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Brasileiro é o 1º estrangeiro a chegar ao topo das paradas do blues nos EUA

Combate Rock

10/04/2015 07h00

Marcelo Moreira

O guitarrista Igor Prado é um cara simples, simpático e comunicativo. No palco é um exemplo de músico compenetrado e executa muito bem o que se propõe com a sua banda, a Igor Prado Blues Band. Não só gosta do que faz, mas faz questão de demonstrar que gosta do que faz.

Em uma quarta-feira perdida no meio da década passada, ele e sua trupe faziam o melhor blues em uma pizzaria lotada em São Bernardo do Campo, no ABC, apesar da barulheira da conversação e de altos brados de pelo menos duas festas de aniversário. Nada disso importou. Seu blues era de boa qualidade e contagiou expressiva parte do público.

Ao final do show, me aproximei e perguntei como estavam as coisas em termos profissionais, já que ele acabara de lançar novo CD. Resignado, mas de modo algum em tom de lamento, respondeu solícito: "Estão caminhando. Para nós do blues só resta trabalhar mais e mais. O maior reconhecimento é ver o público nos aplaudir, seja onde for. Já é bastante coisa."

Pois o batalhador do blues nacional só tem motivos para comemorar. A Igor Prado atingiu a posição número um do ranking de audiência das principais rádios de blues dos Estados Unidos, isso graças ao último álbum da banda, "Way Down South", gravado com a Delta Groove All Stars. É a primeira vez que um artista estrangeiro consegue tal feito nos Estados Unidos.

Segundo a Living Chart Blues, o álbum do guitarrista brasileiro lidera as paradas à frente de trabalhos de músicos respeitáveis, como Mike Henderson, Tinsey Ellis, Junior Wells e Robben Ford, entre outros. Nada mal para um guitarrista canhoto paulista que tocava em pizzarias e botecos de São Paulo e do ABC.

Um dos grandes nomes do blues nacional, aproveitou como poucos o fato de ser canhoto e extremamente habilidoso. Tornou-se conhecido com a Prado Blues Band, além de respeitado produtor cultural e de shows em geral. Extremamente requisitado, não há um artista internacional do gênero que não o procure quando toca no Brasil sem banda própria – fruto de um trabalho de extrema qualidade desenvolvido nos Estados Unidos, onde é recebido "com tapete vermelho" por grandes bluesmen da Califórnia e da cidade de Chicago.

No Brasil, é comum vê-lo tocando com Flávio Guimarães (Blues Etílicos), Ari Borger (tecladista e pianista), Ivan Marcio e muitos outros. Com pouco mais de 30 anos de idade, sua discografia ´de causar inveja a experientes músicos.

Com seu elogiado "Way Down South", creditado a Igor Prado Band and Delta Groove All Stars, o guitarrista aproveita sua ascensão constante e mostra cacife respeitável. Participam da obra os gaitistas Kim Wilson, Rod Piazza, Lynwood Slim, Mitch Kashmar, Omar Coleman e Wallace Coleman; os guitarristas Junior Watson e "Monster" Mike Welch (que, além da carreira solo, tocou na banda de Johnny Winter); os cantores Mud Morganfield (filho de Muddy Waters), Sugaray Rayford e J.J. Jackson, e a tecladista Honey Piazza (mulher de Rod; casal californiano é amigo pessoal de Igor Prado, sendo que este é frequente hóspede na elegante morada norte-americana).

Seu contrato é único entre os músicos brasileiros do estilo com uma gravadora norte-americana. Por enquanto o trabalho será distribuído em CDs importados no Brasil via Chico Blues, o grande selo/gravadora do gênero no Brasil, além das versões digitais disponíveis no iTunes e na Amazon.

Quanto à música, prepare-se para um autêntico boogie woogie da gema, com os acentos californiano no timbre da guitarra extraordinariamente bem gravado ora alternados com os fraseados típicos do Mississippi, tudo permeado com o sotaque blueseiro de várias partes da América e a azeitada seção de metais que dá um colorido único ao trabalho.

Destaques? Escolha entre os vários: "Matchbox", "Big Mama Blues", "Baby Won1t You Jump With It", "Rooster Blues", "She's Got It", "Talk to Me Baby"…

Uma das formações da Igor Prado Band. Igor está ao centro, com Ari Borger (piano, à dir.) e Rodrigo Mantovani (baixista, na ponta direita) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Trabalhar bastante

Igor Prado é somente a face mais visível e uma das mais bem-sucedidas do blues nacional, gênero que reúne músicos incansáveis e trabalhadores – característica comum entre todos os blueseiros do país. Trabalhar muito e duro dentro de sua paixão. Reclamação? Quase não se ouve. Parece que os caras não têm tempo para isso.

"Tocar é fundamental, independentemente do que toca no rádio ou do que está bombando na TV e na internet. Cada um tem a sua recompensa, desde que se trabalhe bastante", disse Nuno Mindelis, artista-símbolo do estilo no país, ao lado de Blues Etílicos e André Christóvam.

Mindelis é um guitarrista respeitado no cenário internacional e construiu sua carreira com muita dedicação e muito sacrifício. Em entrevista ao Combate Rock em 2013, ele reforçou a mística de paixão e trabalho mescladas em qualquer situação. "Cansei de sair de show e ir direto para o trabalho. Levava uma muda de roupa, no carro, estacionava o carro e dormia ali mesmo por uma hora, uma hora e meia antes de assumir o batente. Foram tempos difíceis e exaustivos, mas ajudaram a me tornar o que sou hoje."

Toda essa introdução para fazer uma pergunta simples, mas provocativa: por que alguns dos nomes mais estrelados do heavy metal nacional choramingam de tempos em tempos por causa da suposta "falta de apoio" do público e do mercado musical e da "falta de espaço" para tocar, enquanto não se ouve nada parecido em relação aos blueseiros?

É evidente que não dá para dizer que os músicos do metal não trabalham – trabalham e muito. A questão é a choradeira. Perdem tempo precioso reclamando da vida quando deveriam estar ralando mais e mais. Foi assim com o os gaúchos do Krisiun e está sendo assim com o Torture Squad e com o Hangar.

Os bluesmen do Brasil são exemplos de persistência e de postura de como encarar a carreira musical, independentemente do estágio em que estejam. Não se trata de analisar aqui quais são as perspectivas de cada um ou de quão longe vai a ambição dos músicos de cada gênero. É questão de louvar a capacidade de trabalho de quem optou pelo blues e a sua persistência, sempre em silêncio, trabalhando cada vez mais.

Os blueseiros não reclamam de falta de espaço. Conseguiram o deles, que está sendo mantido, e, de certa forma, ampliado de forma lenta. Para os metaleiros que ainda reclamam de falta de união, de apoio do público e de espaço, o exemplo está bem pertinho: Nuno Mindelis, Igor Prado, Adriano Grineberg, Flávio Guimarães, Róbson Fernandes, Marcos Otaviano e muito mais gente que trabalha em silêncio, mas mantém vivo o blues nacional.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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