Nunca mais teremos uma banda como RPM
Maurício Gaia
14/09/2014 12h25
O desavisado que passou nesta semana pela volta do Programa do Jô, viu: uns tiozinhos tocando rock – era o RPM. Tentando ensaiar alguma volta, ou melhor, agendando alguns shows pelo interior do país, o RPM estava lá, com alguns quilos a mais e sinais de calvície bem avançada, tocando Radio Pirata. Algum garoto de quinze anos acharia ridículo, mas eu digo: nunca mais o Brasil terá uma banda como o RPM. Pra quem lembra e pra quem não sabe: surgida nos rastros do pós-punk paulistano dos anos 80, a banda uniu letras bem sacadas com um tecnopop derivativo do progressivo e ternos bem cortados e conseguia competir em termos de popularidade com Roberto Carlos – e ganhava em tecnologia, com computadores, sintetizadores e raio laser no palco.
Adolescente que eu era, vi o fenômeno – um bom termômetro era o amigo secreto da classe: se antes, a grande maioria pedia uma coletânea chamada "Hit Parade" (eu e mais dois infelizes pedíamos AC/DC), naquele ano da glória de 1985, toda a molecada queria o disco da capa amarela do RPM. Nem precisava haver troca, porque o disco que você comprava era o mesmo que iria ganhar (eu comprei um do RPM e ganhei um do….RPM). Em pouco tempo, virou mania: a banda que todos nós gostávamos, saiu da sala de estar e foi parar na cozinha: os shows reuniam gente de todas as classes sociais e todos gostando daquela tecladeira prog de Luiz Schiavon e o ~jeito sexy de ser~ de Paulo Ricardo.
Musicalmente, havia os méritos e suas ousadias: canções sem refrão, compassos quebrados e ninguém achava estranho. Mas tudo o que sobe muito alto e rápido, sabemos, se estraçalha. Os excessos – e não eram poucos; um disco ao vivo lançado logo depois do de estúdio, com o mesmo repertório; as brigas de egos – tudo contribuiu para que o RPM se desintegrasse, na mesma velocidade com que atingiu um patamar que nenhuma outra banda no país conseguiu. Anos depois, com outra estética e outros motivos, a Legião Urbana chegou lá, mas nunca teve a seu dispor todo o aparato de stardom que os repemês contaram.
Hoje, o RPM volta com a certeza de que não terá a mesma popularidade que teve antes, mas sabendo que nunca no Brasil haverá uma banda que foi tão longe como eles.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
Sobre o Blog
O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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