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Eddie, do Iron Maiden, um símbolo do rock vilipendiado por idiotas

Combate Rock

05/02/2015 12h03

Marcelo Moreira

O orgulho de ser paulista já foi bradado em canções de rock como Ira!, 365, Inocentes e mais algumas outras dentro do cenário nacional. Dependendo do ponto do vista do observador, pode ser apenas uma maneira de reforçar um sentimento regionalista (no sentido de valorização da cultura local) – como os gaúchos em seus CTGs (Centro de Tradição Gaúcha) e os nordestinos nos CTNs (Centro de Tradição Nordestina).

De outra forma, há quem enxergue em exaltações do orgulho paulista e das louvações aos combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932 algo mais além, indo do preconceito à mais pura xenofobia.

O segundo ponto de vista, em alguns momentos, ficou bastante exacerbado durante o processo eleitoral de 2014, especialmente após os resultados do primeiro turno da eleição presidencial, com a torrente de votos que a petista Dilma Rousseff teve no Nordeste.

As redes sociais foram inundadas por manifestações extremamente preconceituosas – e perigosas – contra nordestinos e pobres em geral, em uma corrente ódio inacreditável e nojenta – mas não surpreendente, infelizmente.

Na pancadaria eleitoral na internet, um símbolo curioso e diferente teve a sua função desviada para servir de instrumento de gente cretina para destilar raiva, preconceito e xenofobia, quando não para disseminar ideias estapafúrdias de separação dos Estados do Sul e Sudeste como forma de livrar essas regiões do peso (?!?!?!?!?!) nordestino – uma cretinice ainda maior.

Eddie, o boneco/desenho criado por Derek Riggs como mascote do Iron Maiden, ilustra dezenas de capas de álbuns e singles da banda, ora mostrado como um monstro, como um demônio, como um assassino, como um faraó, como um ciborgue futurista, entre outras encarnações. Ganhou até mesmo uma versão "escocesa" – imagem que foi adaptada para uma versão "brasileira" por conta da Copa do Mundo deste ano.

E eis que no ano passado surgiu uma versão "paulista" de Eddie, empunhando uma bandeira do Estado de São Paulo e vestido com o uniforme dos constitucionalistas de 1932. Houve até mesmo o lançamento oficial de camisetas com a estampa em São Paulo, no dia 11 de outubro, na mítica loja de CDs, DVDs e roupas roqueiras Woodstock, em atividade há 36 anos conduzida pelo empresário e radialista Walcir Chalas.

O desenho foi "apropriado" de forma indevida por seres inomináveis que se dizem "roqueiros", que estamparam posts nas redes sociais xingando e destratando eleitores de Dilma Rousseff, em especial os nordestinos – "sou paulista e roqueiro e odeio o Nordeste", escreveu um imbecil, feliz por estampar o Eddie paulista em sua nojeira – o assunto foi tratado em um texto imediatamente anterior a este, na manhã de hoje.

Por mais que seja óbvio que não se pode confundir o orgulho de ser paulista com posturas e posições automaticamente racistas, preconceituosas, xenófobas e secessionistas (que pregam a separação/independência do Estado), em muitos casos a linha é muito tênue, e mesmo quase impossível de ser distinguida, jogando na mesma vala gente boa que apenas gosta de valorizar o lugar onde nasceu sem a necessidade abjeta de discriminar migrantes.

E nunca é demais repetir, mesmo que exaustivamente: Walcir Chalas é um exemplo de pessoa inteligente que sabe discernir as duas coisas – ninguém permanece 36 anos no mercado, tornando-se uma das referências de rock no Brasil, distribuindo bordoadas racistas e preconceituosas contra quem quer que seja.

Ele tem orgulho de ser paulista, mas sem ofender ou militar por uma "causa" discriminatória. Deve ser respeitado por isso. Eu o respeito por isso, entre outras coisas.

E ele não perdeu tempo: postou em sua página no Facebook uma montagem com vários Eddies,incluindo o "paulista", o da Copa do Mundo e o "cangaceiro nordestino", arrematando logo em seguida: "Tenho amigos nos quatro cantos do Brasil". Será que é tão difícil entender tal coisa? Ou será necessário desenhar ainda mais?

Há muita gente decente fazendo questão de manifestar seu orgulho de ser paulista nestes tempos pós-eleição, externando inclusive sua insatisfação com os resultados eleitorais. São posições legítimas e grande parte delas esteve despida de imprecações racistas, raivosas, preconceituosas ou xenófobas.

Infelizmente, por conta de uma minoria de radicais de direita antipetistas, paulistas orgulhosos e que não escondem esse sentimento sem que tenham ofendido alguém, ainda que chateados pela vitória do PT, foram atirados no mesmo buraco que s os preconceituosos e racistas, o que é injusto e lamentável. São vários os fóruns, grupos e sites de pessoas que fazem questão de louvar São Paulo sem que isso signifique a defesa da separação ou da xenofobia contra migrantes.

Que tenhamos a sabedoria de dar um basta neste festival de imbecilidades e que consigamos resgatar o Eddie "paulista" das garras dos abutres que empesteiam a vida com burrice e estupidez.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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