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A música ainda é um produto?

Combate Rock

29/11/2014 06h46

Eduardo Martinez * – publicado originalmente no site O Café

A obra de um músico

Uma música é frequentemente a obra de uma consciência humana. Criar, repetir-se e recriar-se dentro de um contexto propício para evoluir como artista é colocar-se no mercado como produto da sua pesquisa e evolução.

Dentro de um universo, este artista tem a necessidade de criar sua obra atravessando uma série de situações que ele vai trazer para legitimar seu movimento, sua leitura do mundo, sua maneira de conceber e interagir com ele, porém o artista é tributário para sobreviver.

Os mitos da velha Europa estão sempre recontextualizando e intelectualizando dentro do restrito enquadramento de nossa época. O conhecimento aristotelista dava uma classificação da música como uma das artes principiais (as outras são a dança, o teatro, a escultura e a pintura). A função da arte pode ser trazer à luz e confrontar as mudanças deste encenamento da realidade como uma das possibilidades de reconstituí-la de uma maneira subjetiva.

Na música as mudanças dos seculos XIX e XX, assim como a música do serialismo e do atonalismo, esgotaram seu "estudo científico", e podemos nos perguntar sobre seu futuro, sua difusão e sobretudo sobre seus diferentes plataformas e mídias como elemento-chave de sua divulgação para uma sociedade: a música não evolui, apenas muda, transforma-se e adapta-se.

Música & Cultura

A primeira vista, somos reunidos pela música graças a sua função cultural, para comemorar, comungar e responder a necessidade de ter uma identidade desde a noite dos tempos. Apesar de muitas vezes podermos perceber uma função puramente expressiva na música individual, ela pode ou não transformar-se em um produto. No momento que investimos em fazer um cartão com nome e profissão, estamos nos lançando no mercado como um produto ou serviço. Para sobrevivermos como músicos em uma sociedade moderna e nos beneficiarmos deste ambiente criado artificialmente, temos que produzir benefícios aos outros seres através da música, sua divulgação, performance, execução ou ensino. A isso queiramos ou não associaremos nossa imagem e nosso… Som.

Você pode criar, produzir, lançar um CD… CD? Ainda? Que outras plataformas existem? Arquivos compartilhados? Boca a boca?

Esta matéria foi iniciada pelo filósofo francês Victor Chlouti. Através dele conheci a banda de seus amigos, Igorrr, o álbum Hallelujah de 2012.

A prateleira, ou a prateleiras de categoria musical para esse produto, poderiam ser as de eletrônico, alternativo, metal, classico, indie, flamenco, jazz… Blast beats e violinos.

Qual seria a finalidade de tudo saber da música, se não podemos prever onde são seus "pontos de nascimento"; em outros termos, a música "nova" ou recriada individual ou coletivamente é necessária em nosso mundo consumidor? E as plataformas gratuitas e instantâneas da internet? Seriam o fim dos formatos de sucessos radiofônicos de 3 minutos? Pois o Youtube nos permite 8 horas de Wagner ou U2 se quisermos.

No entanto U2 e Wagner começaram suas carreiras antes disso. Como fica a produto atual, a música feita hoje em um aplicativo ou eu um estúdio caseiro ou não? Podemos tudo considerar como uma música (John Cage)? Então como perceber seus limites? E que dizer do silêncio? O silêncio é o que há de mais caro no mercado dos sons, pois o silêncio é grátis e raro, impossível de conceber-se. O silêncio é o horror ou nirvana de conectar-se com sua própria audição interior primordial.

Para constituir uma visão (ou audição) mais justa dos aspectos da música, devemos também incluir o fato de que uma instrumentalização para o mercado ser necessária para dinamizar seu modelo de consumo. Uma razão pela qual a musica está no coração de vários estudos sobre a relação com a ciência psicológica.

Enfim, as perspectivas das mídias: há uma tendencia de uma mídia ser mais efetiva em função dos individuo que vai atingir. neste caso, devemos ter uma reflexão sobre a reprodutibilidade da música sobre a rede, sua poderosa força de desestruturação da criação, com a consequência do desaparecimento do caráter único de uma obra, da sua aura (Mona Lisa da Vinci).

A fim de compreender o status de produto da musica, devemos observar o mecanismo que ela possa ter dentro do nosso sistema.

-musica natural (tocada por humanos)

-musica eletronica (algorítmico)

-musica ritualizada / religiosa

-formatos digitais diversos (flac, wav, mp3, mvid, etc.)

-formatos analógicos saudosistas (vinil, K7)

-produção "heterogênea": o conceito de poder observar várias especificidades de produção, frequentemente em relação com as outras artes (visuais, plasticas, etc) como ópera rock, show (som, luz), música interativa: sempre um casamento entre duas artes.

-Acesso instantâneo individual: É possível fundir várias ideias através de plataformas de gravação, produção, edição, e difusão.

-Packaging, serviços de difusão de uma obra via apresentações diversas através de pacotes e impulsionamento por redes.

É possível também falar acerca da participação do consumidor que vai escolher sua música, mas paradoxalmente pode haver uma cultura musical comum a todo mundo (modo dos "flashmob", a musica "Gangnam Style" do coreano Psy).

Considere a música como um produto para além dos seus significados filosóficos. Ela tem a consciência do mundo contemporâneo, sua relação com a oferta e demanda. Fazer música é para compreender, através da sua atividade musical, que é tanto a ferramenta como o próprio produto.

É hora de aceitar a vocação do artista que é também empresário de sua própria criação. E já que a música é uma arte em busca de uma perfeita clareza, mesmo a beleza, para transmitir um fragmento das possibilidades sonoras do nosso mundo de ressonância, ele deve estar ciente de seu próprio valor, padrões e símbolos que ela, a música, decidir.

É, acima de tudo, a educação, seja ela escrita ou oral. Em outras palavras, a música como que legitima a participação e movimentação de produtos no mercado global. Para servir a sua respiração, as suas mãos, o seu tempo. E isto não é uma panaceia.

Quem é o seu mercado afinal músico? Você é tributário, natural, ritual, individual, intelectual, ou comercial? Os deuses nos salvem das músicas, a música nos salve dos deuses: get a job man.

Bons sonhos.

*Eduardo Martinez  é guitarrista da banda gaúcha Hangar, leciona guitarra na Casa Da Música Sinodal, em São Leopoldo e na Escola Crivellaro, em Porto Alegre

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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