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Blues Etílicos: 30 anos de um blues bem brasileiro

Combate Rock

21/09/2015 06h39

Marcelo Moreira

Blues Etílicos (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Eles insistiram e derrubaram todos os prognósticos negativos. Viram várias modas passarem, inclusive a agonia e morte do outrora poderoso pop rock nacional, e nem se abalaram. E o novo CD, "30 Anos Ao Vivo", é a maior prova da vitória do quinteto carioca.

O grupo Blues Etílicos forma com o paulista André Christóvam e o luso-brasileiro Nuno Mindelis a trinca que sustenta o blues nacional e que nunca deixou que o tempo os escondesse – não é à toa que são artistas respeitados internacionalmente.

Os cariocas comemoram 30 anos de carreira de forma discreta, como de costume. Com um trabalho sólido e uma base de fãs igualmente consolidada, o Blues Etílicos corre à margem do mercado e continua se dando bem.

"É uma marca importante, porque provavelmente no Brasil somos o grupo que mantém a mesma formação por mais tempo, desde 1987. Fazer blues no Brasil é um caminho longo e com certas características, e creio que conseguimos ser bem-sucedidos", diz o gaitista Flávio Guimarães.

O novo álbum é um apanhado da carreira  da banda, agora incluindo a faixa-título do mais recente CD, "Puro Malte". Não é o primeiro trabalho ao vivo, por isso a falta de alguns hits, como "Dente de Ouro". "Essa faixa já aparece em dois CDs ao vivo e no DVD, então abrimos espaço para outras canções que consideramos importantes", explica Guimarães.

Os integrantes Greg Wilson (voz e guitarra), Flávio Guimarães (gaita e voz), Otávio Rocha (guitarra), Cláudio Bedran (baixo) e Pedro Strasser (bateria) deviam um registro em vídeo ao público, e o DVD veio anos atrás, gravado em Goiânia.

O registro ficou tão bom que muita gente queria o áudio do show em CD. Decidiram esperam mais um pouco e comemorar três décadas com um grande show realizado no Sesc Santo Amaro, em São Paulo, no dia 6 de setembro de 2014. Descontraídos, brincalhões e exímios instrumentistas, os cinquentões deram uma aula de feeling e qualidade.

"Foi um show divertido e com excelente astral. Deu tudo certo, a casa é muito boa para se apresentar e a banda estava no pique, como sempre. Muito prazeroso e interessante", diz Guimarães.

Cenário improvável

O gaitista gosta de lembrar que o blues brasileiro ganhou evidência de uma maneira de certa forma improvável em meados dos anos 80. Era uma época em que o rock nacional começava a despontar

Neste cenário, um guitarrista corajoso, com nítidas influências roqueiras e uma graduação no Guitar Institute de Los Angeles, tocava em uma banda totalmente pop, mas decidiu lançar um álbum de blues nacional, de muito bom gosto, mesclando letras em inglês e português, 30 anos atrás.

André Christóvam fez parte, entre outras, da banda Kid Vinil & os Heróis do Brasil – Vinil integrou o Magazine, que estourou com os hits "Eu Sou Boy" e "Tic Tic Nervoso". Mas sua praia era mesmo o blues, e se tornou referência para toda uma geração, principalmente quando gravou "Mandinga", de 1989.

Na cola do paulistano Christóvam veio o Blues Etílicos, impulsionando ainda mais o gênero no Brasil. Se o guitarrista paulistano inaugurou uma cena interessante por volta de 1985 e 1986, o Blues Etílicos embarcou na onda e gravou primeiro, o ótimo "Blues Etílicos".

A banda quando do lançamento de 'Puro Malte', uma homenagem à cerveja (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"É difícil falar em marco do gênero, por mais distanciado que estejamos, mas não há dúvida de que nossa estreia foi um trabalho importante. Foi um dos primeiros discos de blues genuíno feito por artistas brasileiros", afirma Guimarães.

A estreia do grupo em vinil (na época) causou certo estranhamento, mas logo ganhou espaço em emissoras importantes de rádio, como a 97FM, de Santo André (SP), e a rádio Fluminense, no Rio de Janeiro, em seus últimos momentos de linha editorial roqueira e alternativa.

Nos clássicos revisitados, como "Key to the Highway", o quinteto mantém a reverência ao estilo, mas adiciona elementos bem brasileiros, cortesia, em grande parte, do guitarrista e vocalista Greg Wilson, um norte-americano de alma bem carioca.

"Não tem como não destacar: Greg sempre foi um trunfo nosso, cantava blues sem sotaque e com pronúncia perfeita em inglês, e ainda adicionava um suingue brasileiro bem característico. Deu muito certo", diz Guimarães.

Esgotamento

O gaitista evita o saudosismo, fala com carinho dos anos 80 e 90, o pico de popularidade de artistas brasileiros do gênero, mas é bem crítico ao analisar o mercado a partir dos anos 2000.

"A cena estava legal, muitos artistas de qualidade tocavam e gravavam no exterior, como André Christóvam e o Nuno Mindelis, o Blues Jeans, do Marcos Ottaviano, lotava as casas onde tocava, assim como o Big Allanbik, entre outros. Só que houve um esgotamento. Muita gente entrou no blues sem grandes ambições, quase como um hobby, e isso contribuiu para uma caída. Muita banda ruim ocupou parte expressiva do espaço em bares e casas noturnas, o que afastou o público."

Mas o Blues Etílicos não tem do que reclamar: faz em média 60 shows por ano – o roqueiro Nasi (ex-Ira!), por exemplo, na ativa e com boa estrutura na carreira, faz cerca de 80 – e é uma banda frequente e cativa nos principais festivais de jazz e blues do país.

E Guimarães reconhece a importância de uma entidade na manutenção de uma carreira importante para artistas que têm um trabalho sério e de qualidade: o Serviço Social do Comércio (Sesc), vinculado às Federação do Comércio de cada Estado. "O Sesc salvou a música brasileira de qualidade por conta de sua programação eclética e democrática, além de uma visão de cultura condizente com a importância que o setor exige. A administração é competente, sobretudo em São Paulo. A política de escolha de artistas é transparente, há critérios bem definidos na hora de definir a agenda. E nós nos beneficiamos disso."

Criada no Rio de Janeiro, em 1985, a banda Blues Etílicos lançou seu primeiro LP em 1987. Em 1989, contratados pela Gravadora Eldorado, produzem os álbuns "Água Mineral" (1989), "San Ho Zay" (1990) e "IV" (1991), todos com músicas executadas nas rádios FM de todo o país. O último CD com músicas inéditas é "Puro Malte", de 2013.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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