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Fantasma dos Los Hermanos já não incomoda mais - incomodou algum dia?

Combate Rock

27/10/2015 06h56

Marcelo Moreira

Los Hermanos (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Assim como a Legião Urbana, a banda carioca Los Hermanos sempre mereceu um tratamento diferenciado e laudatório por grande parte da imprensa especializada. Algum desavisado ou mesmo desinformado cometeu o disparate de dizer que a banda dos barbudinhos tinha o mesmo peso da Legião para os fãs dos anos 2000.  E muita gente acreditou nisso.

Los Hermanos praticamente acabou, mas vive ameaçando voltar e aterrorizar o mundo com "Anna Júlia" de novo. De vez em vez a banda se reúne para shows esporádicos. Mas seus integrantes não nos deixam em paz. Rodrigo Amarante decidiu formar o Little Joy com o baterista do fraco Strokes e uma cantora americana ruim.

Marcelo Camelo se travestiu de bardo e CDs solo misturando a melancolia chatíssima de seu pop insosso com o pior da MPB cafona. Parece que é impossível para os ex-integrantes da banda se livrarem da síndrome de Renato Russo.

Não bastasse o pop rock sofrível, as letras pseudoromânticas de gosto duvidoso e os "cabecismos" quase indecifráveis de algumas músicas, os músicos adoram manter a pose de intelectuais, ainda que não faça o menor sentido.

Apesar da qualidade sofrível do pop rock do Los Hermanos, tanto Camelo e Amarante eram músicos diferenciados quando davam entrevistas. Nem um pouco deslumbrados quando estouraram com a indefectível "Anna Júlia", falavam com segurança e desprendimento aos jornalistas, mostrando que tinham referências, que tinham algum conteúdo, fugindo da terra arrasada que era a seara intelectual do rock brasileiro no final dos anos 90 e começo dos anos 2000.

Enfim, mostravam-se artistas diferentes, com ideias e coisas interessantes para falar, mesmo que os primeiros CD não fossem lá essas coisas, para ser generoso. O sucesso fez mal aos garotos que queriam ser emos antes mesmo do surgimento destes.

As entrevistas passaram ser rançosas e até pedantes – com razão, a julgar pelas perguntas ruins a que foram submetidos. Entretanto, o ranço passou a predominar, azedando de vez qualquer possibilidade de convivência com uma mídia "hostil" – faz parte, não é?

As misturebas de pop rock com MPB e samba confundiram os fãs e não levaram a banda a lugar algum. O tom das entrevistas mudou, com a complacência de boa parte expressiva da imprensa embasbacada. O pseudointelectualismo começou a dominar as conversas, e os integrantes da banda realmente acharam que estavam fazendo um trabalho musical revolucionário, quando na verdade era o contrário.

A implosão do grupo não foi suficiente para amenizar os discursos fora de contexto e de ordem, em um momento em que se valoriza cada vez mais a simplicidade.

 

Los Hermanos acreditaram que deixaram um legado, mas isso, infelizmente para eles, não ocorreu. Entrou para o rol das bandas superdimensionadas e superestimadas, como a Legião Urbana, e nem de longe fez jus a essa possibilidade.

Início promissor, queda rápida

Quando a banda começou a chamar a atenção de parte da imprensa musical, na segunda metade da década de 90, o rock brasileiro vivia um momento bastante interessante, quase tão efervescente quanto a cena da década anterior.

Raimundos estavam no auge, havia o Skank ocupando o lugar pop que havia sido ocupado pelos Paralamas do Sucesso e o mangue beat, em que pese a pobreza musical e lírica, ainda tinha alguma lenha para queimar – e muitas outras bandas disputavam espaço mostrando competência, embora sem originalidade.

Aí aparece um grupelho de classe média e egresso da universidade mesclando um suposto hardcore com letras diferentes e um forte acento pop com parentesco com a MPB. Los Hermanos realmente tinham algo de diferente. O pop sem graça e sem pegada que veio com o primeiro álbum desmontou qualquer expectativa de avanço.

Colocando em perspectiva, perde em todos os quesitos para um grupo competente e pop por excelência, como o Jota Quest, ainda que este também esteja degraus abaixo dos melhoes expoentes do rock nacional.

Será mesmo que precisamos da volta do Los Hermanos e de sua pretensão artística? Será que ainda é relevante fazer uma turnê de lembranças, só para tocar algum punhado de hits embolorados e faturar alguns trocados – exatamente como fazem vários dinossauros do rock tão criticados por "críticos musicais antenados e modernosos"?

É claro que a banda tem o direito de fazer como milhares de tantas outras fizeram. Aliás, a volta era até prevista, já que eles nunca dissolveram oficialmente o grupo. Quando se separaram, apenas disseram que não tinham data para voltar.

O fato é que o Los Hermanos embicou muito cedo, esbarrou nas suas evidentes limitações artísticas e musicais, inversamente proporcionais à pretensão e certa arrogância demonstradas desde que começaram a fazer sucesso com a insossa "Anna Júlia".

De um roquinho supostamente alegre e levemente acelerado passaram a se mover cada vez mais em direção à MPB e ao samba carioca, com certas aspirações "literárias" em relação aos temas e letras. Claramente o foco desapareceu, assim como a (pouca) inspiração.

Portanto, não é nada animador o cenário para que Los Hermanos regressem, ainda que esporadicamente, como estão fazendo neste mês de outubro.

O pop rock nacional sumiu das paradas e das emissoras de rádios, soterrado por toneladas de porcarias de todos os calibres, do pagode asqueroso ao sertanejo universitário espúrio, da pior espécie, passando pelo funk inominável.

Ficará o quarteto carioca restrito a um gueto que restringe a cada dia de apreciadores de um moribundo pop cabeçudo pretensioso e totalmente anacrônico na segunda década do século XXI? Provavelmente.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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