As primeiras gravações dos Beatles na Alemanha são relançadas no Brasil
Combate Rock
04/05/2015 06h53
Marcelo Moreira
O selo Discobertas continua surpreendendo no mercado brasileiro. Depois de resgatar o álbum "Live at the Star Club 1962", coloca nas lojas outra preciosidade dos Beatles: "The Beatles featuring Tony Sheridan", aqui rebatizado "The Early Years" antes do nome original.
De certa forma, é uma raridade, embora não seja raríssimo. Foi editado algumas vezes na Europa nos anos 60 e 70, sob diversos nomes, por empresários dispostos a faturar qualquer coisa em cima do quarteto de Liverpool.
O espertalhão da vez foi Bert Kaempfert, um empresário alemão que bancou e produziu uma gravação de um obscuro cantor inglês radicado em Hamburgo, Tony Sheridan, que tentava se passar por um genérico anglo-americano do rock de inspiração alemã.
Sheridan buscava alguma fama e alugou por horas um estúdio meia boca da cidade, e contou com os Beatles como banda de apoio. Desde 1960 os então cinco garotos (Stu Sutcliffe era o baixista e Pete Best, o baterista) encaravam longas temporadas em boates e prostíbulos no porto de Hamburgo.
São os primeiros registros fonográficos dos Beatles. Tentando disfarçar o sotaque alemão, Sheridan canta em quase todo o álbum, exceto em "Ain't She Sweet", que tem os vocais de John Lennon.
Também contém a primeira música escrita pelos Beatles, "Cry for a Shadow", um número instrumental creditado e Lennon e George Harrison, embora outras fontes afirme que Paul McCartney é o coautor junto com George.
Bert Kaempfert era um empresário proprietários de vários clubes noturnos em Hamburgo e se aventurava também na produção teatral e musical.
Ele bancou as gravações em dois dias – 22 e 23 de junho de 1961 – no estúdio chamado Friedrich-Ebert-Halle, que tinha o nome da mesma rua onde ficava, tendo como engenheiro de som Karl Hinze. Como os Beatles tocavam em alguns de seus clubes, usou uma mão de obra "barata" para ajudar Sheridan.
As músicas foram lançadas em singles ao longo de 1961 e 192, sem grandes resultados – os Beatles às vezes eram creditados como Beat Brothers.
Cantor e guitarrista limitado, Anthony Esmond O'Sheridan McGinnity acompanhou alguns astros do rock americano em turnês pela Inglaterra entre 1957 e 1959, além de tocar em vários países da Europa até 1964.
Continuou tocando na Alemanha até o comecinho dos anos 70, quando decidiu virar um executivo musical. Morreu em Hamburgo, cidade que adotou, em 2013, aos 72 anos.
Quanto ao álbum, temos uma base musical bem feita, mas um pouco limitada, provavelmente por conta do pouco tempo de estúdio disponível. Já é possível escutar o potencial dos Beatles, com harmonias bem definidas e um instrumental mais roqueiro, o que na época destoava do que se praticava nas parada musicais.
"My Bonnie" é o single de destaque, que levaria o empresário Brian Esptein a procurar a banda em Liverpool, em 1962. É um tema tipicamente norte-americano, com uma empolgação que soava "fora de moda" em 1961, com o mercado dominado por artistas mais românticos muito menos agressivos.
"Ain't She Sweet" é a melhor do álbum, com seu refrão vigoroso e sua pegada roqueira mais rápida e contagiante. Há ainda bons momentos com "Sweet Georgia Brown" e "Nobody's Child".
A edição brasileira reúne ainda versões alternativas para "My Bonnie" e "Cry for a Shadow". Além dos colecionadores, que vão gostar da obra, vale também para quem quer tem curiodade para saber omo eram os Beatles antes da fama.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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