Topo

Blues Brasil: Ari Borger, Val Tomato e Michel Leme esbanjam competência

Combate Rock

09/07/2015 07h03

Marcelo Moreira

A cena bem que poderia ter sido assim. O gaitista paulista Val Tomato chamou sua banda, entrou no estúdio e gravou nove canções próprias, tudo muito rápido e simples, assim como o guitarrista paulista Michel Leme em seu novo trabalho: seis temas elaborados, mas gravados em uma só tomada no salão de uma igreja.

Os dois músicos mostraram que não é preciso mais do que isso para fazer música de qualidade. O blues e o jazz que fizeram em seu mais recentes CDs ampliam a esperança de que a tecnologia não vai solapar a criatividade – e que a simplicidade mostra que, me boa parte das vezes, menos é sempre muito mais.

Os dois e o pianista Ari Borger, também de SãoPaulo, estão colocando nas lojas seus mais recentes trabalhos. Despojados e com produção certeira, seguem uma tendência que vem predominando no underground dos dois estilos: simplicidade e feeling.

Val Tomato resgata o estilo de Chicago com o suingue da brasilidade, mas passando pelo Mississippi, em seu mais recente trabalho, "Vinte Longos Anos". Não há requinte, os arranjos são básicos, mas o som que gaita produz  é de uma leveza e uma delicadeza contundentes.

Gaitista excelente e cantor competente, surpreende nos temas em português – são temas simples e singelos, mas com abordagem fora do comum em "Caminho do Sol", "Olhos Negros" e Gêmeas Blues".

Entretanto, Tomato se  dá melhor nas músicas cantadas em inglês , como em "Look at Me" e "Love and Respect", além da clássica "My Baby", de Little Walter.

Ari Borger, por sua vez, mostra toda a sua empolgação com seu novo trabalho, "Live at Cincy Blues Festival". É um resumo soberbo da carreira bem-sucedida deste músico que foi o único brasileiro a participar do mais respeitado festival de piano blues do mundo, na cidade de Cincinnatti, nos Estados Unidos.

A gravação ao vivo é de sua explosiva participação no evento em 2014, contando com um time especial de músicos norte-americanos, além dos comparsas de sempre – Igor Prado e Celso Salim nas guitarras, Yuri Prado na bateria e Rodrigo Mantovani no baixo.

O time de americanos teve  Johnny Vidacovich na bateria, George Bedard na guitarra, Chris Douglas no baixo, | Bob Seeley no piano (somente no DVD), Wallace Coleman cantando e tocando gaita, e J.J. Jackson nos vocais.

Borger é instrumentista meticuloso e bastante detalhista, mas cresce de forma absurda no palco, abusando dos fraseados dinâmicos e eloquentes, acrescentando um colorido envolvente em canções antológicas como "Mean Red Spider", de Muddy Waters, "Baby won't You Jump With Me", de Lowell Fulson, e na complicada "Bricks on mY Pillow", de Robert Nighthawk.

Seu domínio do palco é total, e sua timidez e tranquilidade fora dos palcos são subsituídas por uma torrente de notas que lideram a banda em todos os níveis. O pianista brasileiro comanda as ações e conduz a banda em uma festa sonora nos temas próprios, como em "Funky B", "Song For Jay" e no arrasador tema de Booker T, a ótima "Green Onions".

"Live at Cincy Blues Festival" é melhor amostra da qualidade internacional dos instrumentistas brasileiros de blues, assim como "Way Down South", da Igor Prado Band, álbum que liderou as paradas norte-americanas de blues no primeiro semestre deste ano – a primeira vez na história que um estrangeiro atingiu tal posto nas listas.

Já "9", do guitarrista Michel Leme, é um trabalho dinâmico e muito competente, com um refinamento que poucas vezes podemos observar na música brasileira e no jazz como um todo. Os comparsas são os de sempre – o baixista Bruno Migotto e o baterista Bruno Tessele, acompanhados aqui pelo pianista Felipe Silveira.

Com despojamento e muito feeling, os seus temas foram gravados ao vivo no salão da Igreja Betesda de Diadema no dia 31 de julho de 2014.

A ousadia foi recompensada por um trabalho muito bom, revelando o entrosamento do quarteto e um clima de pura cumplicidade. Eles estavam se divertindo, sem dúvida, principalmente no último tema, "70", onde a música emenda em uma longa e intrincada jam de 16 minutos, que resume um pouco da filosofia artística e as concepções musicais de Leme.

Mesmo com suas opiniões contendentes e concepção musical rígida, o guitarrista de jazz expande sua versatilidade para outros campos. Já tocou rock na juventude, inclusive heavy metal, e é um habitual convidado de projetos diversos dos integrantes do trio paulistano de hard rock Dr. Sin.

Ao mesmo tempo, é visto frequentemente tocando com músicos paulistanos um repertório que varia de sambas ao que se pode chamar de música instrumental brasileira, incluindo o jazz. Michel Leme é um músico raro, que precisa ser apreciado não só pelo que toca, mas também pelo que não executa e pelo que representa. Tornou-se uma referência na atualidade e é um oásis de qualidade no árido panorama musical brasileiro.

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Blues Brasil: Ari Borger, Val Tomato e Michel Leme esbanjam competência - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Mais Posts