Topo

Oasis 20 anos: o brit pop enterra o grunge e ganha de goleada

Marcelo Moreira

25/04/2014 06h54

Marcelo Moreira

A melodia enterrou a melancolia e a barulheira de inspiração punk. Assim um jornalista britânico saudava no jornal New Musical Express o que se convencionou chamar de ressurgimento do brit pop, uma nova onda de bandas inglesas que surgia com inspiração nos anos 60 e 70 para revitalizar o modorrento pop da época, ainda dominado pela música descartável e pelas cinzas do grunge.

O brit pop acabou por enterrar de forma magistral, embora no começo pouca gente apostasse em um bando de maloqueiros de Manchester e em um amontoado de dândis londrinos aspirantes a David Bowie. Só que Oasis e Blur fizeram tudo direitinho e se transformaram nos maiores nomes do rock inglês noventista, estabelecendo uma rivalidade que ultrapassou os palcos e sepultando de vez o caquético e despedaçado som de Seattle.

Vinte anos depois do primeiro álbum, "Definitely Maybe", o Oasis perdeu um pouco do brilho. Fora do ar desde 2009, deixou como legado uma necessária volta à melodia e às canções, substituindo os "conceitos" e os "movimentos" por algo mais palatável, mais pop. Saem a ideologia (ou suposta ideologia) e a estética indie (ou pseudo-indie), entram o entretenimento e jovialidade, ainda que o estilo "shoegaze" comportasse uma certa melancolia pueril.

Blur em meados dos anos 90 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O lançamento da estreia do Oasis é considerado o ponto de partida do brit pop, ao lado do insinuante, mas não tão redondo "Parklife", do Blur. Esta, aliás, já tinha dois álbuns nas costas e ainda buscava a textura exata para ultrapassar os limites do underground, embora já fosse bem conceituada em Londres.

Beatlemaníaco até a medula, o Oasis teve a sabedoria de adicionar pitadas de rock garageiro seu som meticuloso e ligeiramente estreito, o que deu uma cara de novidade ao "movimento" que fisgava os novos ouvintes britânicos. Músicas fáceis, ganchudas, pop ao extremo, com a sujeira necessária dos rock sessentista ingênuo e básico. Uma fórmula perfeita e inspirada, que atacou na hora certa, no lugar certo.

Mais classudo e sofisticado, o Blur bebeu também na fonte mágica dos anos 60, mas manteve o DNA eminentemente pop, digno das melhores coisas produzidas nos anos 70, como Roxy Music e David Bowie, por exemplo. Embora menos dinâmico e espontâneo que os rivais de Manchester, logo o Blur se transformou na cara do pop por excelência da Inglaterra.

O mundo merecia algo mais e melhor? Com certeza, mas o brit pop veio a calhar para soterra de vez a arrogância despojada e inóspita do grunge, que agonizava após a morte de Kurt Cobain e o fim do Nirvana. Canções simples, refrões fáceis e assobiáveis, era tudo o que os ouvintes queriam em meados da década de 90.

O fôlego das duas bandas e dos vários seguidores/replicantes até que durou bastante – mais do que deveria até, diante da falta de inspiração que acometeu o "gênero" logo no ano 2000. Mas plantaram as sementes de uma cena bastante consistente e fervilhante, que conseguiu bem a contento se tornar uma alternativa aos grandes nomes dos anos 80 ainda na ativa, como Tears for Fears, The Cure, Simply Red e outros.

Alguns grupos do final dos anos 90 e do novo século adquiriram personalidade própria, como o bom Keane, o interessante Manic Street Preachers e o Radiohead; outros buscaram um caminho diferente, mas caíram na mesmice, como Coldplay, Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, Travis, Kaiser Chiefs e Libertines. E teve gente ainda que mirou o U2, mas com doses grandes de presunção e prepotência, com resultados surpreendentes, como o Muse.

O novo brit pop, ressuscitado com Oasis e Blur, descontadas a empáfia e a insolência – bem como o ego gigante -, era o desfecho necessário e previsível para uma época de trevas e dominada por poucas bandas boas e relevantes no pop rock, que foi a primeira metade dos anos 90.

Oasis em Mancxhester, antes do estouro, em 1994 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains foram os poucos sobreviventes que, com sabedoria, deixaram o grunge para trás para fazer frente ao novo. Juntos ao Foo Fighters, provavelmente a melhor coisa surgida nos Estados Unidos após o grunge, conseguiram ombrear, ainda que de longe, os grandes nomes do novo brit pop e aos fenômenos do intragável new metal e seu meio recheado de bandas ruins e repetitivas.

O new metal morreu, as bandas restantes de Seattle acabaram e voltaram (menos o Pearl Jam) e o brit pop continuou, com pelo menos mais duas levas de bandas emergentes, ainda que de qualidade questionável.

Esqueça as fragilidades musicais dos patronos (Oasis e Blur) e as popices repetitivas e nem um pouco inspiradas dos clones e seguidores: fracos e sem ao menos as centelhas da criatividade e da genialidade do classic rock e do heavy metal, mesmo assim os grupos do brit pop noventista e do novo século foram fundamentais para manter a roda girando e o motor funcionando depois da derrocada do grunge, que deixou a terra arrasada – e justamente em um momento em que a indústria musical já dava sinais de falência. Esse é o maior (único?) mérito do Oasis, Blur e seguidores.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Oasis 20 anos: o brit pop enterra o grunge e ganha de goleada - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Mais Posts