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Vasco Faé, o blues maravilhoso de um homem só - parte 1

Combate Rock

02/07/2014 07h00

Eugênio Martins Júnior – do Mannish Blog

Foros: arquivo pessoal Vasco Faé

Vasco Faé é um artista completo: canta, compõe, arranja, produz e toca vários instrumentos. É integrante da Irmandade do Blues, uma das bandas em atividade mais antigas e legais do Brasil.

O outro projeto é solo, no qual Vasco desenvolveu as habilidades de one man band, o Manoblues, que conta com um disco em estúdio e um duplo ao vivo já lançados. Vasco usa um set muito louco, com vários instrumentos musicais e aparatos eletrônicos.

Durante dois anos integrou a banda Blues Etílicos como cantor, compositor e instrumentista de 2003/05, gravando o CD Cor do Universo e excursionando por todo o Brasil.

Produziu ainda duas coletâneas, Blueseiros do Brasil – Gaitistas e Blueseiros do Brasil – Pororoca; além de produzir seus discos solos.

Entre 2002 e 2012 acompanhou Andreas Kisser, guitarrista da banda Sepultura, em shows pelo Brasil e gravou vozes e gaitas no CD solo de Andreas, o Hubris.

O mais recente trabalho, Manoblues ao vivo, gravado em 2012, é um disco duplo de blues tradicional. Mas também é um CD que tem Samba do Arnesto (Adoniran Barbosa), Medo da Chuva (Raul Seixas) e que mistura Blackbird com Assum Preto e Trem das Onze com Hoochie Coochie Man.

Brasileiro tocando blues não poderia dar em outra coisa. Ao promover o encontro dos estilos, Vasco Faé, assim como outros artistas nacionais, aponta um dos caminhos para a evolução de ambos. Os puristas devem odiar. Mas quem se importa com eles, não é verdade?

Eugênio Martins Júnior Li em uma entrevista que você começou dedilhando o piano da tua tia. E depois?
Vasco Faé – Passei por várias experiências musicais antes de levar a música a sério. Eu sentava nesse piano e tentava tirar alguma melodia com as notas. O piano é um instrumento que facilita muito, as notas estão todas lá. Não é preciso uma habilidade específica para fazer o som sair como a gaita ou a guitarra. Tentei antes brincar de violão, mas não deu certo. Aos 16 anos comecei a ter aulas de bateria até montar uma banda com o pessoal da escola, mas também não deu certo porque eu era muito indisciplinado. Pra mim era diversão, não estava a fim de tocar em banda. Tanto é que um dos caras que tem banda até hoje no mesmo estilo, uma coisa meio punk (risos).
Aí a turma que eu estava andando começou a andar com uns caras estranhos e minha mãe me mandou morar em Monte Sião, Minas Gerais, com meu tio. Lá comecei a entrar mais em contato com a música. Meu tio tocava violão e passou a me ensinar algumas coisas. Comecei a desenvolver o gosto pela coisa, prestar mais atenção. Foi ele quem falou que eu tinha voz boa pra cantar. Então passei a acompanhá-lo nas festas.

