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Em concerto magistral, Transatlantic resgata o prazer pelo rock progressivo

Combate Rock

14/02/2014 16h57

Marcelo Moreira

O nome da banda não ajuda muito – e nem deveria ser o nome, pois o original eram as iniciais dos integrantes -, mas isso jamais incomodou os fãs e apreciadores de rock progressivo. Yes e Gentle Giant também não são nomes muito apropriados para bandas de rock, o que só revela a inutilidade da discussão. O fato é que o Carioca Club se tornou pequeno para a grande dimensão do primeiro show do Transatlantic no Brasil. Um nome inadequado de banda, mas adequado ao tamanho da qualidade do som e da apresentação do quarteto internacional.

É difícil um projeto com o baterista Mike Portnoy (ex-Dream Theater) dar errado. No entanto, o Transatlantic deu muito certo, ainda que tenha ficado mais de oito anos inativo por conta dos incontáveis compromissos de seus músicos. O supergrupo de rock progressivo mostrou uma categoria invejável para os mais de 2 mil espectadores paulistas que estiveram nesta quinta-feira na casa noturna da zona oeste – e que foram devidamente incomodados com a nada delicada "sugestão" para deixassem rapidamente o local após o show, já que haveria um evento de "pagode"…

É inegável que Portnoy foi o grande chamariz para o público, que ainda o conhece mais pelos 25 anos de Dream Theater. Foi assim também no ano passado no show paulistano do The Winery Dogs, outra de suas criações. O que surpreendeu é que os jovens (a maioria do público) que amam o baterista e sua ex-banda deram um show de entusiasmo e fanatismo cantando verso a verso as letras das músicas quilométricas – e maravilhosas. Ninguém se incomodou com os quase 30 minutos de "Kaleidoscope", faixa-título do novo trabalho, no final do show, ou com as longas "My New World" e "Into the Blue", as duas primeiras que consumiram mais de 40 minutos.

Na verdade, houve até uma certa decepção, já que o show durou "apenas" duas horas e 40 minutos, quando o normal para o Transatlantic seria ficar mais de três horas no palco. A banda teve de encurtar o show pois foi avisada com antecedência de que haveria o costumeiro evento semanal de pagode. O que foi uma pena, pois os músicos realmente pareciam estar se divertindo bastante e entusiasmados com a grande resposta do público. O vocalista, tecladista e guitarrista norte-americano Neal Morse (ex-Spock's Beard) parecia não acreditar quando o público cantou muito alto a belíssima "Shine", do novo álbum, lançado há menos de um mês.

O guitarrista sueco Roine Stolt (líder e vocalista da banda Flower Kings), normalmente muito contido e concentrado, sorriu o tempo todo, entre solos certeiros e intrincados e riffs precisos. Até mesmo brincou com Portnoy e o baixista escocês Pete Trewavas (Marillion) entre as longas passagens instrumentais. Aliás, tamanha descontração foi o que Portnoy demonstrou durante toda a apresentação, mesmo dizendo em um certo momento que estava cansado das mais de duas horas de show. Visivelmente ele estava "brincando", de tão satisfeito com o que via no palco e no público.

E foi o maior hit da banda que demonstrou o sucesso imenso da passagem do Transatlantic: a gospel "We All Need Some Light", do primeiro álbum, uma excelente balada progressiva, explicitou o talento do multiinstrumentista Morse, que mostrou carisma e elegância na condução do coro do público cantando verso a verso, nota a nota. Mesmo no medley de faixas do álbum "Whirlwind" ele encontrou espaço para brilhar com seu teclado em meio às viagens de Stolt e à "quebradeira" alucinada de Portnoy.

Como o show foi mais curto do que o normal, não houve tempo para as tão comentadas e aguardadas versões de clássicos de rock (os covers). Mas todas as influências estavam lá, no melhor rock progressivo que é feito na atualidade: ecos de Yes, Genesis, Pink Floyd, King Crimson, Jethro Tull, do trio Emerson, Lake & Palmer, do Gentle Giant e mesmo do venerado Dream Theater.

O Transatlantic celebrou a música inteligente e de qualidade, ganhando a devoção eterna de um público ávido por virtuosismo e versatilidade. Não há banda melhor no mundo na atualidade capaz de oferecer tal coisa, nem mesmo o venerado Dream Theater.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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