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'Crítica assassina': quando a opinião se torna perigosa e um risco

Combate Rock

23/07/2015 06h50

Marcelo Moreira

A intolerância é irmã gêmea da imbecilização. A constatação, que aparentemente é óbvia, só foi explicitada por um dos leitores do Combate Rock em um comentário pertinente a respeito das queixas de Lobão contra a imprensa, a quem culpa por eventuais problemas com cancelamentos de shows e falta de apoio para o financiamento coletivo de trabalhos.

Aproveitando um texto que escrevi sobre o assunto, o leitor aproveitou e lamentou a absurda intenção da família de um cantor sertanejo que morreu recentemente de "processar um jornalista da TV Globo" por ter supostamente uma atitute preconceituosa contra o estilo musical. É uma ação que provavelmente não vai prosperar, por absoluta falta de base legal e bom senso (tomara!!!).

A referência era a Zeca Camargo, jornalista e apresentador da TV Globo, que criticou a espetacularização da respeito da morte de um cantor pouco conhecido nas regiões Sul e Sudeste, Cristiano Araújo, em um acidente automobilístico em Goiás. A comoção com sua morte rivalizou com a de Ayrton Senna, em 1994. Não era para tanto.

Camargo acertou em cheio ao detonar a espetacularização a respeito de um artista pouco conhecido e ainda por provar seu talento e o merecimento de tanta devoção – o que já havia feito até agora era de baixa qualidade, como quase tudo entre os sertanejos.

A questão toda, entretando, é a consolidação da intolerância como modo de vida e ideologia atualmente na sociedade brasileira, principalmente nas redes sociais, um verdadeiro depositário de lixo ideológico e de raiva contra qualquer coisa.

Expressar qualquer tipo de opinião atualmente se tornou perigoso. Frequentemente leva a ameaças de todos os tipos – de ruptura de amizades, namoros e casamentos , passando por ameaças físicas e até de morte.

Assim como quem buzina no trânsito brasileiro hoje corre o risco de morte, por supostamente "ofender" algum animal ao volante, opinar e marcar posição é um passo perigoso nso dias de hoje para ser atacado de várias formas – e o Combate Rock está bastante acostumado com isso.

É desnecessário relatar como o Brasil está se imbecilizando e emburrecendo  – uma rápida passagem pelas redes sociais mostra isso, especialmente em temas políticos e polêmicos. Predominam a intolerância, a raiva, a imbecilidade e, sobretudo, a profunda falta de informação em qualquer discussão básica.

Lobão e seu séquito de seguidores foram incapazes de entender as críticas que fiz neste espaço à falta de educação em relação à presidente da República em um show do cantor. A série de xingamentos só ressaltou a completa incapacidade de interpretar textos e nenhuma disposição para discutir sensatamente, com civilidade.

A questão absurda da intenção da família de Cristiano Araújo de processar Zeca Camargo por expor sua opinião a respeito do mercado musical brasileiro – e não sobre o tal cantor sertanejo quase desconhecido – também ressalta a intolerância contra opiniões adversas e contrárias em toda a sociedade. O brasileiro, hoje, não suporta nenhum tipo de crítica profissional ou profissional, mesmo quando feita com honestidade, sinceridade, educação e respeito.

Ficaram famosas nos anos 90 e começo dos 2000 integrantes de bandas rock furiosos com os jornalistas das revistas Roadie Crew e Rock Brigade (quando essa ainda existia) por conta de avaliações negativas de CDs/fitas demo ou mesmos CDs oficiais enviados às redações. Os protestos contra as notas baixas ou comentários negativos variavam da ironia ao xingamento puro e simples com palavrões, sendo que houve ameaças em alguns poucos casos.

Segundo representantes da família do sertanejo morto, Zeca Camargo, com sua opinião, ofendeu a cultura sertaneja e ao amor dos fãs por Cristiano, além de denotar "preconceito em relação aos admiradores desse tipo de música". A quantidade de bobagens e estultícies contidas na peça judicial contra o jornalista pode ser lida com mais detalhes clicando aqui, para acessar o texto do portal F5, da Folha Online. 

Há quem veja na ação oportunismo para manter o assunto na mídia. Pelos termos toscos da ação judicial, e pela precariedade do raciocínio que a baseia, duvido que o pensamento por trás da iniciativa seja tão elaborado assim. Observo apenas uma enorme deficiência na interpretação dos fatos e uma visão de mundo bastante limitada, bem como a clássica intolerância contra opiniões contrárias. Clique aqui para ler texto do Combate Rock sobre nossa posição a respeito da fala de Zeca Camargo.

Opinião incomoda, e é esse o objetivo. Desde sempre foi assim. O Politicamente correto é só mais um dos lixos que surgiram na "modernidade", que foi devidamente deturpado para servir de camisa de força ao pensamento livre e, em casos mais extremos, à liberdade individual.

E não há outro caminho para combater a intolerância gerada sobretudo pela falta de informação e pelo fundamentalismo de qualquer coisa: é opiniando, falando, debatendo, discutindo e chutando as canelas dos intolerantes, autoritários, totalitários e censores. O Combate Rock continuará fazendo isso com imenso prazer.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

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