Lemmy resiste perto dos 70 anos, mas a idade e modo de vida cobram o preço
Combate Rock
18/06/2015 07h00
Marcelo Moreira
Lemmy Kilmister sempre ironizava Keith Richards no começo dos anos 2000. Meio na brincadeira, meio a sério, considerava-se o verdadeiro "highlander", o imortal do rock, diante do que já tinha passado e vivenciado no rock.
"Keith é um dos grandes, o maioral talvez, e é um imortal também, mas ficou rico aos 20 anos de idade com o sucesso dos Stones. Eu camelei e fiz muita coisa antes de ver algum dinheiro com mais de 30 anos de idade, com o Mortorhead. E Keith é só dois anos mais velho que eu", zombou o cantor e baixista do Motorhead, instituição metálica, em declaração à revista norte-americana Kerrang!
O tempo cobrou a conta de Richards, inclusive com uma delicada operação no cérebro em 2006, mas o vovô ainda está aí, tocando para milhares de fãs nas comemorações dos 53 (!!!!) anos de carreira dos Rolling Stones.
A conta também veio a Lemmy, de forma mais pesada e complicada, dois anos atrás, quando problemas gástricos e cardíacos forçaram o guerreiro do metal a dar um tempo e cancelar shows – algo inédito no Motorhead. Ocorreu em 2012, em 2013 e também no Monsters of Rock de São Paulo, em abril passado. Sorte que foi apenas um problema estomacal em terras brasileiras, e outros shows no país puderam ser realizadcos.
Inadvertidamente, os problemas de saúde de Lemmy desovaram em uma despretensiosa edição deluxe do álbum "Aftershock", de 2013, que é o último – e ótimo – álbum do trio, oficialmente lançado em 2014 com o nome de "Aftershock Tour Edition), com produção de Cameron Webb. O subtítulo nos Estados Unidos é "Best Of The West Coast Tour 2014".
O segundo CD, que é bônus, traz uma série de clássicos da banda gravados ao vivo ao longo da turnê 2012-2013 pela Europa e pelos Estados Unidos, e o que vemos é uma banda sem a mesma pegada de antes, com Lemmy bastante cansado em algumas músicas.
Não chega a ser ruim ou desesperador, mas quem conhece a pegada da banda ao vivo percebe claramente que a situação está bem diferente – e não muito boa.
As gravações do CD bônus trazem quase nada de produção – propositalmente ou não. A mixagem deixou o som cru, como foi gravado diretamente da mesa, parecendo um bootleg gravado diretamente da mesa, com os prós e contras disso.
O público está um pouco distante, com o produtor preferindo realçar a performance da banda. E o que podemos escutar é a banda mais lenta, menos letal e menos energética, soando bem mais bluesy do que o normal.
Lemmy tenta manter o pique em "Damage Case", mas falta fôlego na metade da música. Situação semelhante vemos em "Metropolis".
O baterista Mikkey Dee segura a onda, mas Lemmy se esforça para acompanhar, e o guitarrista Phil Campbell se esforça, mas em algum momento após o primeiro solo da música a coisa desanda.
A voz de Lemmy quase some em "Over the Top", embora haja algum fôlego para o superhit "Ace of Spades", mas o encerramento com a maravilhosa e apoteótica "Overkill" soa pálida, estranha e sem a força necessária.
Claro que é uma crítica, mas, mais do que isso, é uma constatação: Lemmy quase setentão (faz aniversário em dezembro ) está tendo prolemas para manter o nível extraordinário de sua banda ao vivo, como podemos constatar em vários DVDs lançados ao longo dos anos 2000 e nas recentes aparições da banda no Brasil – notadamente no Rock in Rio 2011, quando simplesmente detonou.
A saúde precária dos últimos três anos estão pesando, e infelizmente não veremos mais o Motorhead ao vivo como nos acostumamos a idolatrar.
Lemmy é um dos últimos gigantes do metal de todos os tempos, um dos heróis que ainda movem multidões para seus shows em todo o mundo. Ícone a sua maneira, não faz tipo: ele é aquilo que representa no palco e fora dele, com suas roupas diferentes e "exclusivas", além de seu extravagante estilo de vida.
Ele fez muito por todos nós. No entanto, aparentemente, sua hora está chegando. Então que prestemos nossas homenagens e não exijamos mais do que ele pode nos dar nestes tempos.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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