Topo

Nervosa mostra fôlego e competência no palco e no estúdio

Combate Rock

03/04/2014 06h57

Marcelo Moreira

Três meninas bonitas, que fazem um esforço danado para parecerem más. enchem-se de tatuagens roqueiras e "from hell" e resolvem fazer um barulho dos diabos, deixando estupefatos – e irritados – vários meninos que posam de extremos e violentos, mas que são incapazes de produzir a mesma violência sonora. E eis que uma das meninas más, um verdadeiro monstrinho de eficiência e competência na bateria thrash metal, começa a descrever sem cerimônias uma receita de um estrogonofe de carne com noz moscada, enquanto a mais irada resolve tirar sarro de um jornalista como se estivesse na sala de aula na sexta série.

O ambiente que envolve o trio feminino de thrash metal Nervosa, a sensação do metal nacional de 2013, é de astral muito alto e espontâneo. Nem parece que as meninas bonitas fazem um som brutal e extremo, recheado de violência lírica e sonora, bem ao gosto do demônio. E o clima só tem a melhorar, com o lançamento de "Victim of Yourself", o primeiro álbum, já com o suporte de duas gravadoras importantes, a Napalm Records, da Áustria, e a Die Hard Records, no Brasil.

Banda emergente, ex-independente, a Nervosa viu as coisas ocorrerem, muito rápido em menos de um ano.  "Victim of Yourself" é poderoso e furioso, com produção correta de Heros Trench e Marcello Pompeu, ambos da banda Korzus e proprietários do estúdio Mr. Som, além da preciosa ajuda na produção do som de bateria de Amílcar Christófaro, baterista do ótimo Torture Squad. O resultado é de alta qualidade.

O problema principal das bandas underground de thrash metal é conseguir levar ao estúdio a fúria demolidora dos palcos. As meninas do Nervosa conseguiram ultrapassar essa barreira com louvor, pois os ingredientes estão todos lá: baixo gordo na cara, em velocidade alucinante, bateria marcante e pesada e guitarras cortantes e certeiras. É porrada do começo ao fim, começando com a ótima "Twisted Values", passando pela fúria insana de "Justice Be Done" e "Wake Up and Fight" até chegar na desoladora "Nasty Injury", no melhor estilo alemão de thrash reto e sem concessões.

"Victim of Yourself" não dá descanso e a pancadaria segue inclemente com as ótimas "Envious" e "Morbid Courage", desaguando na boa sequência mas técnica de "Death!", "Into the Moshpit", "Deep Misery" e a faixa-título, para encerrar na hardcore "Urânio em Nós", em português e mais antiga.

Na audição para a imprensa, as meninas não conseguiram conter a empolgação. No dia seguinte seria a o show de lançamento do CD, com as altas expectativas que o álbum criou. "A gente é 'nervosa' em qualquer situação, e amanhã (dia do show) seremos mais do que nunca. Só nós sabemos o quanto ralamos e como tivemos que superar os problemas para gravar e lançar nosso CD. Nada vem por acaso", diz Prika Amaral, a guitarrista loura de rosto delicado e mão pesada.

As meninas da banda Nervosa apresentam o seu primeiro álbum (FOTO: MARCELO MOREIRA)

A inquieta e furiosa Fernanda Lira, baixista e vocalista, com seu rosto moreno de feições indígenas, desdenha da desconfiança que muitos fãs de metal depositam em bandas femininas de metal extremo. "Angela Gossow, ex-vocal do Arch Enemy, quebrou qualquer suposta barreira que pudesse existir. Tivemos dificuldades que todo mundo teve, e fomos apoiadas por gente que realmente gostou do nosso trabalho, sejam os rostos bonitos ou feios. A Napalm Records, com o nome que tem na Europa, não tem tempo nem condições para ficar lançando CD de bandas só porque as meninas supostamente são bonitas. "

No palco do Hangar 110, na zona norte de São Paulo, a Nervosa mostrou competência e energia, mesmo com alguns probleminhas de som. Coisa pouca para uma banda desenvolta e entrosada, que é consegue ser violenta no palco sem dispersões. Um som porrada, reto e direto, sem concessões, justificando os elogios generalizados. Uma banda nova, mas com bastante experiência, a julgar pela segurança com que dominaram o ambiente.

Já quem aposte que a Nervosa poderá se tornar aquilo que o Torture Squad quase conseguiu depois de vencer a batalha de bandas do Wacken Open Air. Ainda não é para tanto, mas as perspectiva são excelentes.

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Nervosa mostra fôlego e competência no palco e no estúdio - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Mais Posts