EM – E como foi que o blues entrou na tua vida?
VF – Eu já tinha uma gaita, desde 1987. Andava com ela no bolso. Em 1989 conheci minha esposa e ela me deu um disco do Eric Clapton, o Early Sessions, que ouvi durante meses. Antes disso eu já havia comprado uma coletânea da Atlantic, mas nem sabia o que era blues. Mais pra frente, quando já estava direcionado, ela me deu um disco chamado Hard Again, um dos melhores discos do Muddy Waters. E com ela eu conheci o Jazz and Blues, um em Santo André que foi o responsável pelo lançamento de muitas bandas de São Paulo e Rio, entre eles André Christovam, Irmandade do Blues, Blues Etílicos e Big Allanbik. Passei a ir lá todos os fins de semana e aí o dono do bar inventou de formar uma big banda e me chamou. Mas eu não era músico, eu ia aos lugares e tocava do meu jeito, chegava ao ponto de sentar à mesa e colocar a gaita na luz para o reflexo chamar a atenção do músico e ele me chamar pra uma canja. Nunca pensei em ser músico, trabalhava na metalúrgica do meu pai. Então eu ia ao ensaio dessa banda e nunca tocava. O maestro Edu Moreno, que hoje é meu amigo, deve ter achado que eu ia desistir (risos). Os ensaios duravam quatro, cinco horas e eu gravava tudo pra ficar em casa ouvindo. E na época não havia gravadorzinho, eu levava o meu três em um mesmo. Vendo isso ele arrumou uma música pra eu tocar, mas logo a banda se desfez.  Continuei indo ao Blues and Jazz e me chamaram para dar uma canja no grupo Tá Tudo Blues e depois para integrar a banda que era composta por Edu Gomes que depois iria tocar na Irmandade do Blues, o Ari Borger e o Fernando Janson. Foi meu primeiro trabalho profissional.

EM – Mas a gaita já era uma coisa séria? Você já estudava o instrumento?
VF – Sim, mas não tinha professor de gaita nessa época. O gaitista mais conhecido era o Dr Fellgood. O resto estava começando, eu o Serginho (Duarte), o Flávio Vajman. Nos anos 80 o gaitista em São Paulo era o Dr e no Rio era o Flávio (Guimarães), isso na gaita de bend, também conhecida como diatônica.

EM – Gostaria que falasse sobre a trajetória da Irmandade do Blues, grupo que tem mais de 20 anos.
VF – O cara que estava substituindo o nosso baterista em um show me colocou em contato com um amigo dele que estava formando outra banda. Fui lá e fiz um teste, rolou uma afinidade musical e a banda Blues Dog começou no final de 1992, com Armando Dejulio na bateria, João Carlos no baixo, Jessé Carvalho na guitarra e eu na gaita e vocal. Durante um ano ficou assim e depois entraram o Edu Gomes na guitarra e o Márcio Alemão no baixo. Quando descobrimos que já havia uma banda chamada Blues Dog mudamos para Irmandade do Blues. Quando o Jessé saiu da banda eu passei a tocar guitarra também. Seis meses depois o Armando saiu e o Fernando Loia entrou na bateria e essa formação permanece até hoje.

EM – Como era a cena nessa época?
VF – Eu era o cara mais novo na banda e não para me usar de parâmetro. Tive muita sorte no começo por me envolver com os caras que me envolvi. Por exemplo, a Tá Tudo Blues tinha o Edu Gomes que já tocava há quinze anos, tinha o Ari Borger que também já tinha essa bagagem. No grupo que viria a ser a Irmandade, o Armando era um cara que já havia tocado há 15 anos na noite. O Silvio Alemão já tocava na banda Moral e Bons Costumes e tinha experiência de palco. Eu era o cara que queria fazer bagunça e a galera me brecava, "que é isso, vamos ensaiar, vamos tocar", diziam. E eu queria curtir, fazer as coisas que não havia feito na banda aos 16 anos. Era muito porra louca e continuou quando comecei a tocar profissionalmente. Percebi que quando você tem o domínio daquilo que está tocando, não no sentido de ser o melhor, mas de conseguir se expressar daquela forma, você quer fazer muito aquilo. O Edu me disse que eu não tive infância musical, aquele lance de tocar sem sentido nenhum, bagunçar, coisa que a maioria dos músicos que eu conheci um dia teve na adolescência.

EM – Vocês gravaram o primeiro disco em 1996. Teve um tempo pra preparação, como foi esse começo?
VF – Gravamos aquilo que a gente tocava. Arranjos de todas as fases até antes de eu entrar, uma mescla de três anos de formação. No encarte tem o nome de todos que passaram pela banda. Procuramos manter a identidade do começo, tocando um blues pesado. Tentamos manter isso até hoje. O Loia tem uma pegada forte e mais técnica, um repertório mais requintado.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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