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'Bandas de 30 anos' ainda são os grandes destaques do rock pesado nacional

Combate Rock

23/03/2015 06h42

Marcelo Moreira

Dr. Sin (FOTO: DIVULGAÇÃO)

As áreas são antagônicas, com quase nenhuma convergência em mais de 30 anos de música, pop ou pesada. Entretanto, as coincidências mercadológicas são as mesmas. Se em 1982 a Blitz deu o pontapé para aquilo que chamamos de pop rock nacional dos 80, com a consequente decadência registrada no segmento a partir dos anos 2000, quase o mesmo se verificou no rock pesado, com pouca coisa sobrevivendo digna de nota no século XXI.

Os grandes nomes do pop rock ainda predominam no mercado – Titãs, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Plebe Rude e Ira!, todos com mais de 30 anos de existência.

No heavy nacional, quem carrega a bandeira da qualidade e da insistência é o chamado Big 6, com pelo menos 25 anos de excelentes serviços prestados.Sepultura, Korzus e Ratos de Porão carregam o fardo de ainda serem os grandes nomes do metal nacional – incluindo o hardcore -, com mais de três décadas de atividade e ainda fortes e cada vez mais pesados, com a companhia estrelada dos gigantes do Angra, Dr. Sin e Krisiun, que ultrapassam os 20 anos de carreira.

Continuam lançando álbuns de qualidade, às vezes excelentes e fatalmente os melhores de suas trajetórias – seria o caso de "Intactus", do Dr. Sin, "Secret Garden", do Angra, e "Legion", do Korzus? E a questão fica mais gritante: não vai aparecer ninguém para suplantá-los?

Será que o panorama de terra arrasada será parecido com o do pop rock, cujo maior expoente desde a década passada nem é rock, na acepção do termo – o Jota Quest?

Nada indica que haverá alguma alteração no Big 6 do rock nacional por excelência – pesado, extreo e de qualidade. As seis bandas estão na ativa e produzindo álbuns ótimos, tão bons quanto seus clássicos.
O maior exemplo é o Dr. Sin, com 23 anos de estrada, mas mais de 30, considerando a época em que seus integrantes começaram.

A estreia do trio paulistano, em CD/LP, lá nos anos 90, conseguiu ser equiparada pelos ótimos "Brutal" e "Animal", mas o novo, "Intactus", recém-lançado, é um grande resumo em alto estilo do que o Dr. Sin conseguiu em mais de duas décadas: hard'n'heavy potente, pesado e virtuoso, diversificado e empolgante. Qual banda conseguiria tal proeza mais de 20 anos depois, em porradas como "We're Not Alone", "Saturday Night" e "Soul Survivor"?

Korzus (FOTO: PATI PATAH/DIVULGAÇÃO)

E o que dizer do Korzus, trintão com um pique de banda iniciante louca para arrasar. "Discipline of Hate", de 2011, é de uma qualidade estonteante, uma porrada atrás da outra, com uma produção de chocar escandinavos acostumados a gravar estrelas. Quem poderia imaginar que o então auge do quinteto paulistano poderia ser superado?

"Legion", recém-lançado, é a resposta. No mínimo é irmão gêmeo do antecessor em termos de qualidade, violência, exuberância e técnica. Seus integrantes, a maioria chegando ou passando dos 50 anos, não sabem o que é cadência e desconhecem o verbo desacelerar. Derrubam o prédio com porradas thrash e impactantes, como "Legion" e "Lifeline".Trinta anos de pauleira nas costas e os caras detonando com um vigor impossível de encontrar nas novas gerações.

"Século Sinistro", do Ratos de Porão, com seis meses de mercado, é algo impensável se considerarmos que seus integrantes estão entrando na casa dos 50 anos de idade.

Não se trata de questionar a capacidade ou competência de fazer algo de qualidade após mais de 30 anos de podreira, mas sim de ficar estupefato com tamanha violência e detruição gerada a partir de guitarra, baixo e bateria.

É difícil equiparar com o que existe no mercado atual em qualidade e em pancadaria. Os conterrâneos Korzus e Krisiun igualam e no, exterior, podemos contar nos dedos – Slayer, Exodus, Testament, Napalm Death… (curiosamente, os citados têm mais de 30 anos de estrada).

Sepultura (FOTO: MARCELO MOREIRA)

Quanto ao Sepultura, segue sendo o maior nome do metal nacional – e a principal banda de rock de todos os tempos, ainda divulgando o bom "The Mediate Between Hand and Head and Hand Must Be the Heart", de 2013.
Assim com o anterior, "Kairos", é um álbum moderno, audacioso, denso e intrincado, mas que mantém a qualidade em altos patamares.

Ainda que em alguns momentos soe autossuficiente, escancara a extrema destreza que a banda adquiriu na composição e na execução dos novos temas -e, como vítima do mercado mundial, toca menos do que devia pelo mundo na atualidade.
No caso do Angra, a capacidade de regeneração é irritante. A terceira encarnação do quinteto paulistano é a mais improvável das reviravoltas roqueiras no Brasil. Mesmo com os constantes problemas no gerenciamento, que ocasionam a troca de integrantes, o grupo mostra capacide de resistência inigualável.

Os guitarristas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt conseguiram uma solidez impressionante no baixista Felipe Andreoli, o melhor do rock nacional disparado, e ganha novo fôlego com o vocalista italiano de extrema competência Fabio Lione (Rhapsody of Fire), com a banda então como convidado desde 2013, e no prodígio baterista Bruno Valverde – um "monstrinho" de competência virtuosismo e qualidade comparável à do amigo de infância e igualmente jovem Eloy Casagrande, hoje no Sepultura.

"Secret Garden", o novo álbum, recém-lançado, é o mais interessante desde o clássico "Temple of Shadows" e teve tanto impacto quanto o ótimo "Rebirth", de 2002, a estreia do vocalista Edu Falaschi em substituição ao exímio André Matos.
Lione teve a sabedoria e a competência de se concentrar na complexa estrutura musical do grupo brasileiro e de dissecá-la por completo, mergulhando de forma elogiável no mundo nem sempre fácil do Angra.

A formação atual do Angra (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Se os primeiros shows, como o do Live'n'Louder de 2013, em São Paulo, ofereceram obstáculos até então previsíveis, mas desconfortaveis, os meses subsequentes foram capazes de dar ao italiano o tempo necessário para a adaptação.

Tanto é verdade que o DVD gravado e lançado em comemoração aos 20 anos de "Angel's Cry" traz Lione como um cantor seguro e inteligente, com domínio de palco e conhecedor de seus limites e possibilidades.

Renovado e aparentemente mais consicente de suas possibilidades, o Angra ressurgiu como banda importante no cenário inetrnacional, voltando a frequentar festivais importantes na Europa e nos Estados Unidos. E "Secret Garden" é um cartão de visitas excelente.

Quanto ao Krisiun, pouco a acrescentar. Permanece como a principal banda brasileira no cenário internacional atual e é um dos cinco gigantes do death metal planetário, mesmo sem um álbum recente.
Para o Big 6 nacional o mundo ainda tem de ser conquistando continuamente, e a roda não para. Os concorrentes nacionais estão tentando, mas não suplantarão as seis bandas veteranas tão cedo.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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