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Combate Rock disseca o álbum de estreia do Kiss

Combate Rock

05/03/2014 07h01

Roberto Capisano  – especial para o Combate Rock*

Fevereiro de 1974. Era o início da discografia de uma das bandas mais importantes de todos os tempos. Há 40 anos o Kiss lançava seu primeiro disco, batizado com o próprio nome do grupo. O álbum tem excelentes músicas, algumas das melhores do Kiss. Se naquela época os críticos parassem para ouvir o trabalho com atenção em vez de olhar o grupo com desconfiança e estranheza por causa do visual, perceberiam que estavam diante de um gigante do rock. Mas o tempo tratou de fazer  justiça e há muito o Kiss não precisa provar seu valor para ninguém.

Um disco que abre com "Strutter" e emenda uma sequência com Nothin' to Lose, Firehouse e Cold Gin (riff sensacional) já chega metendo o pé na porta. "Deuce" é outra faixa – uma das melhores da história do grupo e abertura de incontáveis shows – que mostra que aqueles quatro novaiorquinos não estavam a passeio. "Let Me Know", "Love Theme From Kiss", "100.000 Years" pavimentam bem o caminho para o fechamento em grande estilo com Black Diamond.

"Kissin' Time" é um caso à parte. A canção não está na gravação original. Foi incluída nas prensagens posteriores do disco. Ela foi usada para divulgar a banda sendo tema de um concurso do beijo mais longo promovido por rádios de todos os Estados Unidos. Neil Bogart, dono da Casablanca, a gravadora do Kiss, queria colocar uma música do grupo nas 40 mais tocadas do rádio e se valeu dessa estratégia.

A ideia de tocar material que não fosse de autoria deles não agradou nem um pouco aos integrantes do Kiss. Porém, aceitaram regravar a música de Bob Rydell já que isso representaria uma possibilidade a mais de aparecer. Bogart era um executivo de gravadora acostumado a emplacar hits nas rádios e queria ver o Kiss nesse contexto. Entretanto, a banda nunca teve essa vocação. O Kiss sempre foi uma banda do que se chama Album Oriented Rock (AOR), ou seja, cujo disco deve ser trabalhado como um todo e não com foco em singles. Além do mais, Bogart havia prometido aos integrantes da banda que a música seria apenas para o concurso, mas acabou incluindo-a nas edições seguintes do álbum sem avisar os músicos.

Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss têm um carinho todo especial pelo disco, não apenas porque foi o primeiro, mas porque tem composições muito boas. São músicas com riffs fortes e melodias marcantes. Era passo inicial em direção ao mundo em que desejavam estar. O estrelato ainda demoraria. Seria preciso lançar "Hotter Than Hell", "Dressed To Kill" e o duplo ao vivo "Alive!" para que o Kiss se tornasse uma potência. Mas eles se sentiam no paraíso."Todo mundo estava trabalhando das nove da manhã às cinco da tarde e nós estávamos gravando um álbum? A sensação era de que vivíamos um sonho", afirmou Paul Stanley à época.

Mas apesar de todo o entusiasmo que envolveu a realização do disco – Peter diz que colocou coração e alma naquele álbum como não fez em nenhum outro – o resultado não agradou tanto assim à própria banda. A intenção dos produtores Kenny Kerner e Richie Wise era captar a espontaneidade do grupo ao vivo, mas Paul admite que a sonoridade ficou aquém do esperado.

Gene tem a mesma opinião e se confessa desapontado com resultado do trabalho. Para Paul, apesar da qualidade das composições, o som do disco ficou abaixo do de outras bandas à época. Segundo o guitarrista e vocalista, esse problema viria a se repetir com outras gravações do Kiss. Na visão dele, os registros de estúdio nunca conseguiram fazer jus à qualidade das músicas.

O fato é que Kiss é um álbum clássico. Para os fãs, é o início de uma trajetória de quatro décadas de músicas maravilhosas e shows incríveis de uma banda que não tem paralelo. Os que ainda conseguem criticar o Kiss, rendam-se. Sem esse grupo, muito provavelmente uma apresentação ao vivo não seria o que é hoje. Gene Simmons e Paul Stanley tiveram a visão de que o rock é muito mais do que subir no palco e apenas tocar. Um show de rock deve ser um espetáculo completo, uma experiência sonora, visual e emocional. Eles levaram esse conceito ao mais alto grau. O Kiss é um marco no rock and roll. Por isso, os 40 anos de seu primeiro disco merecem muito ser comemorados.

* Roberto Capisano é jornalista do Sebrae-SP e foi membro fundador do Combate Rock no extinto Jornal da Tarde.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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