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De pai para filho, Devachan resgata 30 anos de rock no interior de SP

Combate Rock

19/05/2014 07h00

Marcelo Moreira

Uma banda iniciante decide fazer som pesado no final dos anos 70 e início dos anos 80. Moleques sonhadores, estavam fazendo parte do grupo de pioneiros do heavy metal no Brasil, mas só que ninguém soube disso, já que estavam no isolado interior paulista. Como muitos e muitos desses pioneiros, ficaram pelo caminho, ainda que tenham criado músicas próprias e acalentassem o sonho de ao menos agravar algumas.

O pioneirismo no interior paulista cobrou o seu preço, mas o sonho virou realidade 30 anos depois, quando dois adolescentes, filhos de um baixista fascinado por classic rock, assumem a tarefa de dar vida às composições do pai 30 anos depois. E eis que o Devachan começa a sai de Iperó, pequena cidade perto de Sorocaba, para tentar o que o pai dos músicos iniciantes não conseguiu: divulgar um rock moderno com cara de anos 70 e 80, feito em português.

Daniel Dias, hoje empresário, ouve rock todos os dias, o tempo todo. O sonho de ver sua banda ao lado de grandes nomes como Centúrias, Harppia, Dorsal Atlântica e Stress ficou adormecido, mas nunca enterrado. Criou bem os meninos Gabriel e Leandro, que mergulharam de cabeça no heavy metal desde a infância, ouvindo tudo o que fosse possível na imensa discoteca do pai: Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, os adorados Black Sabbath e Deep Purple, Iron Maiden, Metallica, Judas Priest e muito mais.

A paixão dos dois moleques era tanta que deixou Dias ressabiado: sabia o que viria pela frente e a "devastação" que tal vírus provocaria nas mentes insanas e fanáticas dos garotos. Estava orgulhoso, mas receoso. Trinta anos depois, as dificuldades de fazer e viver de rock são as mesmas, senão maiores, em época de downloads ilegais e de desprezo pela música como arte. Fez a sua parte, alertou sobre os riscos de decepção e de eventuais horas desperdiçadas em busca de um objetivo sempre distante.

Para sua sorte, e a dos meninos, foi ignorado. Pior: acabou sendo intimado a resgatar as músicas antigas, lapidá-las e executá-las, tanto ao vivo como em estúdio. Meio relutante, mas cada vez mais orgulhoso, aceitou o desafio, até que recebeu outra intimação: ou ele se tornaria o baixista e líder do Devachan, ou não haveria banda.

Foi demais para o "Tiozinho", como é chamado pela molecada: não seria justamente ele a peça que iria emperrar a existência da banda dos filhos, que fizeram questão de homenagear o pai. E o Devachan, com sua história singular, começa a colher, devagarinho os frutos de um "reinício" de carreira. No mercado internacional, talvez só haja paralelo com o norte-americano Hatriot, criado pelo vocalista Steve "Zetro" Souza (ex-Exodus) e seus dois filhos.

"A sensação de tocar com meu pai é indescritível. Mais do que um tributo a ele e às músicas que ele criou, é uma homenagem à perseverança de um músico que não conquistou o que almejava 30 anos atrás, mas que talvez tenha tido um prazer maior ainda, de ver os dois filhos seguindo o seu trabalho", comemora Leandro Dias, o guitarrista.

O irmão Gabriel, vocalista, conta que foi muito fácil trabaohar com o pai, o mentor e principal compositor, até o momento, do Devachan. "Foi mais complicado convencê-lo a integrar a bada, mas não muito (risos). Ele sempre teve vontade de voltar a tocar e a oportunidade surgiu. Somos uma banda, como outra qualquer, mas com o privilégio ter o nosso pai ao nosso lado."

"Andarilho" é o EP com seis músicas recém-lançado pelo Devachan (morada dos deuses, em sânscrito). Todas fazem parte do material que criado lá no comecinho dos anos 80. De forma ainda bem underground, o EP mostra uma banda em evolução, com músicas interessantes como a faixa-título, "Mente em Sonhos" e "Poetas". são todas pesadas, e com riffs de guitarra criativos, embora não consigam escapar do fato de soarem um pouco datadas – talvez o "Tiozinho" ainda esteja fincado com os dois pés ainda no mundo dominado pela NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal) e pelo Harppia e Centúrias dos primórdios.

No entanto, apesar da produção não ser a ideal, o Devachan demonstra potencial para oferecer algo que seja ao menos diferente do que temos hoje no rock pesado em português. Não vai ser fácil fazer um trabalho autoral em um mercado restrito em que têm espaço cativo bandas muito boas como Baranga, Carro Bomba, Matanza, os renascidos Centúrias, Metalmorphose e Stress, entre muitos outros.

Gabriel Dias reconhece que o som do Devachan ainda está totalmente impregnado de safra oitentista, tanto nas letras como nas melodias, por mais que os arranjos modernos tenham sido aplicados. "Não dixa de ser uma característica nossa, mas creio que nosso primeiro álbum, que está sendo composto e gravado, poderá em grande parte resolver estas questões. Ainda não conseguimos soar tão pesados como gostaríamos em estúdio, ainda estamos procurando nossos timbres, mas sem dúvida os acharemos e traremos algo mais moderno e pesado."

"Andarilho" foi gravado no estúdio Ponto Sonnoro, em Sorocaba, com produção de Júnior Jacques e Rodrigo Ricardo. Completam a formação o baterista Bruno Caresia e o tecladista Michael Santos, responsável por dar um clima "Dream Theater" em quase todas as músicas.

Ouça aqui a entrevista que os integrantes do Devachan concederam ao Programa Combate Rock. Clique no player para ouvir

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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