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Metal nacional: mais peso e mais agressividade na nova safra de bandas

Combate Rock

04/06/2014 06h50

Marcelo Moreira

Poucos lugares para tocar, vendas em queda ainda acentuada e público fugindo mesmo de eventos gratuitos. O que leva então gente inteligente e competente a investir em rock no Brasil, e ainda por cima no heavy metal, onde a situação é ainda pior?

Nada disso desanima uma parcela grande de músicos que ainda acalentam o sonho de atrair gente para curtir o som que produzem e que vibram em poder pegar o CD que acabam de gravar. Paixão ou vício? Provavelmente os dois. Na verdade, quase ninguém se preocupa com isso. O sonho empurra essa gente cada vez à frente, para a sorte de quem dá valor a sons autorais e rock bem feito.

A banda paulista Slasher passa pro cima do derrotismo e do pessimismo jogando na cara do ouvinte o excelente álbum "Katharsis". O grupo é uma prova concreta de como as bandas brasileiras de metal extremo se especializaram em fazer sons violentos e insanos. De onde vem tanta raiva para tanta desgraceira? O Slasher faz com que o mundo cai na sua cabeça nas três primeiras músicas, empurrando o ouvinte diretamente para o inferno.

O quinteto de Itapira, no interior de São Paulo, passa por cima como um rolo compressor, sem piedade. Pancada atrás de pancada, a música é direta e reta, permeada com um apuro técnico no trabalho de guitarras. Após a intro, "Disposible God" entra de forma muito pesada, com um thrash estremecedor de inspiração europeia. "Overcome" segue a mesma toada, com riffs excelentes e muito peso, desta vez prestando um tributo ao Testament.

"Final Day" já é mais moderna, com um pegada com mais saturação e som mais amplo. O mesmo ocorre em "Face the Acts", com raros solos e foco nos riffs ensurdecedores. "Jamais Me Entregar", apesar do título em português, é um thrashão maduro e sem respiro, assim como "Hostile".

É de se imaginar como seria o Slasher com um orçamento mais generoso para turbinar a produção. Qualidade não falta, e desde já "Katharsis" se candidata a um dos destaques do metal nacional de 2014.

A violência também é a aposta de outra boa banda de thrash nacional. O Angry pegou pesado com "Future Chaos", bem produzido e com um som torturante de guitarra. Ok, tudo ali remete a Slayer, mas esqueça se alguém falar que é mera cópia. A fúria da banda é toda própria, apostando na mesma desgraceira do Slasher.

Há bons solos de guitarra em "Future Chaos" e "Suffocated by Despair " e uma pegada "progressiva" na interessante e rápida "Last Day", onde os músicos demonstram bastante versatilidade e habilidade.

Quer mais violência? Então tome o DNR, tão furioso quanto as duas bandas anteriores, mas que faz um som mais direto e cru, com uma empolgante pegada hardcore. E, como bom hardcore, as letras são em português repletas de ira e pancadaria.

Alguns vão reclamar que a produção deixou limpas algumas partes que deveriam ser mais e mais sujas. Bobagem. Músicas como "Lei do Cão", "Atrofiando Menters" e "Controle Inativo" estremecem qualquer ambiente, em uma autêntica porrada sonora.

Os veteranos do Executer não ficam atrás na pancadaria. Com quase 30 anos de carreira e atualmente em turnê pela Europa, os paulistas são mais tradicionalistas e buscam intencionalmente uma pegada mais old school. E dá-lhe uma tonelada de referências em "Helliday", seu mais recente álbum, que passam por Slayer, Exodus, Testament, tudo com uma pegada moderna. "The Big Pocket of the Shark" é a melhor faixa, fechando o álbum.

Do Mato Grosso do Sul vem um som que é menos podreira, apostando em um heavy mais tradicional e melódico. O Shadow Legacy não é novato, mas a gana demonstrada em seu novo álbum, "You're Going to Straight Hell", é digna de uma molecada que brinca com tudo em um estúdio bem equipado.

A produção é bem simples, mas com o cuidado de permitir que os belos timbres de guitarra se sobressaiam sem que haja superposição que embole as coisas. Em algumas faixas, entretanto, a falta de uma produção caprichada deixou o som sem pegada, o que não é um grande problema. "We Are Legacy", por exemplo, poderia ser mais pesada, com a exploração dos poderosos timbres de guitarra característicos da banda.

Na música "Hate Within", com o convidado de peso – Blaze Bayley, ex-vocalista do Iron Maiden -, a vigorosa voz do cantor britânico domina de tal forma a cena que deixa as mesmas guitarras poderosas em segundo plano. Um pequeno ajuste na equalização poderia ter resolvido o problema. Seja como for, o grupo é um ótimo expoente da nova safra de bandas que apostam no peso tradicional do início dos anos 80, e o faz com bastante competência.

Por último, vale mencionar uma banda argentina que decidiu apostar quase tudo em uma presença mais significativa no mercado brasileiro. O Climatic Terra acaba de lançar "Entity" quebrando tudo, em uma produção de bom nível e com agressividade pouco comum em bandas portenhas.

Criado em 2004 em Buenos Aires, o grupo faz um thrash bastante moderno e intenso, embora em algumas passagens haja um desbalanceamento entre guitarras e o baixo. Incomoda? Até certo ponto, mas o peso avassalador compensa os pequenos problemas de mixagem. Até mesmo o que poderia atrapalhar, como uma bateria um mais alta e estridente, acaba casando perfeitamente com o conceito do álbum. Ouça "The Socalist" e "Blood Walkaway", os melhores exemplos do som poderoso e agressivo do Climatic Terra.

 

 

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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