Topo

Caixa de Stevie Ray Vaughan traz todos os álbuns oficiais e raridades

Combate Rock

10/11/2014 06h58

Marcelo Moreira

O baú está vazio? Então vamos reeditar tudo de novo, com algum chamariz. Essa regra tem enfurecido consumidores de música no mundo inteiro, desde os fãs do Pink Foyd, inconformados com o anúncio de um "novo álbum", mas que não passa de uma colcha de retalhos de trechos descartados de canções de 20 anos atrás, e do Led Zeppelin, decepcionados com as supostas "coisas inéditas" que incluídas nas recentes reedições de 2014.

O mago da guitarra Steve Ray Vaughan, morto em 1990, não escapa da sina. Já teve incontáveis álbuns ao vivo lançados nos últimos 24 anos, além de um álbum de sobras que seriam lançadas, de qualquer forma, como um álbum oficial do guitarrista em 1991 caso estivesse vivo – "The Sky Is Crying".

O último grande lançamento do blueseiro texano digno de nota foi a maravilhosa caixa com três CDs e um DVD com raridades e versões matadoras ao vivo, que recebeu o nome de "SRV" nos Estados Unidos, em 2000. Uma versão requentada desta caixa surgiu em 2007, em CD simples, com o nome de "Solos, Sessions and Encores".

Nesta semana é a vez de as lojas norte-americanas receberem a versão física de "The Complete Epic Box", com toda a discografia de Stevie pelo selo/gravadora Epic, ou seja, enquanto esteve vivo. Os póstumos "Famly Style", de 1990, gravado ao lado do irmão mais velho Jimmie Vaughan, e "The Sky Is Crying" não foram incluídos.

O brinquedo é caro, e vem sem os bônus ao vivo e de estúdio que foram lançados em reedições dos discos oficiais entre 2009 e 2012. Entretanto, é obrigatório para quem gosta de boa música, de blues e não tem nada do mestre texano, com a chance de ter tudo de uma vez.

Para adoçar os colecionadores e dar um "toque" original, a Epic decidiu incluir uma raridade (em termos): pela primeira vez, editado em CD, com áudio de primeira, "Live at El Mocambo", uma apresentação no famoso pardieiro canadense de Toronto, que já recebeu Muddy Waters e Rolling Stones, entre outros.

O vídeo original, lançado em VHS em 1986, foi cultuado nos anos 90 como a então única coleção oficial de imagem ao vivo do guitarrista, coisa que foi corrigida ao longo dos anos com outros lançamentos, mais especificamente com o DVD duplo magistral que registra as duas apresentações de Stevie Ray Vaughan e a sua Duble Trouble no Festival de Montreux.

"Live at El Mocambo" rivaliza com os áudios de Montreux e do Carnegie Hall de Nova York (gravado em 1984, mas só lançado nos anos 2000 em CD) como a melhor apresentação documentada do guitarrista. O áudio do show canadense, extraído de várias formas desde os anos 90, sempre estiveram à disposição em vários bootlegs (álbuns piratas), mas vem em boa hora para corrigir uma lacuna na discografia do músico.

 

Outra boa ideia foi incluir dois suculentos CDs chamados "Archives vol. 1 & 2", como demos, remixes diferentes e versões ao vivo, muitas não incluídas na caixa "SRV", de 2000. Não há nenhum grande achado, mas serve como consolo para alguns colecionadores que vão tentar procurar algo de diferente.

São 12 CDs: os quatro álbuns oficiais – "Texas Flood" (1983), "Couldn't Stand the Weather" (1984), "Soul to Soul" (1985) e "In Step" (1989); o único ao vivo lançado em vida, "Live Alive" (1986); "Live at Carnegie Hall", aqui em versão simples; "Live at El Mocambo", também em CD simples; os dois volumes de "Archives"; "Live in Montreux", em CD duplo; e "In the Beginning", outro lançamento póstumo registrando uma apresentação ao vivo transmitido por uma rádio texana em 1980, quando o baixista da Double Trouble ainda era Jack Newhouse, substituído pouco depois po Tommy Shannon.

Foram seis prêmios Grammy em praticamente dez anos de carreira de verdade (1980-1990), sendo sete com lançamentos oficiais. Nada mal para um moleque magrelo e insistente que vivia à sombra do irmão então famoso como guitarrista dos Fabulous Thunderbirds.

Carreira meteórica 

O guitarrista Eric Clapton costuma dizer que, quando tocava ao lado do texano Stevie Ray Vaughan, ficava muito preocupado, já que era impossível acompanhar e entender o que o mágico guitarrista de blues fazia, graças à genialidade e ao virtuosismo. Para Clapton e para a lenda do blues Buddy Guy, ninguém chegou tão perto de Jimi Hendrix como Stevie Ray.

