira

O guitarrista Ricky Medlocke, atualmente no Lynyrd Skynyrd, cansou de falar sobre suas origens indígenas quando sua banda Blackfoot fez sucesso, no comecinho dos anos 80. O que era um orgulho (e ainda é) pata o músico acabou se transformando em mera curiosidade para uma imprensa musical despreparada e pouco interessada em nada que fugisse do trivial do rock.

"Os nativos americanos tiveram de se apoderar do rock para levar um pouco de suas origens a um público maior. Sempre cavamos nosso espaço e os índios têm muito o que falar, e eu tenho orgulho disso", disse certa vez a uma revista norte-americana de entretenimento.

Tema pouco recorrente entre as bandas brasileiras, coube a um descendente de índios levar uma história desconhecida para dentro do heavy metal e jogar luz a um personagem fascinante, mas que persiste na ignorância de parte do povo do país.

"Mandu" é o ótimo e violento CD lançado pelo Voodoopriest em 2015. Traz a história de resistência e luta de Mandu Ladino, líder indígena do Piauí que tentou combater a invasão das terras de seu povo no final do século XIX.

"A pesquisa foi intensa, corri atrá de vários livros e vi que a trajetória de Mandu dava um excelente álbum conceitual. nada melhor do que uma história forte em álbum de estreia", comenta Vítor Rodrigues, o vocalista e criador da banda.

Com ascendência indígena tanto por parte de pai como de mãe, Rodrigues sempre teve muito interesse em suas raízes mas, curiosamente, nunca teve a oportunidade de tratar do assunto indígena em seus 19 anos como cantor da ótima banda Torture Squad.

"Os conceitos abordados no Torture eram diferentes, com outra pegada, e não tive a inspiração para ao menos abordar o assunto. Quando saí e montei o Voodoopriest, a coisa se encaixou perfeitamente. É uma história muito forte", afirmou em entrevista ao programa de web rádio Combate Rock.

Voodoopriest: Vítor Rodrigues está à frente (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A abordagem histórica do Voodopriest merece elogios porque não se limitou apenas a contar uma história desconhecida. Com peso e brutalidade, conseguiu impregnar no CD uma carga dramática necessária, que o conceito pedia, além de evitar as armadilhas fáceis da exaltação e/ou execração. O tema foi tratado na medida certa, o que se mostrou uma medida acertada.

O bom trabalho realizado por Rodrigues e seus companheiros, no entanto, não podem rotular a banda como vinculada à causa indígena, e o próximo álbum do Voodoopriest deverá confirmar essa tendência.

A brasilidade e o aprofundamento do tema é uma quase exclusividade, digamos assim, de uma banda interessante  pelo exotismo e pelo mergulho radical em uma proposta inusitada: fazer heavy metal no idioma indígena.

É o caso do Arandu Arakuaa, de Brasília, que faz letras utilizando o tupi antigo, um idioma indígena que foi disseminado por quase todo o litoral brasileiro antes da chegada dos portugueses, em 1500.

Arandu Arakuaa ("saber dos ciclos dos céus" ou "sabedoria do cosmos" em tupi-guarani) é uma iniciativa do guitarrista Zhândio Aquino, natural do Estado de Tocantins.

Ele viveu a infância e a juventude ao lado do território dos índios Xerentes, fato que o inspirou a criar uma banda de rock pesado totalmente voltada para temas indígenas. O grupo lá lançou dois álbuns: "Kó Yby Oré" (2012) e "Wdê Nnãkrda" (2015).

Clique abaixo para escutar a entrevista de Vítor Rodrigues ao programa Combate Rock:

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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