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Metal que atropela a crise: Republica, Higher, Pop Javali, Daydream XI...

Combate Rock

15/10/2014 06h55

Marcelo Moreira

 O metal nacional está em crise? Então esqueceram de avisar um monte de banda boa por aí. São vários os bons CDs que estão sendo lançados neste ano, com qualidade surpreendente e bem acima da média. É o caso, por exemplo, da banda paulistana Republica, composta por veteranos da cena brasileira.

Depois de uma bem-sucedida aparição no Rock in Rio 2013, o quinteto lançou "Point of No Return", muito pesado e com sonoridade moderna, recolocando nos trilhos um grupo com trajetória acidentada de 22 anos e apenas três álbuns lançados. São dez músicas com sonoridade muito próxima do que as bandas norte-americanas do gênero estão realizando hoje, com ênfase nas guitarras e excelente trabalho na bateria.

Paciência foi a palavra-chave no desenvolvimento do trabalho. Tudo foi pesquisado à exaustão, desde o timbre da guitarras até a colocação dos microfones no estúdio para capturar o som "porrada" da bateria. Os músicos não são novatos, apesar dos poucos lançamentos em mais de 20 anos de carreira.

O convite para o Rock in Rio, mesmo para tocar rapidamente e dividindo o palco com Dr. Sin, coroa a melhor fase da banda. O Lollapalloza 2013 já tinha servido de aperitivo para o grande ato que seria o show nos palcos cariocas. Vitória da persistência e da paciência. "Sempre deixamos claro que buscávamos consistência e qualidade em nosso material. energia é fundamental para uma boa banda de rock, só que a busca pelo diferente e pela qualidade tem de ser permanente e um dos objetivos principais", disse o vocalista Leo Belling durante a audição de apresentação do novo álbum, realizada no ano passado

"Point of No Return" realmente é um trabalho der boa qualidade, já despontando entre os melhores das bandas nacionais em 2013. Muito bem produzido, é quase uma coletânea, com várias músicas podendo virar single imediatamente, como a pesada "Time to Pay", a veloz "Dark Road" e as climáticas "Life Goes On" e "Change My Way".

Um destaque do álbum é a participação do guitarrista e produtor norte-americano Roy Z na faixa "Goodbye Asshole", e que acompanhou a banda no show do Rock in Rio. Roy Z tocou com Bruce Dickinson e teve relativo sucesso com a banda Tribe of Gypsyes.

Quem está surpreendendo é o quarteto Higher, banda nova formada por músicos experientes na cena paulista, mas tocando jazz e até música brasileira (nos shows um segundo guitarrista foi adicionado, e que deve ser efetivado). Amantes da música pesada, os músicos cometeram um álbum muito bom, misturando com competência sons m,ais modernos com arranjos mais "vintage", caindo um pouco para o lado do heavy setentista. O resultado é interessante.

"Higher", o álbum, foi concebido para ser direto, com riffs fortes e velozes, mas o background rico dos músicos acrescentou um molho diferenciado, como o baixo suingado e técnico da agressiva "Lie!". "Like That Wind" é mais explícita, com passagens que remetem ao jazz, com o mesmo baixo "grooveado" e uma linha intrincada de guitarras. "Illusion", por outro lado, é pesadona, claustrofóbica, com um é no rock industrial e com arranjos bem trabalhados e adição de coros e metais.

A pegada classic rock vem com duas boas canções, talvez as melhores, do álbum: "Keep Me High" e "Time to Change", que trazem um clima oitentista sem os clichês saudosistas que muitas bandas costumam aplicar. É possível encontrar ecos de Judas Priest, Motley Crue, Iron Maiden e mesmo algo da carreira solo de Ozzy Osbourne, especialmente no trabalho de guitarras. A balada "Break the Wall" escapa da mesmice e do brega com uma melodia marcante e um belo vocal.

Todas as músicas são temperadas por um conceito filosófico em torno das letras, algo que foi definido antes mesmo do início do trabalho de composição, algo pouco comum no rock, ainda mais no rock brasileiro. Não se trata de um álbum conceitual, como esclarece o guitarrista Gustavo Scaranelo: é necessário aproveitar a vida e seus desafios para tornar-se uma pessoa melhor, o que justifica a vida humana. "Desse conceito nasceu o nome Higher: o ser humano lutando por uma condição mais elevada."

Com a mesma alta qualidade demonstrada pelo Higher, o trio dar hard/heavy Pop Javali demole os ouvidos com "The Game of Fate", álbum expressivo e de qualidade gravado no estúdio Sonata 84, dos irmão Andria e Ivan Busic (baixista e baterista do Dr. Sin, respectivamente). Bem produzido e com pegada forte, lembra um pouco o próprio Dr. Sin em alguns momentos, mas sem o virtuosismo e a guitarra blueseira de Edu Ardanuy.

Com 22 anos de carreira, o trio teve paciência e perseverança para criar um conjunto de canções fortes, bem construídas e com bom potencial radiofônico, com remissões frequentes aos anos 80. "Healing No More", por exemplo, reúne o melhor dos dois mundos: é Dr. Sin na veia com o que de melhor o Journey produziu em seu auge – sem os excessos que caracterizaram a banda americana em algumas de suas fases. Ganchuda e agradável, é um dos destaques do álbum.

"Lie to Me" é um tapa na orelha, embora com um pique contagiante e bom refrão, assim como a excelente "Mindset", pesada e rápida, com vocais fortes e versáteis do baixista Marcelo Frizzo, um legitimo discípulo de Andria Busic. "Time Allowed" também é ótima, com ótimo trabalho de guitarras e riff contagiante. por que a banda demorou tanto para lançar este trabalho interessante?

Por fim, finalmente foi lançado o álbum da excelente Daydream XI, mais um grupo brasileiro do elenco da gravadora alemã Power Prog. Banda gaúcha da nova geração, executa um prog metal de maneira inusitada, quase em um cruzamento entre Dream Theater, bandas escandinavas e o Animal As a Leader, fenômeno do metal instrumental/djent. Embora ainda pouco conhecida no Brasil, tem cartaz alto no exterior – foi escolhida pessoalmente por Mike Portnoy (ex-baterista do Dream Theater) para integrar o Progressive Nation At the Sea 2014, cruzeiro prog metal realizado no Caribe em fevereiro passado.

"The Great Disguise", seu mais recente álbum, foi mixado pelo sueco André Alvinzi, com coprodução de outro sueco, o renomado Jens Bogren (Soilwork, Katatonia, Opeth, Symphony X, Pain of Salvation, James LaBrie, entre outros) que masterizou e finalizou o álbum. Um acabamento de primeira para um produto de primeira. 

"Keep Me Dream Alive" é uma pancada logo na abertura, com sua introdução épica para uma porrada power, quase thrash. os vocais são primorosos, embora sem grande originalidade, remetendo aos grandes nome do subestilo baseados na Escandinávia. "Watch Me Rise", candidata a single, já traz um acento mais acessível, digamos assim, relembrando os grandes momentos dos ingleses do Threshold (uma bandaça pouco conhecida no Brasil). 

Todas as faixas são ótimas, dificultando a busca por outros destaques, mas creio que a sequência matadora "The Age of Madness", "Wings of Destruction" e "About Life and Its Ending" define o som do grupo: peso, velocidade, destreza técnica e extremo bom gosto na escolha de timbres. Preste muita atenção também na faixa-título, um épico de 23 minutos com nítida inspiração no Dream Theater, mas com pitadas der King Crimson e Angra, em uma montanha russa (no bom sentido) de sons pesados e variações rítmicas. Um dos grandes lançamentos do ano.

 

 

 

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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