Com sua banda de apoio, a Double Trouble – Tommy Shannon (baixo), Chris Layton (bateria) e Reese Wynans (teclados) -, Stevie Ray Vaughan passou como um furacão nos anos 80, revolucionando o jeito de tocar guitarra e resgatando o blues de mais um período de estagnação.

O mestre texano completaria 60 anos em 2014. A lista de seguidores é infindável, mas o lugar continua e vai continuar vago. A data, entretanto, começou a ser lembrada no ano passado como havia prometido o irmão mais velho, Jimmie, também guitarrista e espécie de guardião do legado e do acervo de Stevie Ray.

FOTO: DIVULGAÇÃO

O primeiro lançamento daquela que promete ser uma série de produtos até o começo do ano que vem, por coincidência, também embutia uma efeméride: "Texas Flood", o primeiro álbum do guitarrista, de 1983, completou 30 anos nas lojas em 2013. Foi seu primeiro registro fonográfico, mesmo aos 29 anos de idade, e resultado de uma vitoriosa (e polêmica) passagem pelo Montreux Jazz Festival no ano anterior.

Denso, hipnótico e conciso, "Texas Flood" mostra um guitarrista hipnótico e extremamente técnico, mas com uma dose de espontaneidade e juventude que havia muito o blues não tinha. Seus fraseados de guitarra limpos e virtuosos influenciaram toda uma geração de músicos – Joe Bonamassa, Jeff Healey, Derek Trucks, Warren Haynes, Kenny Wayne Shepherd, Jonny Lang e muitos outros. "Stevie Ray mudou a forma de se tocar blues e levou adiante o trabalho de Jimi Hendrix", reverencia Clapton em uma entrevista à Guitar Player norte-americana no ano 2000.

Foram apenas cinco álbuns de estúdio e um ao vivo, além de três vídeos obrigatórios. Mergulhou mais de uma vez ao fundo do poço nos excessos do álcool e das drogas, foram várias as internações para reabilitação, mas as descidas ao inferno foram proporcionais às vezes em que atingiu o topo como músico, ganhando a veneração de gente como Santana, Clapton, Buddy Guy, Albert King, Jeff Beck e muitos outros gênios.

O destino foi cruel demais com o genial guitarrista. Ironicamente, Stevie Ray Vaughan morreu quando finalmente parecia ter se convencido a largar as drogas, após mais uma longa internação em clínica de reabilitação. Segundo o baterista Chris Layton, que o acompanhava na famosa Double Trouble, o músico estava muito mais animado naquele ano de 1990 do que jamais estiveram nos cinco anos anteriores. E parecia que finalmente se sentia bem diante da sobriedade.

O guitarrista não teve muito tempo para desfrutar o período mais ameno. Pouco aproveitou o estrondoso sucesso de "In Step", seu álbum de 1989, onde aproximava seu blues texano de um rock mais acessível e comercial. E nem chegou a ver nas lojas "Family Style", o único álbum que gravou ao lado irmão, Jimmie Vaughan (ex-intergrantes da bandas Fabulous Thunderbirds).

Stevie Ray Vaugha (centro) com a Double Troube: o baterista Chris Layton (esq.) e o baixista Tommy Shannon (direita) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Stevie Ray Vaughan deveria participar de um grande festival de blues no final de agosto de 1990 em uma região conhecida como Alpine Valley, Estado de Winsconsin, nos Estados Unidos, nos arredores de um vilarejo chamado East Troy. Na jam session final, parecia com fome de blues ao se exibir ao lado do irmão Jimmie, de Eric Clapton e de Robert Cray.

Durante a madrugada de 27 de agosto, após o show, vários helicópteros foram colocados à disposição de músicos e técnicos para retornar ao aeroporto mais próximo. Não se sabe o porquê, mas Stevie queria porque queria voltar mais cedo para o aeroporto e ir para casa, mesmo com as condições péssimas do tempo, com muita chuva e nevoeiro.

Diante de tanta insistência, conseguiu um lugar na aeronave que levaria parte da equipe de palco de Eric Clapton – que também deveria estar no voo, mas desistiu à última hora de embarcar porque tinha mais gente querendo ir embora mais cedo.

Por volta de 1h daquela madrugada, três helicópteros decolaram sob intenso nevoeiro. Só dois chegaram ao aeródromo. Um deles, o que levava Stevie Ray Vaughan, chocou-se contra uma montanha nas proximidades de East Troy.

Morto aos 36 anos de idade, é venerado dentro meio musical. Deveria tocar em um festival de blues em Ribeirão Preto em setembro de 1990, embora ainda não tivesse assinado o contrato. Seus discípulos diretos na atualidade,  como Bonamassa, Derek Trucks e muitos outros, não hesitam: ele foi um gênio da guitarra.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Caixa de Stevie Ray Vaughan traz todos os álbuns oficiais e raridades - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Mais Posts