O fim dos Beatles, há 45 anos, terminou com quase todos os sonhos
Combate Rock
10/04/2015 16h05
Marcelo Moreira
Por mais que o mundo inteiro suspeitasse, ninguém queria admitir, e muito menos ouvir e ler os jornais daquele dia 10 de abril de 1970 cinzento e meio gelado. Paul McCartney estava deixando os Beatles, ao mesmo tempo em que lançava seu primeiro álbum solo.
A falta de atividades da banda desde o lançamento de "Abbey Road", no final do ano anterior, já lançava dúvidas a respeito da continuidade da banda, já que eram fortes os rumores de desentendimentos entre os músicos, assim como Paul não escondia de amigos e não tão amigos sua contrariedade com o gerenciamento dos negócios do grupo pelo empresário Allen Klein.
Pode não ter sido uma grande surpresa, daquelas monstruosas, mas foi chocante, e atordoante, segundo os jornais da época. todo mundo sabia: era o fim dos Beatles, embora ninguém admitisse naquele dia e nas semanas seguintes. John Lennon ficou furioso, pois ele já havia decretado o fim da banda e saído em outubro de 1969. Sentiu-se mais uma vez traído pelo ex-melhor amigo.
Paul McCartney e Allen Klein convenceram John a não anunciar a sua saída antes dos lançamentos de "Abbey Road" e do filme/LP "Let It Be", que ocorreriam nos meses seguintes. Depois da ira de Lennon em uma reunião de negócios dias antes, onde saiu gritando pelos corredores da Apple (empresa dos Beatles) que estava saindo após abandonar uma reunião, restou apenas apagar o incêndio. Paul e Klein conseguiram a promessa de silêncio de John por seis meses.
Mas eis então que Paul grava as últimas músicas do Beatles com George Harrison e Ringo Starr em janeiro de 1970 – a última foi "I Me Mine", de George, incluída em "Let It Be" – e corre loucamente para gravar seu primeiro álbum solo, com produção meio tosca. E, de forma oportunista, decide anunciar a sua saída, abril de 1970, driblando John.
Capa da coletânea "Hey Jude", de 1970. A imagem foi realizada na última sessão de fotos dos Beatles, no final de 1969
"Não acho que tenha traído alguém. Ninguém mais do que eu lutou para manter a banda unida entre 1968 e 1970, quando os outros não estavam interessados. Fiz de tudo e quis levar os Beatles adiante, mas não deu. Então, diante disso, eu me senti no direito de anunciar o rompimento", declarou McCartney em entrevista 30 anos depois à revista Rolling Stone e em sua autobiografia, "Many Years From Now". Em entrevista a Jann Wenner, também da Rolling Stone, no finald e 1971, Lennon revelou toda a sua mágoa com amigo por conta do anúncio.
A separação de banda de rock mais ruidosa e impactante de todos os tempos completa 45 anos, e alterou para sempre o panorama da música pop, deixando o caminho aberto para Rolling Stones, The Who, Led Zeppelin, The Faces e Pink Floyd se digladiassem pelo posto de maior banda de rock da época, nos anos 70.
Não foi o fim imediato dos Beatles. Atordoados, os três remanescentes e Klein fizeram várias reuniões para decidir o que fazer. A única alternativa mais ou menso séria foi a possibilidade de chamar o baixista alemão Klaus Voorman (fotógrafo amigo dos Beatles desde que tocaram em Hamburgo, entre 1960 e 1962, e que acompanhara John Lennon em shows no Canadá em 1969) para o lugar de Paul. A banda mudaria de nome e seguiria em frente. Um dos nomes analisados era The Ladder.
Estava claro que faltava uma parte gigante e que nada seria possível sem Paul. Poucas semanas depois, completamente imerso em seu majestoso álbum solo triplo, "All the Things Must Pass", Harrison avisou Lennon e Ringo que estava fora e que anunciaria oficialmente seu desligamento. Um comunicado conjunto foi emitido logo depois, antecipando o fim da banda.
Costuma-se dizer que foi o verdadeiro fim de uma era – ou o fim de tudo, como certa vez disse o guitarrista californiano Jorma Kaukonen, do Jefferson Airplane. Se os Beatles estabeleceram um novo patamar e um novo período para a história do século XX com seu sucesso, também foram os responsáveis por um novo tempo, em que os sonhos eram menos gloriosos. Na verdade, os Beatles acabara, com todos os sonhos.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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