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Iron Maiden versátil acerta ao apostar no prog metal em 'The Book of Souls'

Combate Rock

29/08/2015 07h00

Marcelo Moreira

Algumas fórmulas no rock jamais mudam (ainda bem), independentemente das circunstâncias e das necessidades. Steve Harris sabe muito bem disso e aposta de olhos fechados no esquema que mantém o Iron Maiden no topo há 35 anos.

"Speed of Light", a primeira música nova divulgada, faz parte da maneira de como o Iron Maiden divulga seus novos trabalhos – "The Book of Souls", o novo CD, sai em 4 de setembro. Assim como "The Wicker Man" e "Wildest Dream", entre outros singles de estreia, a nova faixa é rápida, acelerada, com muitas pitadas de hard rock e ótimos solos de guitarra.

Entretanto, o novo álbum é um avanço em qualidade e em ousadia em relação aos dois anteriores, os bons "A Matter of Life and Death" (2006) e "The Final Frontier" (2010).

Se havia dúvidas de que a banda se aprofundaria no prog metal, a bela balada épica "Empire of the Clouds", com seus 18 minutos de viagem, repleta de nuances musicais diferentes e expandindo as possibilidades melódicas de uma banda que já tinha feito experimentos importantes em músicas como "Rime of the Ancient Mariner", "Alexander The Great" e "Seventh Son of the Seventh Son".

"The Book of Souls" é um CD duplo, com 11 canções em 92 minutos. E é um soco na cara para aqueles que acreditam que o conceito de álbum é equivocado no século XXI. Com mais homogeneidade, é superior aos anteriores, em quase todos os quesitos.

Há falta de hits? Sim, mas isso já não é mais importante para o Iron Maiden há muito tempo. "Speed of Light" foi pensada para ser um single, mas jamais com a intenção de ser um hit, da mesma forma que "El Dorado" e "Satellite…", ambas de "The Final Frontier".  Este álbum era variado, mas sem tanta versatilidade, coisa que existe de sobra no novo trabalho.

Iron Maiden em 2015: banda deve vir ao Brasil em 2016 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Brave New World" (2000) era mais recheado neste sentido, mas era um álbum com um clima quente, de urgência, de porrada, de ganchos fortes, justamente porque era o primeiro da volta de Bruce Dickinson. "Dance of Death", de 2003, pecou pela irregularidade e pela aparente falta de inspiração, recuperada em "A Matter…", ainda que sem brilhantismo.

Uma pequena diferença em Speed of Light" em relação aos singles de álbuns anteriores é a remissão a "Satellite 15", que é a abertura de "The Final Frontier": linhas melódicas mais intrincadas, indicando que a vertente do prog metal, presente desde "A Matter of Life and Death", deve continuar com força.

Bruce Dickinson fez novamente um trabalho admirável, e mais ainda sabendo-se que foi submetido recentemente a um tratamento contra um câncer. Aos 57 anos de idade, consegue atingir notas mais altas com desenvoltura e grita bastante, como sempre.

Uma característica predominante em "The Book of Souls" é que a produção de Kevin Shirley deixou o som mais pulsante, ressaltando o peso e deixando mais explícitas as linhas melódicas que remetem diretamente ao metal progressivo.

"The Great Unknown" é um desses momentos, com linhas de guitarra fortes e velozes. O mesmo pode ser dito em "When The River Runs Deep", menos intrincada e mais hard, com uma estrutura típica do rock'n'roll setentista.

O heavy tradicional domina a ótima "Death and Glory", com muita intensidade e muito peso, especialmente no baixo de Steve Harris.

"Shados of the Valley" e "The Man of Sorrows" demonstram a opção acertada pela versatilidade, variando timbres e apostando em boas ideias melódicas, com partes tipicamente hard, outras heavy e até mesmo power metal em alguns trechos.

Se a bela "Empire of the Clouds", com seus 18 minutos, representava de forma completa a veia prog metal, então tome mais duas doses cavalares, com a obscura e sombria "If Eternity Should Fail", que abre o trabalho – tensa, sinistra e envolvente – e a climática "The Red and the Black", também recheada de intensidade e bons duelos de guitarra em seus amis de 13 minutos (seria mais um tributo a "Rime of the Ancient Mariner"?).

A espera por um novo trabalho do Iron Maiden compensou. Nesta terceira fase da banda, desde o retorno de Bruce Dickinson (ocorrido em 2000), "The Book of Souls" rivaliza com "Brave New World" como o melhor do período.

Mesmo sendo cedo para dizer, é provável que não seja um álbum memorável – como ocorre com a esmagadora maioria dos trabalhos deste século, seja em relação a bandas novas ou clássicas. Entretanto, é esperançoso quando observamos um gigante que caminha para os 40 anos de carreira mostrar fôlego e vigor e lançar um álbum muito bom como fez o Iron Maiden.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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